Reforma
íntima
A
reforma íntima pode ser definida como o esforço constante que o Espírito
realiza para evoluir moralmente. No plano terreno, onde certamente o mal
predomina sobre o bem, esse esforço compreende um inexorável comportamento,
posto que todos os seres têm destinação divina à felicidade, só alcançável com
a ausência total de imperfeições.
Allan
Kardec definiu bem esse esforço, em várias oportunidades. Registro duas, sendo
que a primeira pode ser considerada como a “Lei Áurea” da reforma íntima:
1ª
- Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e
pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.
(O
Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, n° 4).
2ª
- Esforçar-se por ser bom, por se tornar melhor e se já é bom, por
purificar-se de suas imperfeições, por, numa palavra, elevar-se moralmente o
mais possível.
(Obras Póstumas, 1ª Parte, Item VII, n° 58).
Deus
contemplou o Espírito que ingressa no reino da razão com três ferramentas que o
acompanharão, com a imortalidade: a inteligência (contínua); a consciência e o
livre-arbítrio.
De
início “simples e ignorante”, o Espírito terá à sua disposição todos os meios
para evoluir. Ao que parece, a maioria logo se deixa contaminar pelas enganosas
atrações do menor esforço e dos prazeres imediatos. Quando os descaminhos se
acumulam, na interminável fieira de reencarnações, diz-nos o Espírito Emmanuel que “nossos
milenares caminhos se tornam empedrados. Aí, só os processos educativos da vida poderão dar um jeito”.
(In
“Fonte Viva”, psicografia de F.C.Xavier, cap. 30, 28ª Ed., 2002, FEB,
Brasilia/DF).
Ante
caminhos empedrados vale lembrar que,
pela Lei Divina de Justiça (ação e reação), para o próprio bem de tal
caminhante, que afinal somos todos, uns mais, outros menos, a pedagogia do Amor
do Pai convoca a melhor mestra: a dor...
Como
a consciência não se cala, o Espírito só encontrará a paz quando aplainar todas
as arestas acumuladas.
Decorre
disso que a autotransformação redunda em alijamento de angústias ou dor, ao
tempo que a paz interior irá se firmando.
A
reforma íntima pode despertar voluntariamente, ou sob o guante da dor. Em ambos
os casos, o Espírito não aceita mais continuar fazendo as mesmas coisas.
Reconhece que deve ou precisa mudar de
atitudes. Então, a inteligência, de forma consciente, faz a vontade entrar
em ação, com mudança comportamental nos seguintes ambientes:
● de início, preponderantemente, no
lar, junto à família;
●
na profissão, perante chefes, colegas, subordinados;
●
enfim, no seu meio social – com vizinhos, amigos, conhecidos.
Ditado
milenar chinês lembra que “A caminhada de cem milhas inicia com um passo”.
Acima, já citei Emmanuel dizer (e acredito como verdadeiro), que na longa
fieira das reencarnações, o Espírito sedimenta milenares desvios de conduta.
Isto posto, uma forma de realizar a autorreforma, dentre inúmeras possíveis,
poderá ser, por exemplo:
● Identificar o que é e o que não é
desvio dos caminhos de Jesus;
● Reconhecer se os pratica, no possível,
ou de vez em quando;
● Identificar situações em que isso
ocorre, ouvindo a consciência;
● Eleger uma virtude, de
cada vez, para ser dinamizada, em contrafação a desvio específico que, maior
número de vezes, estamos acostumados a trilhar;
● Trabalhar essa “eleição” e realizar a conquista de outra virtude quando a anterior prosperar.
A
reforma íntima, com a vontade e o hábito, torna-se quase automática. Esse
patamar é alcançado com a implantação de um programa mental, pré-estabelecido,
para uso e ação instantâneos, tendo por base as iluminadas lições e exemplos do Mestre Divino e então inquirir a si mesmo:
—
Como Jesus agiria?
A
resposta será o melhor indicativo de qualquer procedimento, com sobre-esforço
na realização desse programa.
Benéfico também será, na maioria das vezes, aplicar no dia a dia dois conselhos de Sócrates (filósofo grego 470/469 - 399 a.C.): o primeiro, inspirado no adágio do oráculo de Delfos — "Conhece-te a ti mesmo" — e o segundo: refletir antes de agir ou responder, sem ironia.
A
reforma íntima não tem hora marcada para se instalar no Espírito e não depende
de “manual” ou “curso” para acontecer.
Obviamente,
em todas as religiões estão registradas premissas indicativas de como o adepto
poderá alcançar a felicidade e nenhuma delas dispensa esforço individual.
Mas,
cedo ou tarde, mesmo fora das religiões, todos os Espíritos propenderão a
corrigir procedimentos, mudar tendências e assim alcançarem um viver feliz.
Como
espírita reconheço que a Doutrina dos Espíritos tende a proporcionar segura
orientação para um programa de reforma íntima, com base nas lições do Mestre
Jesus.
Isso
porque o Espiritismo, a meu ver, é a única religião que descerra a cortina da
nossa existência (passado, presente e futuro): com lógica, sobretudo com base
da Lei Divina de Justiça (ação e reação) dá-nos parâmetros para entendimento do
nosso hoje, como sendo resultante do nosso ontem, ao
tempo que projeta o amanhã, como sendo decorrência exatamente
do hoje.
Simples
verdade das reencarnações — vidas sucessivas...
Jesus
recomendou-nos (e como) a amar a Deus e ao próximo (Lucas 10:27).
Nossa
integridade tem nuanças que obedecem ao instinto de conservação, na parte
física, consubstanciando nossos procedimentos nas leis do mundo, para nosso bem
e conforto.
Não
obstante, evidenciar amor-próprio não é um bom conselheiro, eis que, via de
regra, contempla o egoísmo.
Daí
que reflito: a recomendação de Jesus será meritória toda vez que, sem
expectativa de retribuição, o ser estiver amando a Deus e ao próximo. Por
inferência, quem assim proceder estará sim, amando-se, já que isso o coloca na
condição de ouvinte da consciência, e mais: co-partícipe da obra divina,
integralmente voltada para a doação de Amor.
“A consciência é um registro da Direção
Divina, impelindo-nos a regular os batimentos do coração pelo ritmo da
verdadeira fraternidade”.
(Diversos
Autores Espirituais, in “Seareiros de Volta”, psicografia de W.Vieira, cap.
“Equação da Felicidade”, 5ªEd.,1993, FEB, Brasília/DF)
Muito bom!
ResponderExcluirAbraço fraterno.