EVOCAÇÃO DE ESPÍRITOS
(“O Livro dos Médiuns”
- cap. XXV, questões 203, 269 a 285)
Conceituação
Vê-se no dicionário que
“Evocação" = ato de evocar (chamar,
mandar vir, trazer à lembrança, reproduzir na imaginação; pop.: "evocar o passado",
"evocar espíritos", etc.).
A evocação de Espíritos
é uma constante na história, na teoria e na prática das religiões - todas as
religiões!
— Como o Espiritismo
trata desse assunto?
Na verdade, toda vez
que alguém pensa num Espírito, já o está evocando; isso coloca na condição de
evocadores todos os que oram. Porém, eis
o que nos diz o Espiritismo sobre as evocações de determinados Espíritos (Kardec
discorre com detalhes como, quando, por quem e
para quê devem ser evocados Espíritos. Em síntese, leciona o mestre lionês):
- evocações exigem
fé em Deus, apelo aos bons Espíritos e sintonia espiritual de todos os membros
do grupo;
- data, horário e
local, previamente fixados, são preferíveis, mas não indispensáveis;
- a vinda de
qualquer Espírito evocado obedece sempre à vontade de Deus, isto é, da lei
geral que rege o Universo;
- os Espíritos podem
se comunicar espontaneamente ou atendendo a um chamado, isto é, pela evocação;
em ambos os casos, prevalece a vontade deles;
- evocações bem
sucedidas exigem médiuns flexíveis, seguros, raros;
- evocações de
caráter individual (geralmente familiares ou amigos): as reuniões devem ser
compostas por pessoas afins;
- jamais deverão ser
dirigidas perguntas levianas, ou por curiosidade, ou, mais grave ainda, por
interesses materiais;
- impedimentos
gerais para atendimento:
. protetores espirituais julgarem
inoportuno
. vontade do evocado
(falta de vontade, ser contrário a atender)
. evocado situado em esfera de punição
. evocado em missão da qual não possa se
afastar
. falta de sintonia com o(s) médium(s)
. prova ou punição, para o evocado ou para
o evocador
. condição da pessoa que evoca
. local onde é feita a evocação.
Prosseguindo
instruções, recomenda Kardec:
a. evocações particulares devem ser evitadas,
tanto pelos médiuns mais experientes quanto pelos iniciantes, pois há sempre o
risco de uma mistificação, podendo, nesse caso, o processo evoluir para a
obsessão;
b. a ausência do evocado nem sempre
representa não atendimento: em muitos casos ele ali está, ou presente, ou
sintonizado pelo pensamento;
c. evocações no instante da morte são
geralmente penosas, face a perturbação que se lhe segue; contudo, decorridos em
média oito dias, o Espírito talvez já possa responder; nesses casos, há que
haver sempre muita cautela;
d. mitos, personagens alegóricos, animais e
até rochedos podem responder a evocações: é que há sempre uma multidão de
espíritos prontos para tomarem a palavra para tudo ...
e. pessoas vivas podem ser evocadas (a
questão 284 contém 20 perguntas e respostas, comentadas)
f. só se deve evocar maus espíritos se for
para instruí-los e melhorá-los (é o que ocorre, de forma indireta, nas
reuniões de desobsessão).
Evocação direta
— Pode-se evocar
Espíritos? Podem ser dispensadas as
evocações?
— Penso que,
contemplados com a Bondade Maior, chegamos ao ponto em que as evocações de
Espíritos verdadeiramente já não mais são necessárias. Aliás, com o progresso espiritual do homem,
cada dia mais ele se aproxima dos Espíritos, eis que sua alma rompe as cortinas
pesadas da matéria e aumenta sua percepção extrassensorial.
A essa mesma
pergunta responde Divaldo Franco, em "Viagens e Entrevistas", LEAL,
Salvador/BA, 1977, p. 68:
"Normalmente, os espíritas-médiuns, não
evocam os Espíritos. No entanto, quando concentramos em determinada Entidade
que nos é querida ou familiar, produzimos uma sintonia e mesmo que o Espírito
não possa vir ter conosco, pode entrar em contato, respondendo-nos à distância".
Evocação indireta
Os médiuns sinceros,
dedicados e caridosos, que atualmente reúnem-se em grupo, colocando-se à
disposição do Plano Espiritual para os labores mediúnicos, de forma consciente
ou inconsciente estão evocando Espíritos (desencarnados), objetivando amparar-lhes
com fraternidade e esclarecimentos evangélicos, pacificando-os.
Já os médiuns nas
lides psicográficas igualmente estão a evocar os autores espirituais que,
quando elevados, ditam-lhes as jóias doutrinárias que constituem o abençoado
acervo da literatura espírita.
Numa ou outra
atividade mediúnica, o certo é que ocorre a evocação indireta e que os médiuns
se desdobram por multiplicadas horas, dias, meses e anos.
Moisés e as evocações dos mortos
Partiu de Moisés a
proibição de se evocar mortos, sob pena de morte, como se vê em:
a. "Levítico", cap. XIX, v.31 e cap. XX, v.27
b. "Deuteronômio", cap. XVIII, v.
10, 11, 12?
Obs: A simples proibição mosaica da evocação dos mortos
é prova incontestável de que isso era possível, como realmente o é; quanto à
manifestação dos espíritos, se os maus (mistificadores) podem fazê-lo,
obviamente, e com mais razão até, também os bons. Aliás, não foi exatamente
isso o que aconteceu com o próprio Moisés?...
Tal proibição visava
erradicar dos hebreus recém-libertos do Egito, os costumes de lá trazidos,
dentre eles as evocações, tão rotineiras quanto abusivas. Tais práticas, na
maioria interesseiras (com fins de adivinhação, fazendo-se delas um comércio),
associavam-se a reuniões mágicas e supersticiosas, e em alguns casos, eram
acompanhadas de sacrifícios humanos.
Razão de sobra teve
Moisés para proibi-las, posto que "abomináveis por Deus". De forma
clandestina ou disfarçada, porém, subsistiram até a Idade Média (mesmo em
nossos dias, ainda ocorrem).
Sobre evocações frívolas
relembre-se que Kardec consignou, e a razão desemboca nessa certeza, às
evocações para tratar de assuntos materiais, ou de interesses rasteiros, só
atenderão Espíritos imperfeitos, quase sempre com motivações zombeteiras.
Assim, é de todo
desaconselhável evocar espíritos objetivando respostas para questões de ordem
material, ou a título de provocar fenômenos, ou por curiosidade, ou, mais
grave, por quaisquer interesses que não se enquadrem num sentimento de pureza
d'alma.
Infelizmente
é o que ocorre na maioria dos casos de evocações.
Identificação de Espíritos
— Tratando de
evocações — diretas ou indiretas —, como ter certeza de que o Espírito
comunicante é o evocado?
Novamente Kardec!
Nas questões 255 a
268, cap. XXIV, de "O Livro dos Médiuns", há o estudo de tão difícil
problema, qual seja o da identificação do Espírito comunicante. Eventuais evocadores, todos os médiuns
(principalmente os esclarecedores) e espíritas em geral, encontrarão ali os
indicadores fiéis para se distinguir os Espíritos bons dos maus.
Só na questão 267, por exemplo, apresenta, em resumo,
vinte e seis princípios para se reconhecer a qualidade de um Espírito! Mais adiante, na questão 268, são analisadas
outras vinte e oito(!) formas pelas quais podem ser estabelecidas a natureza e
a identidade dos Espíritos.
Realmente: esse
estudo é indispensável.
Evocações de Espíritos feitas por Kardec
Kardec, como mensageiro
do Cristo, utilizou sob delegação do Mestre, o exercício científico das
evocações espirituais, cujas técnicas repassou aos contemporâneos. Demonstrava
assim, de sobejo, que nada havia de sobrenatural nelas, sendo aliás, muito
proveitosas.
Realizou várias
evocações de Espíritos, como se observa em "O Céu e o Inferno", 2ª
Parte, investigando objetivamente a situação de muitos Espíritos. Evocando-os,
entrevistou um a um, pesquisando demoradamente seus depoimentos e revelações.
Não evocou personalidades ilustres do passado, mas tão somente pessoas desencarnadas
"nas circunstâncias mais comuns da vida contemporânea".
De posse desse vasto
quanto insólito material, Kardec analisou seu conteúdo, onde sobressaiam as
penas e recompensas futuras, como resultantes naturais do comportamento humano
na Terra. Então, classificou psiquicamente não só tipos de Espíritos (desencarnados
e encarnados), formando uma verdadeira escala espírita, moral.
Qual
"grande-mestre", não enxadrista, mas missionário, o Codificador do
Espiritismo posicionou as peças (suas
pesquisas) no grande tabuleiro
(cenário religioso mundial de então), consignando com bom-senso, um verdadeiro xeque-mate (iluminação espiritual) nas
obscuras teorias filosóficas do Inferno, do Purgatório e até mesmo do Céu.
Fato natural foi o
da Humanidade chegar à metade do Séc. XIX qual nave sem rumo, como sobrevivente
de inúmeras tempestades: as algemas mentais da Inquisição (séc. XII ao XVIII);
os inesperados revezes e contragolpes da Revolução Francesa (1.789); navegação
moral lenta, apenas nas margens e na superfície da Razão, a bordo do
"Iluminismo" (Séc. XIX - o "Século das Luzes"). Nesse preciso cenário e nesse tempo o mundo
recebeu do Plano Espiritual a bússola para, a bordo do Bem, navegar com
segurança em todos os mares da dúvida humana e em todos os tempos futuros: o
Espiritismo! Cumpria-se a promessa de Jesus, quanto às revelações que seriam
trazidas pelo Consolador.
A Doutrina dos
Espíritos, na verdade, aportou na Terra em grande parte decorrente das
evocações, tão ajuizadamente realizadas por Kardec!
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