segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Entrevista para a Editora Petit

ENTREVISTA

Euripedes Kühl, nas areias do  Saara


Responsável pelo mais recente lançamento da Petit Editora, Saara, palco de redenção, o médium Eurípedes Kühl nasceu no interior do Estado de São Paulo, na cidade de Igarapava. É militar do Exército, hoje na reserva. Dedica-se a estudos e pesquisas espíritas, desenvolvendo ensaios e romances, procurando divulgar os ensinamentos de Allan Kardec, aplicados ao cotidiano de nossa vida, sempre em busca de temas atuais e polêmicos.
Nesta entrevista,  Eurípedes fala do Espírito Claudinei, das visões que o envolveram durante a psicografia de seu último livro, de suas percepções mediúnicas e da alegria de servir  ao próximo divulgando a Doutrina Espírita que vivencia, desde a infância.

1 – Quando sentiu suas primeiras manifestações mediúnicas?
— Por volta de 1971/1972.

2 – Em que época iniciou seus estudos espíritas?
— Já aos seis anos comecei a freqüentar as aulas de evangelização infantil, permanecendo como aluno até a juventude, tendo ingressado na “mocidade espírita” aos treze anos.

3 – Como era “ser espírita” na sua juventude, vivida no interior de São Paulo? Você foi discriminado em algum momento?
Difícil. Cursando o então primário, durante a aula semanal de religião — leia-se: de Catolicismo, pois ministrada por um padre —, a professora me mandava sair e eu ia para o pátio do Grupo Escolar, onde ficava sozinho, até acabar a dita aula. Isso porque, ao me matricular, minha família declarou “espírita” à pergunta do formulário, sobre o credo religioso. Daí, fui proibido de assistir “aulas de religião” da 2ª à 4ª série... (Na 1ª série isso não aconteceu porque a cursei na Escola Eurípedes Barsanulfo!)

4 – Espírita desde a infância, qual foi sua motivação para ingressar na carreira militar? No Exercito, encontrou resistência ou oposição às suas convicções?
— Aos dezoito anos, tendo que prestar o serviço militar, optei pelo pára-quedismo militar, sob a motivação de saltar de pára-quedas.. No Exército, fui promovido de soldado a capitão, ao longo de trinta e um anos de efetivo serviço castrense, durante os quais tive a felicidade de não vivenciar nenhum conflito, nacional ou internacional. Assim, não encontrei oposição ou conflito de ordem moral. Ao contrário, tive a feliz oportunidade de, como tenente, participar de um Núcleo da Cruzada dos Militares Espíritas, cuja destinação fundamental era e é divulgar aos colegas de farda que o queiram, os ensinos de Jesus, com a ótica espírita, cristã, essencialmente. Fui muito feliz nessa atividade.

5 – Quais são suas tarefas e funções no centro espírita?
— Coordenar o “Curso de Médiuns”, realizar psicografia, ministrar passes e cursos. Realizo também palestras doutrinárias em vários Centros Espíritas.

6 – As reuniões de psicografia de suas obras literárias são públicas? Qual a periodicidade em que se realizam?
— São reservadas, em pleno recolhimento, no Centro Espírita. Semanalmente, por duas horas. Acompanha-me minha esposa.

7 – Quem é o dirigente espiritual dessas sessões? É o seu mentor?
— Após leitura evangélica, o autor espiritual da obra em curso.

8 – Quais são suas recomendações para quem  está despertando agora para as percepções mediúnicas?
— Estudar o “O Livro dos Médiuns”, especialmente e com muita atenção os Cap XIII, XV, XVI e XVII, onde Kardec trata, respectivamente, com detalhes e especificidade, dos temas “psicografia”, “médiuns escreventes”, “médiuns especiais” e “formação dos médiuns”.

9 – Gostaríamos de ouvi-lo sobre a afirmação de que “todos nós somos médiuns”. Muitos, desconhecendo o contexto da questão levam essa afirmação ao exagero, dando margem a interpretações distorcidas.
— Foi Kardec, ainda em “O Livro dos Médiuns”, Cap XVI, item 159, que disse que “todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. (...) Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns”.
Mediunidade é intercâmbio espiritual/material. Ao emitir um pensamento, quase sempre o ser liga-se a Espíritos, encarnados, e principalmente desencarnados. Por exemplo, tanto o bom pensamento (a prece, uma lembrança agradável, etc), quanto o mau (desejo de vingança, idéias criminosas, etc), necessariamente encontrarão ressonância em outros seres, do plano material e/ou do plano espiritual, daí advindo citado intercâmbio.
O exercício mediúnico específico (psicofonia, psicografia, psicometria, vidência, etc) pressupõe a eclosão de sintomas próprios, indisfarçáveis e inexoráveis, que no tempo certo surgem na vida do médium. Este, adequando tal evento (educação da mediunidade, por estudos e prática mediúnica a benefício do próximo), encontrará a paz — pelo menos, o possível de paz, neste planeta.

10 – Seu trabalho de pesquisa é um referencial muito importante para aqueles que desejam conhecer em síntese determinados temas. Essa tarefa foi inspirada pelos espíritos? Quando iniciou esses estudos?
— Geralmente, um determinado assunto me invade a mente, de inopino, ali permanecendo constante. Então, começo a organizar um arquivo pessoal de notas científicas sobre esse assunto. A seguir, vou às obras da Codificação e às várias fontes bibliográficas espíritas, dali extraindo referenciais espiritualistas, máxime espíritas. Não escrevo uma única palavra. Apenas leio e memorizo. Passadas mais ou menos duas ou três semanas, todo o material coletado se transforma em um livro, que escrevo de um só fôlego, nele expondo o pensamento dos diversos pensadores, mas registrando meu pensamento, minhas reflexões, minhas análises. Nesses momentos, capto sempre um grande amparo, ou “supervisão”, de algum Espírito amigo, irradiando apoio.

11 – Seu livro mais recente – o romance Saara, palco de redenção – é uma investida providencial num momento em que as atenções mundiais estão voltadas para aquela região. Certos de que o acaso não existe, é possível revelar os objetivos dessa publicação?
— O entrechoque cultural, religioso e financeiro da Europa com a África (o Saara, no caso), trazendo à nossa reflexão o fato de que o planeta Terra é uma grande e abençoada casa/escola/oficina, de incontáveis “lares, “graus escolares” e “oportunidades de labor”, respectivamente. Em todos, ou num ou outro deles, teremos que morar, aprender e trabalhar, sempre que necessário à nossa evolução. As convulsões que a guerra anunciada provocar, não só naquela região, mas em todo o planeta, põe à mostra o quanto o homem ainda tem que evoluir. Em contrapartida, a quantidade de protestos contra essa guerra, são um indicador seguro de que estamos melhorando. Graças a Deus!

12 – O Espírito Claudinei – o autor de Saara, palco de redenção – envolve o leitor, demonstrando dominar as técnicas da narrativa. Qual é o trabalho de Claudinei na espiritualidade? Ele faz parte da fraternidade dos Beduínos do Bem? Qual é sua aparência espiritual? Poderia descrevê-lo?
— Claudinei é diretor de um “posto de triagem” intermediário entre a crosta e o plano espiritual, destinado a recolher, hospedar temporariamente e logo encaminhar a colônias espirituais adequadas, Espíritos desencarnados em condições traumáticas. Esse “posto de triagem” localiza-se no sul da França, na região de Marselha. Contudo, por motivos absolutamente desconhecidos para mim, Claudinei tem sido visto por médiuns desta cidade (Ribeirão Preto). Vi-o, poucas vezes: aparenta ter de 40 a 45 anos de idade, tem compleição robusta, altura superior a dois metros, traja-se de avental branco. Sua silhueta mostra-se com contornos luminosos. Bondade e mansidão irradiam de pronto de sua expressão. Minha empatia com esse amigo foi instantânea.

13 – Um dos momentos mais comoventes do livro é a conversão dos espíritos sofredores diante da ação magnética de Samir. Gostaríamos de ouvir seu comentário sobre esse episódio.
— Sim, gosto muito desse trecho da narração. Remete-nos ela à questão n° 1.004 de “O Livro dos Espíritos”, quando São Luis (Luis IX, 1214 ou 1215 – 1270, rei da França,) esclarece que quando o sofredor se melhora, os sofrimentos diminuem e mudam de natureza. No caso em foco, a catalisação dessa melhora pela ação de um protetor (Samir) é algo que nos induz à auto-reforma para, quando chegar nossa hora, sermos merecedores de tamanha graça, que exprime o amor de Deus e a caridade de Jesus, para com os réprobos do Evangelho, que afinal somos todos nós, em maior ou menor grau.

14 – Em entrevista anterior, o amigo referiu-se a “imagens mentais que se processam com velocidade” durante as sessões de psicografia, exigindo suas rápidas anotações. Os textos são ditados ou chegam até sua mente “em blocos”? É possível explicar melhor esse processo mediúnico?
— Com olhos abertos ou fechados (não preciso de luminosidade) vejo os fatos por visão mental, em processo dinâmico, ininterrupto, exigindo presteza na construção fraseológica, que é sempre minha. De nada adiantava eu indiretamente interferir (como fazia de início...) imaginando “sugestões inconscientes” sobre os acontecimentos seguintes, porque o processo invariável tem sido o de que o que vou “vendo” nada tem a ver com o que, sem querer, “roteirizo”. Hoje, com grande esforço, consegui eliminar essa intervenção.

15 – Das imagens que vislumbrou durante a psicografia de Saara, palco de redenção, qual foi a que mais o impressionou?
— A cena do material fluídico extraído de um camelo, de inimagináveis propriedades curativas, para aplicação  específica em pessoas feridas que vivem no deserto. Não há como não extrair a ilação de que Deus a tudo provê, colocando todos os seres em local adequado.

16 – Poderia descrever para o leitor o grande amor de Teqak, a jovem Claire?
— Permita-me falar dos dois. Ele: médico, médium de expressiva capacidade psicométrica, sempre bem aplicada; ela, professora, semblante de grande meiguice, denotando grande auto-controle. Apaixonados e integrados na missionária tarefa a desempenhar junto aos habitantes da região do Saara, seu amor pode ser enquadrado nesses raros casos de feliz união de dois seres cônscios de suas tarefas missionárias. Formam na aparência, como se diz, “um belo casal”. (Li, alhures, mensagem do Espírito Emmanuel, opinando que das profissões terrenas, duas das mais abençoadas são exatamente a de médico e a de professor).

17 – Apesar das pesquisas científicas de Ernesto Bozzano, tão conclusivas e bem expressas em Enigmas da Psicometria, essa percepção mediúnica ainda é cercada de muitas interrogações. Essa mediunidade faz parte de suas qualificações pessoais?
— Por duas vezes, estando em locais diferentes, tive a premonição de fatos gravosos que aconteceriam ali e que vieram mesmo a acontecer. Seria essa a psicometria ligada ao futuro, que Bozzano cita na referida obra (no item “Conclusões”, à p. 106 da 3ª Ed., 1991, FEB, RJ/RJ). Depois dessas duas experiências, nenhuma outra similar.

18 – A visão aérea do Deserto do Saara é impressionante. Qual é a sensação de observar-se espiritualmente essa região?
— Se o Saara impressiona pela sua vastidão desértica (pleonasmo), de muito maior impacto é a observação de sua densidade demográfica espiritual: por ali perambulam, transitam e permanecem Espíritos desencarnados (e são tantos...), sofrendo a inclemência climática: calor exagerado de dia e frio intenso à noite. Isso porque seus perispíritos, ainda grosseiros, face sua pouca evolução espiritual, registram tais sensações, quase tanto quanto nós, encarnados.

19 – Os oásis são guardados por espíritos benfeitores que se encarregam da sua preservação, inspirando os encarnados a respeitá-los?
— Oásis são autênticos e abençoados prontos-socorros, a encarnados e desencarnados. Sua guarda, manutenção e atração (indução do seu rumo a perdidos) estão a cargo de guardiões espirituais, designados como “beduínos do bem”.

20 – O Espírito Claudinei não menciona o nome das nações envolvidas na trama de Saara, palco de redenção. Essa omissão é no sentido de manter-se no anonimato um acontecimento verídico e ainda recente?
— Exatamente.
21 – Além da eminência do enfrentamento de algumas nações, a Terra vive um momento atípico, onde as mudanças climáticas e o comprometimento do meio-ambiente – devastado impiedosamente – comprometem a própria sobrevivência da humanidade. O que os mentores espirituais dizem a esse respeito? Estamos às portas do Apocalipse de João?
— Economizei espaço na resposta anterior para gastar nesta, que é escaldante...
No livro “Fragmentos da Historia – pela ótica espírita”, que escrevi e a Petit editou, comentei o Apocalipse de João em capítulo inteiro e às p. 121/122 registrei mensagens de mentores espirituais:
                        “5. Futuro do mundo – Nosso Futuro...
            (...)
            1. “Deus procede, neste momento, ao censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente, a fim de que não usurpem o salário dos servidores animosos, pois aos que não recuarem diante de suas tarefas é que Ele vai confiar os postos mais difíceis na grande obra da regeneração”.
            (O Espírito da Verdade, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap XX, item 5).
            2. “O século que passa efetuará a divisão das ovelhas do grande rebanho. Uma tempestade de amarguras varrerá toda a Terra... Depois da treva surgirá uma nova aurora. Luzes consoladoras envolverão todo o orbe regenerado no batismo do sofrimento... Não nos esqueçamos de Jesus, cuja misericórdia infinita, como sempre, será a claridade imortal da alvorada futura, feita de paz, de fraternidade e de redenção”.
            (Espírito Emmanuel, em A Caminho da Luz, Cap XXV, 1ª Ed., 1939, FEB, RJ/RJ).
            3. “Ele (este mundo, a Terra) há chegado a um dos seus períodos de transformação, em que, de orbe expiatório, mudar-se-á em planeta de regeneração, onde os homens serão ditosos, porque nele imperará a lei de Deus”.
            (Santo Agostinho, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap III, item 19).
            4. “Podemos adiantar ainda que, nos planos espirituais mais próximos da Terra, se organizam núcleos devotados ao bem e à verdade, sob a égide do Senhor, de maneira a preparar-se a mentalidade evangélica esperada para o milênio futuro depois da grande ceifa em que o orbe terá de renovar seus caracteres”.
            (Espírito Emmanuel, em O Reformador, Janeiro/1940, FEB).

22 – Gostaríamos de encerrar essa gratificante entrevista com uma mensagem do escritor Eurípedes Kühl aos nossos leitores.
— Em primeiro lugar, afirmo, de coração estremecido, que cada leitor é-me um Espírito a quem devo gratidão, posto que sem ele, não teria eu a feliz oportunidade do gratificante trabalho na literatura espírita.  E encerrando, pensando em Deus e em Jesus:
            A Terra é uma embarcação-escola há muito a navegar, no Mar da Evolução. No seu tombadilho  — o Espiritismo — , está o Brasil-moral, obediente ao Mestre, convidando e acolhendo quantos queiram ser navegantes.  Com Jesus no comando e timão desse grande barco que é o mundo, nos seus dois compartimentos — o material e o espiritual —, conjeturamos, com grande possibilidade de acerto, que o Brasil-físico, com o farol espírita aceso, será o porto seguro onde atracará a embarcação "Humanidade", levando imigrantes de boa vontade e ora rumando para um destino mais feliz, o da regeneração.

Ribeirão Preto/SP – Verão de 2003

Eurípedes Kühl

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