Alinhamentos
O ambiente era
requintado: luzes indiretas, música suave, plantas ornamentais delicadas,
carpete aveludado, móveis aristocráticos, perfume no ar, temperatura mantida
amena, artificialmente.
Sala cheia: metade
pacientes; metade acompanhantes.
Um homem de postura
irrepreensível, aparência sóbria, gestos estudados, olhar austero e
percuciente, contrastava com sua acompanhante, esta, uma jovem de expressão
abatida, gestos curtos e nervosos, denunciando aflição intensa...
O homem, herdeiro
de grandes posses e de não menos janeiros, idade já no frontal da velhice.
À frente de ambos,
dentre tantas outras pessoas, havia uma senhora, de semblante equilibrado, mas
tenso, movimentos poucos, programados, muito bem vestida, denotando deter
apreciável condição financeira. Beirava já quase os quarenta anos de
idade.
Acompanhando essa
senhora, uma jovem, assim como a que estava ao lado daquele senhor: semblante
tímido, deixando à mostra a carga de problema de difícil solução.
Da mesma forma
aparentavam ser os demais componentes daquele grupo, naquela sala de espera:
bem postos, mas carregando pesados fardos íntimos, invisíveis pois, mas...
quase exteriorizados.
Comandava aquele
consultório, eminente e famosa médica, que optara pela ginecologia e depois de
tropeços iniciais em sua carreira profissional, tropeçara também na realidade e
na antevisão do futuro desprovido de bens terrenos. Após tais tropeços, por sua
vez atropelou a consciência e transformou-se em terrível veículo do mal,
praticando, ao arrepio da lei, dezenas de abortos ao mês, centenas ao ano. Com
isso, "resolvia" complicados problemas da sociedade, quando
irresponsável e dissoluta.
O referido homem
trazia moça por ele desencaminhada...
A senhora trazia
aquela que, por antecipar fatos, perdera o direito de ser-lhe nora.
Ao fim do dia, mais
dois, dentre tantos Espíritos revoltados, tiveram bruscamente interrompida sua
promissora viagem rumo à encarnação. Retornaram amargurados, feridos,
revoltados e vingativos, a regiões cinzentas da psicosfera da Terra.
O homem, maduro e
rico, sem família, atraiu-se pela senhora de aspecto honrado e elegante, a
qual, sendo viúva, deixou-se também atrair. Casaram-se...
Brindou-lhes o destino com o nascimento de filhos gêmeos. Filhos esses que,
embora tratados com o máximo de proteção e afeto, nem por isso se mostravam
gratos.
Anos depois,
acometidos o casal, simultaneamente, por meningite encefálica, necessitando de
medicamento específico a ser-lhes aplicado, no auge da crise, à noite, os
filhos, deliberadamente não o ministraram. Cometeram voluntário parricídio, em
cumplicidade... que a lei terrena não logrou identificar.
Dois Espíritos ,
amargurados e feridos, foram catapultados para regiões cinzentas da psicosfera
terrena...
Tempos depois
aqueles filhos se casaram, quase na mesma data.
Cada casal, a seu
tempo, recebeu a dádiva de um filho: num lar, um filho, noutro lar, uma
filha.
A Vida, assim
alinhando atalhos tortuosos e dispersivos, indutores ao erro, reconduziu, pela
terceira vez, aqueles quatro companheiros de tantas e tantas jornadas passadas,
conjuntamente delituosas.
Os pais, já idosos,
fundaram lar assistencial a órfãos e mães solteiras.
Os filhos, primos
entre si, formados em Medicina, conduziram o ambulatório médico da instituição,
sempre favorecendo gestantes desprotegidas.
Foi nomeada gerente
administrativa da instituição uma jovem recém formada em Assistência Social, e
que por isso, quase sempre, era a primeira pessoa a abrigar nos braços, dezenas
de vezes ao mês, centenas de vezes ao ano, as crianças recém chegadas à luz...
Outro alinhamento
ocorrera, eis que com o desencarne prematuro da famosa médica ginecologista,
agora ela estava ali, sentinela atenta de muitos viajores que chegavam ao
mundo, alguns já com a paternidade perdida. Mas todos, com a vida
garantida!
Maria, Mãe,
fortaleça nossa disposição em mantermo-nos alinhados ao Bem!
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(Mensagem
do Espírito Dulcinéia, psicografia de E.Kühl,
livro
“Âncoras de Luz”, 2003, Ed. LEB – Bagé/RS)
Obra esgotada – em e-book
grátis, seção “Livros”, neste blog
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