POEMA “O VIOLÃO”
"Habeas
Pinho": poema que marcou a vida do poeta Ronaldo Cunha Lima (1936-2012)
Em 1955 um grupo de boêmios de Campina Grande fazia serenata numa
madrugada do mês de junho, quando chegou a polícia e apreendeu… o violão!…
O Poeta, como ficou sendo chamado
carinhosamente em toda Paraíba, Ronaldo Cunha Lima sabia e narrava sempre, com
sua mente prodigiosa e de forma descontraída, incontáveis “causos” do nosso
folclore político e interiorano.
Cunha Lima lançou em concorridas
noites de autógrafos, cerca de 15 livros de poesias, muitos versando sobre
amor.
Amigos que conviveram de perto
com Ronaldo relataram que o poema “Habeas Pinho” foi um marco na vida do poeta.
Os versos bem construídos integram o pontapé inicial da carreira jurídica de Ronaldo
Cunha Lima.
Documentos revelam que em 1955 um
grupo de boêmios de Campina Grande fazia serenata numa madrugada do mês de
junho, quando chegou a polícia e apreendeu… o violão!…
Decepcionado, o grupo recorreu
aos serviços do advogado Ronaldo Cunha Lima, na época recentemente saído da
Faculdade, e que também apreciava uma boa seresta.
Ele peticionou em Juízo, para que
fosse liberado o violão.
Aquele pedido ficou conhecido como "Habeas Pinho" e enfeita as paredes de escritórios de muitos advogados e bares de praia, no Nordeste Brasileiro.
Aquele pedido ficou conhecido como "Habeas Pinho" e enfeita as paredes de escritórios de muitos advogados e bares de praia, no Nordeste Brasileiro.
Eis a famosa petição:
HABEAS PINHO
Exmo. Sr.Dr. Artur Moura, Meritíssimo
Juiz de Direito da 2ª Vara desta Comarca,
O instrumento do crime que se
arrola
Neste processo de contravenção
Não é faca, revólver nem pistola.
É simplesmente, Doutor, um violão!
Um violão, Doutor, que, na verdade,
Não matou nem feriu um cidadão.
Feriu, sim, a sensibilidade
De quem o ouviu vibrar na solidão.
O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade.
Ao crime ele nunca se mistura.
Inexiste, entre os dois, afinidade.
O violão é próprio dos cantores,
Dos menestréis de alma enternecida,
Que cantam as mágoas e que povoam a vida,
Sufocando, assim, suas próprias dores.
O violão é música e é canção,
É sentimento de vida e alegria,
É pureza e néctar que extasia,
É adorno espiritual do coração.
Seu viver, como o nosso, é transitório,
Porém, seu destino o perpetua:
Ele nasceu para cantar, em plena rua,
E não para ser arquivo de Cartório.
Mande soltá-lo, pelo Amor da noite
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o terno açoite
De suas cordas leves e sonoras.
Não é faca, revólver nem pistola.
É simplesmente, Doutor, um violão!
Um violão, Doutor, que, na verdade,
Não matou nem feriu um cidadão.
Feriu, sim, a sensibilidade
De quem o ouviu vibrar na solidão.
O violão é sempre uma ternura,
Instrumento de amor e de saudade.
Ao crime ele nunca se mistura.
Inexiste, entre os dois, afinidade.
O violão é próprio dos cantores,
Dos menestréis de alma enternecida,
Que cantam as mágoas e que povoam a vida,
Sufocando, assim, suas próprias dores.
O violão é música e é canção,
É sentimento de vida e alegria,
É pureza e néctar que extasia,
É adorno espiritual do coração.
Seu viver, como o nosso, é transitório,
Porém, seu destino o perpetua:
Ele nasceu para cantar, em plena rua,
E não para ser arquivo de Cartório.
Mande soltá-lo, pelo Amor da noite
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a sentir o terno açoite
De suas cordas leves e sonoras.
Libere o violão, Dr. Juiz,
Em nome da Justiça e do Direito!
É crime, porventura, o infeliz,
Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?
Em nome da Justiça e do Direito!
É crime, porventura, o infeliz,
Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?
Será crime, e afinal, será pecado,
Será delito de tão vis horrores,
Perambular na rua um desgraçado,
Derramando na rua as suas dores?
É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza, já, do seu acolhimento.
É somente liberdade, o que pedimos
E, nestes temos, vem pedir deferimento!
Assinado:
Ronaldo Cunha Lima, advogado.
O juiz por sua vez, despachou utilizando a mesma linguagem do poeta Ronaldo Cunha Lima: o verso popular.
Recebo a petição escrita em verso
E, despachando-a sem autuação,
Verbero o ato vil, rude e perverso,
Que prende, no Cartório, um violão.
Emudecer a prima e o bordão,
Nos confins de um arquivo, em sombra imerso,
É desumana e vil destruição
De tudo que há de belo no universo.
Que seja Sol, ainda que a desoras,
E volte á rua, em vida transviada,
Num esbanjar de lágrimas sonoras.
Se grato for, acaso ao que lhe fiz,
Noite de luz, plena madrugada,
Venha tocar à porta do Juiz.
Será delito de tão vis horrores,
Perambular na rua um desgraçado,
Derramando na rua as suas dores?
É o apelo que aqui lhe dirigimos,
Na certeza, já, do seu acolhimento.
É somente liberdade, o que pedimos
E, nestes temos, vem pedir deferimento!
Assinado:
Ronaldo Cunha Lima, advogado.
O juiz por sua vez, despachou utilizando a mesma linguagem do poeta Ronaldo Cunha Lima: o verso popular.
Recebo a petição escrita em verso
E, despachando-a sem autuação,
Verbero o ato vil, rude e perverso,
Que prende, no Cartório, um violão.
Emudecer a prima e o bordão,
Nos confins de um arquivo, em sombra imerso,
É desumana e vil destruição
De tudo que há de belo no universo.
Que seja Sol, ainda que a desoras,
E volte á rua, em vida transviada,
Num esbanjar de lágrimas sonoras.
Se grato for, acaso ao que lhe fiz,
Noite de luz, plena madrugada,
Venha tocar à porta do Juiz.
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Peço aos leitores que
me perdoem a audácia, mas lendo, comovido, o poema “Habeas Pinho”, digitei de
improviso o humilde, despretensioso e desajeitado soneto abaixo, que intitulei:
“A noite, o violão e o amor”
Horas há em que um poema
se agiganta e encanta...
E este, creiam, traz uma
dessas matreiras surpresas
Que pegam
desprevenida uma alma que se levanta
Comovida, ouvindo e
segurando lágrimas presas.
Fala um poeta da
história sensível de um violão,
Simples e humilde, na
grandeza da sua história,
Que se calou numa
noite fria e sem coração
Indo parar como réu
numa delegacia inglória.
Pois é, amigos,
quando um poeta se acumplicia
Com a noite, com um
violão, desafiador ao léo,
Todo o Universo a ele
se alia e ao triste cantor
Que não foi atendido
no seu triste rogo à polícia.
Mas o poeta pede
liberdade ao violão, com amor
E é atendido por um
bom juiz, por graça do Céu.
Oi meu querido irmão
ResponderExcluirRealmente é muito lindo esse poema
Que fala tão bem do violão!
Meus parabéns Euri, gostei muito
Um abraço bem apertado no seu coração!
Já conhecia, mas nunca me quedo sem emoção
ResponderExcluirNão somente do que foi a petição peripatética
Do advogado, quanto a sentença do bom juiz poeta
Que encantou nossa alma e ouvidos em prol do som do violão.
Muito, muito, muito bom!
ResponderExcluiré pra você ver,
O que as cordas de um violão
É capaz de fazer
Com o nosso coração!
Pois é, caro vizinho: um violão é a chave da porta das emoções, ofertando acordes que iluminam corações, assim como uma noite de seresta, logo se transforma em festa. Seresteiros são sonhadores acordados, em noites de ternura e amor que lhes envia a Lua...
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