quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Síndrome do Calvário





SÍNDROME DO CALVÁRIO

O Natal é data de comemorações, religiosas principalmente, festejando o nascimento de Jesus Cristo. É data considerada sagrada por uns, simplesmente de alegrias, para outros.
Modo geral, o Natal movimenta fortemente as forças vivas dos países cristãos, incrementando o comércio (e o consumismo...), o turismo, mas principalmente as reuniões familiares.
Tudo isso, no “mundo cristão”, formado por 2,18 bilhões* de pessoas que se declaram cristãs, ou pelo menos, adeptas da fé cristã, sendo que a Humanidade tem cerca de 7,6 bilhões de pessoas**.
No Natal, também, a alegria é contagiante, espontaneamente induzindo as pessoas à união, à afetividade, ao companheirismo — ao amor, enfim. É época para balanço de vida para alguns, despertando-lhes promessas de humanitarismo e de correção de rota vivencial, que depois... nem sempre se concretizam.
Porém, de forma estranha, inexplicável, à aproximação do Natal, pessoas há sem os sentimentos acima.
Segundo a Psicologia, tais pessoas, ao contrário da maioria, cultuam solidão, percebem-se carentes de amizades, excluídas de demonstrações carinhosas e fraternais; ausentes de humor e tristezas visitando-as passam a demonstrar apatia, melancolia, insensibilidade quanto ao mundo que as rodeia.
De fato, na época do Natal, e apenas nessa época, ano após ano, afloram comportamentos diferentes em algum parente, amigo ou apenas em conhecidos.
Aqueles que os observam, atônitos e de forma inexplicável, veem que eles não sentem, como a maioria, o intenso significado do Natal.
Sobre isso, alguns psicólogos prognosticam angústia mal disfarçada, grave, que traz à tona sentimentos confusos, podendo evoluir para depressão, e até subtrair a vontade de viver.
Contudo, felizmente, passadas as comemorações, praticamente todas essas pessoas voltam ao normal, eis que a pujança da vida induz, não apenas a elas, mas aos demais, a retornarem às respectivas responsabilidades, com a rotina das jornadas diárias de cada um.
Subsiste a candente pergunta:
— Por que só no Natal algumas pessoas mudam o comportamento, perceptivelmente ficando algo depressivas?
Avaliações psicológicas respondem a essa interrogação, conjeturando que tal se dá naqueles que têm mágoas, dificuldades financeiras, desamores, lembranças negativas, às vezes rancor por alguém, desemprego, doenças reincidentes, perda de entes queridos, e tantas outras realidades que causam tristezas.
O profissional da psicologia clínica, cuja meta principal é promover a saúde mental e o bem estar individual e social do seu paciente, ao atendê-lo, elabora diagnóstico, e a seguir procura ajudá-lo a superar tais dificuldades.

Há outra hipótese para o entendimento desses casos...
Com efeito, o Espiritismo, com a lógica e bom senso das vidas sucessivas (reencarnação), preconiza que, tristezas de origem desconhecida, talvez ─ só talvez ─ tenham origem em outras vidas.
A propósito, relembro o que aconteceu lá em Jerusalém, quando a mesma multidão que acolheu Jesus no “Domingo de Ramos”, dias após, diante do mais infame plebiscito da História, açulou Pilatos, gritando sobre o Excelso Mestre: “que seja crucificado”!
É precisamente aqui que, como espírita, com todo o respeito, e apenas a título de hipótese, repito, reflito que alguns dos hoje tristes na época do Natal, talvez sejam os mesmos que participaram, com o poder romano, próximo ou distante, da decisão de crucificar Jesus, o que ocorreu no monte denominado Calvário (ou Gólgota).
Efetivada a maior ingratidão de todos os tempos — até a eternidade —, o tempo, através dos séculos, encarregou-se de mostrar àqueles infelizes, senão a todos, ao menos para a maioria, o terrível equívoco que cometeram.
E hoje, neles, atenuada aquela atitude, então patrocinada pela ignorância, resquícios de remorso emergem-lhes atavicamente no Natal. E assim, relembram subconscientemente daquele erro, sentem o atual e passageiro desconforto, caracterizando o que denomino de “Síndrome do Calvário”.
Obs.: Desaconselhável atirar a primei­ra, segunda ou terceira pedras: eu próprio, ou qualquer outro, com ou  sem nostalgia no Natal, podemos ter estado lá, em Jeru­salém, como partícipe da infâmia...

Aliás, no livro "Vida de Jesus", de Antônio Lima (1864-1946), Ed.FEB/RJ-RJ, cuja 1ªEd. data de 1939, na abertura encontra-se comovente exposição do autor, parte da qual transcrevo:
DE JOELHOS - Amado Mestre Jesus - Outrora fui decerto um dos sicários que gritaram contra ti, impondo a Pilatos: Crucifica-o!
Quero resgatar uma centésima milionésima parte da minha antiga dívida. Aqui deponho às tuas sagradas plantas esta mísera migalha da minha pobreza mental - oásis onde me refugiei para balbuciar timidamente um poema indigno da tua excelsitude, para soluçar vexado um abafado cântico ao teu amor inefável.
     Temo agravar o meu delito pela audácia em er­guer os olhos para o teu augusto sólio. Com tinta, outros disseram da tua obra. Eu, foi com soluços de arrependimento que escrevi e orvalhei estas laudas - foi em lágrimas de sangue que molhei a pena. (Grifei)

Vinte séculos se passaram...
Nesse longo tempo, houve um momento em que o remorso, oriundo da culpa pela crucificação, terá se fixado naqueles que a aprovaram. Mas, provavelmente, já se diluiu, restando apenas vestígios...
Assim, como é provável não haver na Humanidade nenhum Espírito, encarnado ou desencarnado, sem algo a redimir, indispensável também o autoperdão. E viver no Bem...
Confiantes na Justiça Divina, todos nós, diante de algum desconforto, natalino ou outro, relembremos a magnanimidade do Mestre Excelso, antes de expirar: “Perdoai-os Pai, eles não sabem o que fazem”.
A sublimidade do Natal é abençoada oportunidade de resgate para quem, por algum motivo, sinta tristeza, melancolia e depressão.
Seja qual seja a causa, viver com Jesus no coração proporcionará a liberdade de viver em alegria.

  * Segundo relatório do Instituto de Pesquisa americano Pew Research Center, na internet;

** Segundo dados da ONU, referentes a 2017


2 comentários:

  1. Amigo e vizinho, você conhece bem a minha família
    O Natal aqui sempre teve reunião de muita gente, com muita comida e bebida, contudo, ha tempos que eu e minha esposa pensamos em comemorar o Natal de uma forma simples, na contra mão de tudo isso, pois me incomoda muito ver o mundo tão festivo sem uma causa justa.
    É bonito, mas é pura marketagem! É a força do comércio escondendo o real motivo da comemoração, que, cada vez mais raro, se ora pelo menos um "Pai nosso".
    Enquanto tudo isso acontece eu fico imaginando as circunstâncias no momento do nascimento de Jesus - nós sabemos que foi muito tenso, eles estavam em fuga da perseguição de Herodes. Foi um momento muito difícil, como todos os demais na vida de Jesus. Tudo isso para trazer até nós um novo modo de pensar e agir - tudo pela mudança de comportamento, pela emancipação da alma... e nós aqui simplesmente trocamos um momento que deveria ser de oração, simplicidade, reflexão, jejum de comilança, calmaria; quem sabe uma releitura de tudo isso; enfim, um culto familiar sem explosão de bombas... mas infelizmente o Papai noel sim é que tem acesso livre nas casas... e cada vez menos o Senhor é lembrado.
    Aí junta a tudo isso o negócio que não prosperou, o ano que terminou em dívidas, isso e aquilo e pronto a depressão chega para muita gente.que passa o Natal deprimido.
    É claro, que apesar de tudo a vida segue, cheia de desafios!
    Ah!! Mas no dia seguinte aqui estamos nós recorrendo a Jesus pelas nossa necessidades, pedindo direção para os nossos projetos!
    Resumindo, o Natal não tem que ser triste, tem que ser valorizado como sendo o presente de Deus nas nossas vidas, assim, acredito que não haverá espaço para depressões.

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  2. Emocionante meu amigo, meu irmão. Fez-me chorar de emoção (sou mais mole que manteiga derretida quando se trata de algo que toque as fímbrias de minh'alma imortal). Mas nunca choro de tristeza. Choro de emoção, pela ternura recebida ou pelo sentimento que toque o íntimo. Não sei se você viveu ao tempo de Jesus, mas, eu não e, por isso, me regozijo: não tive nada a ver com a brutalidade que ceifou a vida encarnada do Mestre. Mas, flechado e comido pelas feras na arena de Roma 50 anos depois pois, escravo e negro como meu pai Nestório, morri na arena de Roma para gáudio dos que assistiam e açulavam os leões. Mas o que são 2000 anos na trajetória de um espírito? Um átimo de vento que sequer ulula nas frestas do tempo. E o que é o calvário diante da vivência no Plano Maior? E sendo, cada volta, o recomeço melhor do que quando da vinda, ah! meu Deus, quanta ventura! O que representam as doenças, os males e as dores passadas aqui, quando a ventura nos sorri esperando pelo nosso retorno? Só de pensar que o reingresso será mais festivo do que quando de lá viemos para o enfrentamento da encarnação, faz-nos volitar alegremente em torno dos sonhos que virão e viveremos no Mundo Maior. E todo serviço que, de lá, pudermos despender em prol da Humanidade, ser-nos-ão creditados engordando nossa conta bancária do Bem, aproximando-nos, cada vez mais, do Criador. Pense nisso meu amigo, meu irmão e jamais a tristeza se abaterá sobre a tua alma, pois a certeza de que a luz se fará, cada vez mais clara e luminosa, indicando-te o caminho orlado de perfumadas flores que conduzem ao Centro da Vida: DEUS.
    Fico por aqui, senão vou chorar mais uma vez só de pensar na felicidade do retorno.
    Abração.
    Roberto

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