Alma minha gentil, que te partiste
— Luís Vaz de Camões (1524-1580), Rimas
(1595), Soneto XIII
Alma minha gentil, que te
partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde
subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos
encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
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Alma
minha gentil, que te partiste é um dos mais famosos sonetos da língua portuguesa.
O poema foi escrito pelo português Luís de Camões a respeito de sua falecida amada
Dinamene, e onde o amor platónico, com características petrarquianas,
se revela num dos seus expoentes máximos.
A desventura do poeta, condenado a viver triste,
eternamente, é também um dos tema recorrentes em Camões.
O seu primeiro verso é, por vezes, referido como um cacófato
(a junção de "alma" com "minha" soa como "maminha").
Poema imortal, como a poesia camoniana.
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