sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Artigo - Colônias espirituais


Colônias espirituais

   Na literatura espírita atual há citação de grande número de colônias espirituais e muitos perguntam se essas seriam as mesmas a que se referem outras religiões, de outras culturas, de todas as épocas, citando como exemplo as citações das religiões egressas da Grande Fraternidade Branca[1].
   Não se pode afirmar categoricamente que as colônias espirituais citadas na literatura espírita sejam as mesmas referidas em outras fontes.
   No entanto, nada objeta refletir e deduzir que sim: de alguma forma assemelham-se, em parte, como o fato de todas se localizarem nas esferas (degraus) espirituais, na psicosfera terrena, nas quais habitam espíritos bons e maus.
   As diferenças existentes decorrem da diversidade, não só da forma de expressão humana para registrar acontecimentos, forma essa quase sempre eivada de animismo, mas principalmente em razão da cultura dos diversos povos, ao longo da História. Além disso, as várias correntes do pensamento religioso preconizam diferentes fundamentos para o “depois” da morte, quase todas, via de regra, proclamando existência terrena única e "juízo final".
   Essa a grande diferença: a Doutrina dos Espíritos e não apenas ela[2], professam a reencarnação — vidas sucessivas —, como forma individual (por merecimento) de alcançar o progresso moral e a felicidade.
   As referências de colônias espirituais, nas religiões advindas da Grande Fraternidade Branca[3], segundo pesquisas que realizei na internet, salvo engano, tratam do assunto, pelas premissas, e a ótica filosófica, de cada uma.
   Exemplos de referências a colônias espirituais (também chamadas de "cidades espirituais", "moradas espirituais", etc)[4]:
- Os egípcios (por volta do ano 2.100 a.C.): consideravam que os mortos seriam julgados diante de Osíris (deus do mundo infernal e juiz dos mortos); daí, os bons iriam para locais venturosos e os maus para lugares tenebrosos, sem luz e sem alimentos, para sempre;
- Os persas (1.500 a.C.): proclamavam mais ou menos as mesmas condições dos egípcios, com a diferença que, no fim (?), até os maus se salvariam;
- Os gregos (500 a 400 a.C.): os deuses, no Olimpo; quanto aos demais, após a morte, haveria um julgamento presidido por Hades (um dos doze deuses do Olimpo, senhor das profundezas subterrâneas, os Infernos), quando então, os bons iriam para os Campos Elíseos, mansão dos bem-aventurados, e os ímpios, seriam atirados ao Tártaro (lugar de expiação). Sócrates e Platão filosofavam (intuíam) que as almas, após permanecerem por algum tempo no Hades, retornariam à vida terrena (pródromos da reencarnação...);
- Jesus: declarou sumariamente a existência de "muitas moradas na Casa do meu Pai";
- Dante Alighieri (1265-1321): consentaneamente com o pensamento da Idade Média, afirmou, na "Divina Comédia", que na Semana Santa de 1300 desdobrou-se espiritualmente e após atravessar os nove círculos do inferno, viu como é a vida no mundo do Além;
- Emmanuel Swedenborg (1688-1772), sueco de grande cultura, precursor do Espiritismo, narrou ter recebido revelações espirituais; numa delas descreveu a visão que teve do Mundo Espiritual, citando, dentre tantos detalhes, a existência de cidades, palácios, casas, livros, etc.
- Já Allan Kardec, de fato, foi econômico quanto a citações referentes a cidades espirituais. Porém à questão nº 86 de "O Livro dos Espíritos", os bons Espíritos deixaram cristalinamente informado que "(...) é incessante a correlação entre o mundo espírita (espiritual) e o mundo material", daí inferindo-se que no plano espiritual há cidades e tudo o mais que temos aqui... Sem pieguismo, por dedução, a ilação é que "lá" tem muito mais do que "aqui"...
   Depois, Kardec deixou pequenas notas sobre habitações espirituais:
- Na "Revista Espírita" de Agosto.1868: cidades na Espiritualidade, com comentários sobre habitações em Júpiter, com moradas e edifícios para várias finalidades;
- Em "O Céu e o Inferno", 2ª Parte, cap. II, registra o depoimento do Espírito da condessa Paula, dando conta das moradas aéreas, iluminadas por cores sublimes.
   Na Espiritualidade os espíritos que lá habitam são agrupados segundo:
- o grau individual de evolução moral;
- a sintonia: simpatias, objetivos, habilidades, tendências, hábitos, etc. 
- suas necessidades de aprendizado (evolução moral).
   Nenhuma dessas condições é excludente.
   Espíritos trevosos — infelizes, pois —, reunidos em falanges, constroem cidades no mundo espiritual, onde exercem tirania, subjugando incautos. Como exemplo, cito a obra "Libertação", do autor espiritual André Luiz, com psicografia de F.C.Xavier, nos cap. II e XIV, este, contendo impressionante descrição de uma “cidade espiritual estranha”, comandada por infortunado quanto poderoso governador: naquela cidade residem centenas de milhares de espíritos alienados e doentes.
   De se registrar: em todos os pontos infelizes, a caridade do Pai — Supremo Criador — sempre esteve, está e estará permanentemente presente!
   
   Construções no mundo espiritual, para o bem, ou para o mal, obedecem ao manejo da vontade e do pensamento do espírito (vide "O Livro dos Médiuns", cap. VIII e "A Gênese", cap. XIV, item 13).
   No livro "Nosso Lar", do autor espiritual André Luiz, com psicografia de F.C.Xavier (a obra espírita mais detalhada de uma cidade espiritual), consta que sua localização é sobre a cidade do Rio de Janeiro.
   Incontáveis obras espíritas mencionam a existência de colônias espirituais, muitas delas situadas próximas à Terra, e outras, distantes, nas altas esferas.
   São tantas as citações sobre essas colônias que se torna inviável quantificá-las.
   Numa comparação tosca: apenas no Brasil existem mais de cinco mil municípios, além de uma infinidade de pequenos povoados, muitos deles sem registro nos mapas. E no mundo todo?...
   Quanto à localização dessas incontáveis colônias espirituais, apenas por dedução, considerando as notícias vindas do Plano Maior, parece-me que, na maioria dos casos, a cada cidade terrena, há uma correspondente espiritual, situada logo acima da respectiva psicosfera. 
   Provas materiais da existência dessas cidades espirituais, evidentemente não existem.
   Já provas espirituais, são infinitas, com lastro na fé raciocinada, preconizada por Kardec. Algo assim como um ligeiro sofisma: sem jamais ter ido ao Japão, no entanto tenho certeza, absoluta, de que sua capital é Tóquio...


***

[1] Grande Fraternidade Branca: segundo as tradições teria surgido no Antigo Egito, vindo a popularizar-se no século XIX, graças à Teosofia,
[2] Religiões reencarnacionistas: Hinduísmo (Índia, 3.000 a.C.), Confucionismo, Jainismo, Seicho-No-Ie, etc.
[3] Pensadores surgidos no período entre 700 a.C. e 300 d.C., trazendo idéias de várias vidas: Confúcio e Lao-Tse na China; o Buda na Índia; Zoroastro na Pérsia, Pitágoras, Sócrates, Platão e Aristóteles na Grécia e Plotino e Amônio Saccas em Alexandria; além dos judeus que estudaram o judaísmo esotérico, ou Cabala.  (Deixei linkado, para eventuais pesquisas).
[4] Pequenas notas extraídas da obra "Colônias Espirituais", de Lúcia Loureiro, 1ª Ed.1995, Edit.Mnêmio Túlio, SP/SP.

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