terça-feira, 10 de novembro de 2015

Pedra do Baú (A Rainha da Mantiqueira)


Pedra do Baú
- A rainha da Mantiqueira –

Ela é fascinante!
Sua beleza transcende ao humano e se assenta no divino!
Sua enorme estatura dá-lhe natural imponência, mas sem arrogância.
Admirável que tanto e tamanho poder esteja indene ao exclusivismo.
Sobre causar admiração, seu halo de profunda paz induz a imenso respeito...
Criatura não há sobre a Terra que lhe pondo o olhar por ela não se apaixone...
Verdadeira rainha: soberana do reinado que é a Serra da Mantiqueira.
Tal é a Pedra do Baú!

— Onde ela está?
No sopé da Pedra do Baú homens de muitos tempos atrás[1] fundaram o município de São Bento do Sapucaí, a leste do Estado de São Paulo, numa altitude de 900 metros. Clima de montanha, gostoso, saudável.
Ali, no epicentro das lindas montanhas da Serra da Mantiqueira, que cercam o lugar, a Natureza ergueu do chão às alturas do céu, um gigante de granito, que os índios já chamavam de Embahú, isto é, “vigia”, na língua tupi-guarani.
Se o farol — namorando estrelas — arremessa luz na amplidão do mar, a Pedra do Baú — namorando o Sol — não lhe fica atrás, arremessando sua inconfundível imagem através de pastos, relvas, campinas, ravinas, árvores, matos e montes, podendo ser vista de 52 cidades!
Isso mesmo, vamos repetir: 52 cidades!
No alto da Pedra, durante o dia, não será mesmo possível divisar todas essas cidades, mas em noites sem Lua e com teto alto, logo após a hora da Ave Maria, ao acenderem-se as lâmpadas daquelas cidades, então sim, podem ser vistas. Visão fantástica!
Por aquelas bandas trilharam ou viveram muitos escravos, caboclos e tropeiros, além de muitos bandeirantes, transitando atalhos para chegar às “minas”.
Testemunha ocular de milênios sobre milênios, a Pedra do Baú, altaneira, aparentemente muda, neutra e inerte, para logo faz com que o observador se convença do contrário: num paradoxal registro de formidável eloquência e participação, atesta que a tudo fotografou, de tudo participou e tudo guardou.
Viria daí a inescapável sinonímia de “Baú”?...
(Baú = caixa ou mala, de folha ou madeira, retangular, com tampa geralmente convexa, destinada a guardar valores, tesouros, lembranças..)
— Como ela é?
Com certeza ela fez parte dos primeiros instantes da criação do mundo.
É uma grande rocha de arenito.
Situa-se a 1950 metros acima do nível do mar.
Mede 340 metros de altura, 540 metros de comprimento e sua largura, medida também em metro é variável, indo de 40, a 30, a 2 e até mesmo a apenas 1.
É inteiramente protegida por florestas, ao seu derredor, nas bases.
Seus flancos são de escarpas íngremes, de dificílima escalada.
Na subida há abismos de até 180 metros!
Por volta de 1943 iniciou-se a construção de uma escada com 602 degraus. Em 1945 o Bispo de Taubaté benzeu o local. Depois disso também foram cravados na rocha 370 degraus de ferro, que após serem escalados, chegava-se ao topo: uma altura de 1964m, ofertando privilegiada e fantástica vista de 360° (4 pontos cardeais). Em 1947, lá no alto, foi inaugurado um abrigo para pousada.
Pesquisas demonstraram que ela tem em seu interior várias cavernas e grutas, muitas das quais ainda não puderam ser devidamente exploradas. Talvez nunca sejam...
Brisas acariciantes, quanto ventos fortes, sopram por ali.  Mas... tempestades, podem irromper em segundos... (Eu e minha família fomos surpreendidos por uma). Também já presenciamos voo livre (de asa delta ou paraglider) de aventureiros que após se lançarem lá do alto, ainda subiram bastante (!) — por correntes de ar ascendentes.

Mistérios da Pedra do Baú
- Há um intrigante fato por ali: quando se atira um objeto qualquer no abismo, ele desce um pouco e depois sobe, indo cair do lado oposto. Fica pairando no ar e aí desce, devagar...
- No topo há grande quantidade de terra e árvores, algumas de grossos troncos, induzindo-nos a identificar um primeiro mistério, sem qualquer conotação de lenda: como é que tanta terra foi parar lá em cima? Resposta-hipótese que aflora à mente é a de que a pedra nasceu de repente, de baixo para cima, levando terra e plantas no topo... Talvez uma súbita irrupção vulcânica, seguida de chuvas fortes sobre a lava, que o tempo (milhões de anos, talvez) se encarregou de transformar em terra fértil...
- Numa gruta profunda e de difícil acesso, bem no alto da Pedra, denominada “Gruta de Nossa Senhora de Lurdes”, foi colocada uma imagem dessa Santa. A gruta é úmida e escorre água de suas paredes, água essa que alguns devotos acreditam ser milagrosa. Detalhe: retirada a imagem da gruta a água seca...

“A toca misteriosa”
A Pedra do Baú, verdadeiramente, é um fantástico cofre lacrado da Natureza, guardando segredos, pois em seu interior, que é oco (!), existem tocas e cavernas que até hoje não puderam (ou que elas não permitiram...) ser exploradas.
Por exemplo: há uma toca que fica na base da Pedra do Baú, desprovida de oxigênio, pois apaga velas e tochas; as lanternas ali só iluminam densa neblina...
Embora essa toca ofereça abrigo para muitas pessoas, à medida que se tenta ir adiante, para o fundo, só se chega a uns vinte metros, pois logo se afunila e sabe-se que há grande, escuro e “infinito” abismo, pois as pedras jogadas jamais chegam ao fim...


A primeira escalada
Autêntica epopeia: Antônio Teixeira de Souza Filho (08.08.1889-31.12.1973), humilde sambentista, da infância à fase adulta passou tentando escalar a fabulosa pedra, sem consegui-lo. Até que aos 51 anos, no dia 11 de agosto de 1940, combinou com o irmão que no dia seguinte, juntos, novamente tentariam a grande subida. Foi dormir e sonhou...
O sonho: viajava à conquista do Gigante de granito e à sua frente apareceu uma mulher idosa, cabelos compridos, metade pretos, metade brancos. Ao se aproximar viu que era uma linda moça, que fez referências à família dele. Algo constrangido por tê-la convidado a seguir com ele, deixou-a e saiu correndo, ouvindo ela dizer-lhe: “vá com Deus, vá com Deus”.
Nesse preciso momento, foi acordado pelo irmão que viera buscá-lo para o grande tentame. Antes de despertar por completo do sonho pôde divisar mentalmente, de forma precisa, um caminho — o caminho que deveria trilhar, para conseguir chegar ao alto.
Dito e feito! Aliando uma vontade férrea e destemor, materializou o sonho acalentado desde criança com o sonho de há pouco. E venceu! Embora perigosíssima, a rota entrevista no sonho levou-o ao topo!

— Lendas...
Inescapável que tal exuberância fizesse brotar uma multidão de lendas.
As mais conhecidas:

Os três irmãos”
- Em tempos imemoriais, três irmãos se retiraram do convívio humano e foram viver “vida santa” naquelas paragens. O mais velho se chamava “Monte Barão” e suas duas irmãs, Ana e Silvané. Ana não tinha atrativos físicos, sendo cognominada de Ana Chata. Quanto a Silvané, era lindíssima. Cedendo a uma terrível tentação, o irmão não soube vencer ao ímpio sentimento de sentir-se indigna e irresistivelmente atraído para Silvané. Sob grande duelo íntimo de emoções, entre o bem e o mal, inflamado de desejos, tentou seduzi-la. Nesse momento a Natureza desencadeou a força do bem e num átimo fez com que vulcões entrassem em erupção.
Os três irmãos, alcançados pelas forças sobrenaturais se metamorfosearam em pedras, que próximos, mas sem se tocar, rumariam para a eternidade...
Segundo essa lenda, as três pedras são o Bauzinho (Silvané); Ana Chata (Ana) e a Pedra do Baú (o Monte Barão), que compõem “o complexo do Baú”. Como curiosidade cito que o Bauzinho, visto de longe, assemelha-se à cabeça de um dócil cachorrinho...
A bem da verdade, devemos dizer que a pedra Ana Chata é também belíssima!
Mas, lenda é lenda...

“O tesouro que subiu, subiu, subiu...”
Contam as tradições lá pelos lados da Mantiqueira que em tempos que a memória quase esqueceu, por aquelas bandas vivia um povo primitivo, agraciado pelo solo de terras férteis, ouro e pedras preciosas.
Um mercador que passou por ali trocou quinquilharias por grande quantidade de peças trabalhadas inteiramente do metal nobre, com incrustações de gemas raras. Amealhou assim, imenso tesouro. Certa vez, sentindo sede, colocou o baú que guardava o tesouro sobre uma pedra e saiu à procura de água, logo encontrando uma fonte de inigualável pureza, que atendeu sua sede. Porém, quando retornava para apanhar sua fortuna, eis que a pedra sobre a qual repousava o baú começou a crescer, crescer, crescer... Aumentando de tamanho sem parar, em todas as direções. Nisso, uma bola de fogo passou sobre o imenso rochedo que se formara e só então parou de crescer. Mas já estava perto do céu... Desesperado, o mercador tentou por longos tempos ir até lá em cima buscar seu tesouro, mas todas as tentativas não prosperaram. Ele então cavou uma caverna na base da grande pedra e lá permanece até hoje e lá ficará até o fim dos tempos.
   OBS: Essa lenda parece justificar o estranho fato da Pedra do Baú, de fato, ter uma misteriosa “intolerância” com visitantes, além de possuir uma imensa quão inexplicável quantidade de terra, que sustenta grandes árvores.
            Quanto à aludida “intolerância”, basta dizer que a pedra apenas em 1940 “autorizou sua escalada” a um bom e valoroso homem (Antônio Cortez), o qual ajudou seu irmão a também subir. Logo depois, João Cortez foi contratado por tradicional família de São Paulo (Villares) para construir uma pousada lá no topo. Dessa pousada, construída com tanto zelo e carinho e inaugurada solenemente em 12.Janeiro.1947, com sino e para-raios, hoje apenas existem vestígios, pois foi inteiramente destruída por vândalos... As várias imagens religiosas ali colocadas por peregrinos sempre desapareceram.

A Mãe do Ouro”
Diziam os matutos da região que lá no topo da Pedra havia uma lagoa, onde, nas noites de lua cheia uma mulher vestida de branco, muito bela e de cabelos dourados, vinha cantar lindas canções de amor para atrair aqueles que se atrevessem e admirar seus encantos. Essa dama vigiava um fabuloso tesouro e quem se aproximasse do local era assim envolvido por ela e sumia...

Por que não?
1. Como ponto turístico, a Pedra do Baú é de inimaginável potencial;
2. O acesso à Pedra se mantém difícil, sem a desejável infra-estrutura;
3. O município de São Bento do Sapucaí, que detém o território da Pedra do Baú, promulgou a Lei 07/87, declarando de proteção ambiental toda a área num raio de 4 km a partir da base. Salvo engano, isso vem impedindo estradas de acesso, que exigem terraplanagem e eventuais construções de apoio;
4. Um miniférico unindo, de um lado, a Pedra do Baú ao Bauzinho (em Campos do Jordão) e do outro indo à pedra Ana Chata (em S.B.Sapucaí), no estilo do bondinho do Pão de Açúcar, que une o Pão de Açúcar ao Morro da Urca e deste à Praia Vermelha (no Rio de Janeiro) traria para ambos os municípios paulistas um incalculável incremento de turismo;
5. Nas encostas das três pedras também se poderá pensar em elevadores panorâmicos;
6. A Pedra do Baú é para ser amada. É uma das infinitas obras-primas de Deus!
                             *               *               *
Alguns dados foram extraídos da obra “PEDRA DO BAÚ” (Bianchi Editores, 1988, Itaquaquecetuba/SP), da sambentista-autora Isaura Aparecida de Lima Silva, que em 1990 prefaciou nosso exemplar.

                                     *               *               *
Captei as imagens da internet, as quais, imagino, são de “domínio público”.

                             Ribeirão Preto/SP – Verão de 2006

                                             Eurípedes Kühl





 São Bento do Sapucaí foi fundada no ano de 1819, por José Pereira Alves  -  (NE)


PEDRA DO BAÚ – Vista de São Bento de Sapucaí/SP
      (À esquerda da Pedra do Baú é o Bauzinho, lembrando a figura da cabeça de um cachorro):




               PEDRA DO BAÚ – Vista aérea, de Campos do Jordão
                                    (Seta indica turistas, no Bauzinho, olhando para a Pedra do Baú):



8 comentários:

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  2. EXCELENTE!!!
    UM APRENDIZADO E TANTO COM O CULTO E SÁBIO AMIGO EURÍPEDES KUHL.
    Fernando Rosemberg Patrocínio

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  3. Artigo maravilhoso!!Parabéns papai!!

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  4. Leitura interessante. Os mistérios da natureza...

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  5. Leitura interessante. Os mistérios da natureza...

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  6. Excelente descrição de local pouquíssimo conhecido.
    Parabéns Eurípedes,

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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