Pedra do Baú
- A rainha da Mantiqueira –
Ela é
fascinante!
Sua
beleza transcende ao humano e se assenta no divino!
Sua
enorme estatura dá-lhe natural imponência, mas sem arrogância.
Admirável
que tanto e tamanho poder esteja indene ao exclusivismo.
Sobre
causar admiração, seu halo de profunda paz induz a imenso respeito...
Criatura
não há sobre a Terra que lhe pondo o olhar por ela não se apaixone...
Verdadeira
rainha: soberana do reinado que é a Serra da Mantiqueira.
Tal é
a Pedra do Baú!
— Onde
ela está?
No
sopé da Pedra do Baú homens de muitos tempos atrás[1]
fundaram o município de São Bento do Sapucaí, a leste do Estado de São Paulo,
numa altitude de 900 metros. Clima de montanha, gostoso, saudável.
Ali,
no epicentro das lindas montanhas da Serra da Mantiqueira, que cercam o lugar,
a Natureza ergueu do chão às alturas do céu, um gigante de granito, que os
índios já chamavam de Embahú, isto é, “vigia”, na língua
tupi-guarani.
Se o
farol — namorando estrelas — arremessa luz na amplidão do mar, a Pedra do Baú —
namorando o Sol — não lhe fica atrás, arremessando sua inconfundível imagem
através de pastos, relvas, campinas, ravinas, árvores, matos e montes, podendo
ser vista de 52 cidades!
Isso
mesmo, vamos repetir: 52 cidades!
No
alto da Pedra, durante o dia, não será mesmo possível divisar todas essas
cidades, mas em noites sem Lua e com teto alto, logo após a hora da Ave Maria,
ao acenderem-se as lâmpadas daquelas cidades, então sim, podem ser vistas.
Visão fantástica!
Por
aquelas bandas trilharam ou viveram muitos escravos, caboclos e tropeiros, além
de muitos bandeirantes, transitando atalhos para chegar às “minas”.
Testemunha
ocular de milênios sobre milênios, a Pedra do Baú, altaneira, aparentemente
muda, neutra e inerte, para logo faz com que o observador se convença do
contrário: num paradoxal registro de formidável eloquência e participação,
atesta que a tudo fotografou, de tudo participou e tudo guardou.
Viria
daí a inescapável sinonímia de “Baú”?...
(Baú = caixa ou mala, de folha ou madeira,
retangular, com tampa geralmente convexa, destinada a guardar valores,
tesouros, lembranças..)
— Como
ela é?
Com
certeza ela fez parte dos primeiros instantes da criação do mundo.
É uma
grande rocha de arenito.
Situa-se
a 1950 metros acima do nível do mar.
Mede 340
metros de altura, 540 metros de comprimento e sua largura, medida também em
metro é variável, indo de 40, a 30, a 2 e até mesmo a apenas 1.
É
inteiramente protegida por florestas, ao seu derredor, nas bases.
Seus
flancos são de escarpas íngremes, de dificílima escalada.
Na
subida há abismos de até 180 metros!
Por
volta de 1943 iniciou-se a construção de uma escada com 602 degraus. Em 1945 o
Bispo de Taubaté benzeu o local. Depois disso também foram cravados na rocha
370 degraus de ferro, que após serem escalados, chegava-se ao topo: uma altura
de 1964m, ofertando privilegiada e fantástica vista de 360° (4 pontos
cardeais). Em 1947, lá no alto, foi inaugurado um abrigo para pousada.
Pesquisas
demonstraram que ela tem em seu interior várias cavernas e grutas, muitas das
quais ainda não puderam ser devidamente exploradas. Talvez nunca sejam...
Brisas
acariciantes, quanto ventos fortes, sopram por ali. Mas... tempestades, podem irromper em
segundos... (Eu e minha família fomos surpreendidos por uma). Também já
presenciamos voo livre (de asa delta ou paraglider)
de aventureiros que após se lançarem lá do alto, ainda subiram bastante (!) —
por correntes de ar ascendentes.
Mistérios da Pedra do Baú
- Há
um intrigante fato por ali: quando se atira um objeto qualquer no abismo, ele
desce um pouco e depois sobe, indo cair do lado oposto. Fica pairando no ar e
aí desce, devagar...
- No
topo há grande quantidade de terra e árvores, algumas de grossos troncos,
induzindo-nos a identificar um primeiro mistério, sem qualquer conotação de
lenda: como é que tanta terra foi parar lá em cima? Resposta-hipótese que
aflora à mente é a de que a pedra nasceu de repente, de baixo para cima,
levando terra e plantas no topo... Talvez uma súbita irrupção vulcânica,
seguida de chuvas fortes sobre a lava, que o tempo (milhões de anos, talvez) se
encarregou de transformar em terra fértil...
- Numa
gruta profunda e de difícil acesso, bem no alto da Pedra, denominada “Gruta de
Nossa Senhora de Lurdes”, foi colocada uma imagem dessa Santa. A gruta é úmida
e escorre água de suas paredes, água essa que alguns devotos acreditam ser
milagrosa. Detalhe: retirada a imagem da gruta a água seca...
“A toca misteriosa”
A
Pedra do Baú, verdadeiramente, é um fantástico cofre lacrado da Natureza, guardando
segredos, pois em seu interior, que é oco (!), existem tocas e cavernas que até
hoje não puderam (ou que elas não permitiram...) ser exploradas.
Por
exemplo: há uma toca que fica na base da Pedra do Baú, desprovida de oxigênio,
pois apaga velas e tochas; as lanternas ali só iluminam densa neblina...
Embora
essa toca ofereça abrigo para muitas pessoas, à medida que se tenta ir adiante,
para o fundo, só se chega a uns vinte metros, pois logo se afunila e sabe-se
que há grande, escuro e “infinito” abismo, pois as pedras jogadas jamais chegam
ao fim...
A primeira escalada
Autêntica
epopeia: Antônio Teixeira de Souza Filho (08.08.1889-31.12.1973), humilde
sambentista, da infância à fase adulta passou tentando escalar a fabulosa
pedra, sem consegui-lo. Até que aos 51 anos, no dia 11 de agosto de 1940,
combinou com o irmão que no dia seguinte, juntos, novamente tentariam a grande
subida. Foi dormir e sonhou...
O
sonho: viajava à conquista do Gigante de granito e à sua frente apareceu uma
mulher idosa, cabelos compridos, metade pretos, metade brancos. Ao se aproximar
viu que era uma linda moça, que fez referências à família dele. Algo
constrangido por tê-la convidado a seguir com ele, deixou-a e saiu correndo,
ouvindo ela dizer-lhe: “vá com Deus, vá com Deus”.
Nesse
preciso momento, foi acordado pelo irmão que viera buscá-lo para o grande
tentame. Antes de despertar por completo do sonho pôde divisar mentalmente, de
forma precisa, um caminho — o caminho que deveria trilhar, para conseguir
chegar ao alto.
Dito e
feito! Aliando uma vontade férrea e destemor, materializou o sonho acalentado
desde criança com o sonho de há pouco. E venceu! Embora perigosíssima, a rota
entrevista no sonho levou-o ao topo!
— Lendas...
Inescapável
que tal exuberância fizesse brotar uma multidão de lendas.
As
mais conhecidas:
“Os três irmãos”
- Em
tempos imemoriais, três irmãos se retiraram do convívio humano e foram viver
“vida santa” naquelas paragens. O mais velho se chamava “Monte Barão” e suas
duas irmãs, Ana e Silvané. Ana não tinha atrativos físicos, sendo cognominada
de Ana Chata. Quanto a Silvané, era
lindíssima. Cedendo a uma terrível tentação, o irmão não soube vencer ao ímpio
sentimento de sentir-se indigna e irresistivelmente atraído para Silvané. Sob grande
duelo íntimo de emoções, entre o bem e o mal, inflamado de desejos, tentou
seduzi-la. Nesse momento a Natureza desencadeou a força do bem e num átimo fez
com que vulcões entrassem em erupção.
Os
três irmãos, alcançados pelas forças sobrenaturais se metamorfosearam em pedras,
que próximos, mas sem se tocar, rumariam para a eternidade...
Segundo
essa lenda, as três pedras são o Bauzinho
(Silvané); Ana Chata (Ana) e a Pedra do Baú (o Monte Barão), que
compõem “o complexo do Baú”. Como curiosidade cito que o Bauzinho, visto de
longe, assemelha-se à cabeça de um dócil cachorrinho...
A bem
da verdade, devemos dizer que a pedra Ana
Chata é também belíssima!
Mas,
lenda é lenda...
“O tesouro que subiu, subiu, subiu...”
Contam
as tradições lá pelos lados da Mantiqueira que em tempos que a memória quase
esqueceu, por aquelas bandas vivia um povo primitivo, agraciado pelo solo de
terras férteis, ouro e pedras preciosas.
Um
mercador que passou por ali trocou quinquilharias por grande quantidade de
peças trabalhadas inteiramente do metal nobre, com incrustações de gemas raras.
Amealhou assim, imenso tesouro. Certa vez, sentindo sede, colocou o baú
que guardava o tesouro sobre uma pedra e saiu à procura de água, logo
encontrando uma fonte de inigualável pureza, que atendeu sua sede. Porém,
quando retornava para apanhar sua fortuna, eis que a pedra sobre a qual
repousava o baú começou a crescer, crescer, crescer... Aumentando de tamanho
sem parar, em todas as direções. Nisso, uma bola de fogo passou sobre o imenso
rochedo que se formara e só então parou de crescer. Mas já estava perto do
céu... Desesperado, o mercador tentou por longos tempos ir até lá em cima
buscar seu tesouro, mas todas as tentativas não prosperaram. Ele então cavou
uma caverna na base da grande pedra e lá permanece até hoje e lá ficará até o
fim dos tempos.
OBS:
Essa lenda parece justificar o estranho fato da Pedra do Baú, de fato, ter uma
misteriosa “intolerância” com visitantes, além de possuir uma imensa quão
inexplicável quantidade de terra, que sustenta grandes árvores.
Quanto
à aludida “intolerância”, basta dizer que a pedra apenas em 1940 “autorizou sua
escalada” a um bom e valoroso homem (Antônio Cortez), o qual ajudou seu irmão a
também subir. Logo depois, João Cortez foi contratado por tradicional família
de São Paulo (Villares) para construir uma pousada lá no topo. Dessa pousada,
construída com tanto zelo e carinho e inaugurada solenemente em
12.Janeiro.1947, com sino e para-raios, hoje apenas existem vestígios, pois foi
inteiramente destruída por vândalos... As várias imagens religiosas ali
colocadas por peregrinos sempre desapareceram.
“A Mãe do Ouro”
Diziam
os matutos da região que lá no topo da Pedra havia uma lagoa, onde, nas noites
de lua cheia uma mulher vestida de branco, muito bela e de cabelos dourados,
vinha cantar lindas canções de amor para atrair aqueles que se atrevessem e
admirar seus encantos. Essa dama vigiava um fabuloso tesouro e quem se
aproximasse do local era assim envolvido por ela e sumia...
Por que não?
1.
Como ponto turístico, a Pedra do Baú é de inimaginável potencial;
2. O
acesso à Pedra se mantém difícil, sem a desejável infra-estrutura;
3. O
município de São Bento do Sapucaí, que detém o território da Pedra do Baú,
promulgou a Lei 07/87, declarando de proteção ambiental toda a área num raio de
4 km a partir da base. Salvo engano, isso vem impedindo estradas de acesso, que
exigem terraplanagem e eventuais construções de apoio;
4. Um
miniférico unindo, de um lado, a Pedra do Baú ao Bauzinho (em Campos do Jordão)
e do outro indo à pedra Ana Chata (em S.B.Sapucaí), no estilo do bondinho do
Pão de Açúcar, que une o Pão de Açúcar ao Morro da Urca e deste à Praia
Vermelha (no Rio de Janeiro) traria para ambos os municípios paulistas um incalculável
incremento de turismo;
5. Nas
encostas das três pedras também se poderá pensar em elevadores panorâmicos;
6. A
Pedra do Baú é para ser amada. É uma das infinitas obras-primas de Deus!
* * *
Alguns
dados foram extraídos da obra “PEDRA DO BAÚ” (Bianchi Editores, 1988,
Itaquaquecetuba/SP), da sambentista-autora Isaura
Aparecida de Lima Silva, que em 1990 prefaciou nosso exemplar.
* * *
Captei
as imagens da internet, as quais, imagino, são de “domínio público”.
Eurípedes Kühl
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente! Abraço do fã...
ResponderExcluirEXCELENTE!!!
ResponderExcluirUM APRENDIZADO E TANTO COM O CULTO E SÁBIO AMIGO EURÍPEDES KUHL.
Fernando Rosemberg Patrocínio
Artigo maravilhoso!!Parabéns papai!!
ResponderExcluirLeitura interessante. Os mistérios da natureza...
ResponderExcluirLeitura interessante. Os mistérios da natureza...
ResponderExcluirExcelente descrição de local pouquíssimo conhecido.
ResponderExcluirParabéns Eurípedes,
Este comentário foi removido pelo autor.
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