sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Artigo - Formas-Pensamento


A propósito de ideias fixas, obsessivas, essa fixação e a prolongada manutenção desse estado psíquico torna-as perigosas, pois tendem a “criar vida” na mente de quem as emulou e as energiza, ininterruptamente. Esses seres mentais assim criados seriam as chamadas formas-pensamento, bem definidos pelo Espiritismo e pela Teosofia, além de outras correntes do pensamento religioso, as quais tornariam cansativa sua dissertação.
Transcrevo abaixo elucidativas e úteis reflexões sobre o tema:

Do Espiritismo:
Na “Doutrina dos Espíritos”, cuja codificação é devida a Allan Kardec (pseudônimo do professor Léon Hypollite Denizar Rivail, consagrado intelectual francês – 1804-1869), em seu livro “A Gênese”, de 1868, está registrado no Cap XIV, item 14:
Pelo pensamento os Espíritos imprimem aos fluidos espirituais tal ou qual direção, aglomerando-os, apresentando uma aparência, uma forma.
Vemos ainda no item 18:
O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais, como o dos desencarnados, e se transmite de Espírito a Espírito.
E no item 20:
O pensamento, portanto, produz uma espécie de efeito físico que reage sobre o moral.
No livro “Universo e Vida”, do autor espiritual Áureo, psicografia de Hernani T.Sant´Anna, p. 80, 5ª Ed., 1998, FEB, Rio/RJ, encontramos:
Necessário entendamos que as formas-pensamentos(sic) nem sempre são concentrações energéticas facilmente desagregáveis. Conforme a natureza ídeo-emotiva de sua estrutura e a intensidade e constância dos pensamentos de que se nutrem, podem tornar-se verdadeiros carcinomas, monstruosos “seres” automatizados e atuantes, certamente transitórios, mas capazes, em certos casos de subsistir até por milênios inteiros de tempo terrestre, antes de desfazer-se.

Da Teosofia:
O cientista italiano Ernesto Bozzano (1862-1943) realizou diversos experimentos para a detecção das chamadas formas-pensamento (usando inclusive da fotografia) e cita em sua obra Pensamento e vontade[1] os pesquisadores teosofistas Annie Besant e C. W. Leadbeater (livro Thought-Forms = “Formas de Pensamento”), apresentando o seguinte trecho explicativo com relação ao tema:
Todo pensamento cria uma série de vibrações na substância do corpo mental, correspondentes à natureza do mesmo pensamento, e que se combinam em maravilhoso jogo de cores, tal como se dá com as gotículas de água desprendidas de uma cascata, quando atravessadas pelo raio solar, apenas com a diferença de maior vivacidade e delicadeza de tons.
O ‘corpo mental’, graças ao impulso do pensamento, exterioriza uma fração de si mesmo, que toma forma correspondente à intensidade vibratória, tal como o pó de licopódio que, colocado sobre um disco sonante, dispõe-se em figuras geométricas, sempre uniformes com as notas musicais emitidas.
Ora, este estado vibratório da fração exteriorizada do ‘corpo mental’ tem a propriedade de atrair a si, no meio etéreo, substância sublimada análoga à sua.
Assim é que se produz uma ‘forma-pensamento’, que é, de certo modo, uma entidade animada de intensa atividade, a gravitar em torno do pensamento gerador...”.
(Livro “Formas de Pensamento”, A.Besant e C.W.Leadbeater, 1969, Ed.Pensamento,SP/SP)
A Teosofia considera ainda que Formas-Pensamentos são "elementais artificiais, assim chamadas porque são formas dadas a uma porção de essência elemental pelos pensamentos da Humanidade e podem operar sobre o homem de maneira benéfica ou maléfica, segundo a natureza de tais formas mentais".
Registra também a Sociedade Teosófica[2] que as formas-pensamento são elementais artificiais, dirigidas por uma pessoa a outra, com as seguintes propriedades:
Os pensamentos de ódio, de vingança, de despeito, formam legiões de elementais artificiais que exercem ação deprimente sobre os homens[3].
Helena P. Blavatsky, (1831-1891), fundadora da Sociedade Teosófica, in The Theosophist, Vol. I No. 8, maio, 1880, pp. 207-208, tratando de um caso de obsessão, assim se expressa:
Hindus e budistas acreditam igualmente que pensamento e ação são coisas materiais, que subsistem, que os maus e bons desejos de um homem o envolvem num mundo de sua própria criação, que estes desejos e pensamentos assumem formas que se tornam reais pare ele após a morte, e que Moksha (liberação), em um caso, e Nirvana (pelo Budismo: ausência de dor e posse da verdade), em outro, não podem ser atingidos até que a alma desencarnada tenha atravessado totalmente esse mundo-sombra dos pensamentos obsessivos, e se despojado de sua última mácula terrestre.

A Física, da qual nossos conhecimentos, por escassos e oficiosos aqui comparecem de contrabando, tem como certeza científica de que as vibrações, se uníssonas, podem ser altamente destrutivas, haja vista o exemplo de um batalhão que passando por uma ponte em “passo ordinário” pode provocar seu desabamento.
Daí emerge, agora no terreno das milenares observações populares, que “a união faz a força”, isto é, “unidos, jamais seremos vencidos”. No caso, pedreiros podem construir uma bela ponte, o que demora meses, contudo, em menos de um minuto um batalhão pode destruí-la, apenas marchando.
Forças conjugadas, feliz ou infelizmente, para o bem ou para o mal...
Tudo isso sem nos referirmos à destruição causada por poderosíssima vibração da turbina de um avião a jato, que sai de um mergulho ao aproximar-se em alta velocidade de construções.
Estudiosos espiritualistas diversos afirmam que formas-pensamentos são construções mentais que, partindo de uma origem (a mente de alguém) no mesmo instante projetam-se conduzidas por correntes eletromagnéticas mentais em direção ao endereço sobre o qual há a emissão da ideia fixa. Em chegando ao ponto mentalizado, que pode ser uma região, um objeto ou mesmo a mente de outra pessoa, muitos podem ser os destinos dessas formas-pensamentos. Um deles, e quase sempre é o que mais acontece, esses verdadeiros “torpedos mentais” atingem em cheio o alvo, eis que encontram receptividade, pelo desguarnecimento moral por parte da pessoa responsável pelo objetivo buscado.
Qualquer que seja a nomenclatura para um pensamento fixo, ou uma obsessão, compreendendo-se isso como fixação mental, a única barreira capaz de sustar-lhes a ação é aquela do Novo Testamento, na conduta sugerida por Jesus, quando aconselhou que estivéssemos em constante oração e vigilância[4].
Jesus recomendou ainda (Mateus 5:27):
 “Tendes ouvido o que foi dito: Não cometerás adultério. Mas eu vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher com mau desejo já cometeu no seu coração adultério com ela”.
O Cristo, que sabia de todas as coisas do mundo, aconselhava enfaticamente a prudência e que o homem orasse. E vigiasse seu pensamento.
Não objeta à razão deduzir que o Mestre assim procedia para o bem de todo aquele que considera que, em não fazendo algo errado ou proibido, se “só pensar” sobre esse algo, não é pecado...
Obviamente, entre “pensar e fazer” e só “pensar”, há gradação diferenciada diante dos Estatutos Divinos: atenuantes, no segundo caso, mas não extinção.
— E, francamente, quem de nós consegue manter sempre tal conduta?
Um outro fator que sobressai sobre a atividade de uma forma-pensamento (ou “elemental artificial”) é a sua propriedade corporativa: no caminho em direção ao alvo, a corrente eletromagnética mental, cruzando ou encontrando com outras que tenham igual intensidade, no mesmo instante se acopla a elas. Aí, quando chega ao destino, já não tem a força da origem, mas sim, está muito mais potente.
Corporificando essas reflexões, não objeta inferir que pelas propriedades do espírito, de sintonia ou barreira (receptividade ou repulsão) às correntes mentais que circulam incessantemente por toda a psicosfera terrena, tem-se que o resultado, invariavelmente, será determinado pela intenção, tanto da fonte emissora, quanto do objetivo buscado.

Antes da Ciência, Psiquiatria em particular, as tradições esotéricas, bem como as correntes espiritualistas, têm como possibilidade que pensamentos fixos desembocam em obsessão.
E para a obsessão, várias são as vertentes explicativas, científicas e esoteristas. Vejamos algumas:
O Esoterismo leciona: Existe uma substância que envolve os nossos corpos astrais e mentais que são denominadas essências elementais. Essas essências elementais são uma matéria viva, que possuem inteligência própria e respondem muito fácil e rapidamente à influência do sentimento e pensamento humanos. Disso pode-se inferir que a cada pensamento/sentimento que temos, uma onda de vibração é enviada no éter, se reveste da essência elemental, primeiramente a astral e em seguida a mental. Assim são formados os elementais artificiais, que são uma espécie de criatura viva de intensa atividade.
(Como se nota, não há diferença expressiva de conceito, ante as reflexões já apresentadas, de várias fontes).
Psiquiatria - obsessão é uma mania, um pensamento fixo recorrente, do qual a pessoa somente consegue se libertar com ajuda profissional.
Psicologia - obsessão é decorrente de um transtorno obsessivo compulsivo. O diagnóstico do comportamento obsessivo é alcançado à vista das perturbações causadas pela ansiedade oriundas de pensamentos e ideias que teimam em se repetir, indo e voltando sem parar, a ponto de causar mal-estar no indivíduo (o paciente, no caso), quando não, torná-lo candidato a contrair doenças físicas.
O paciente percebe-se presa de uma ideia recorrente, mas não consegue livrar-se dela, ocupando grande parte do seu tempo com essa ideia, pelo que sofre com isso, já que suas atividades normais são prejudicadas, ou mesmo não realizadas.
Espiritismo - É de Kardec a definição:
Obsessão: É a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo[5].
A escritora espírita Suely Schubert Caldas comenta e opina[6]:
Obsessão — do latim obsessione — Impertinência, perseguição, vexação. Preocupação com determinada ideia, que domina doentiamente o espírito, e resultante ou não de sentimentos recalcados; ideia fixa; mania.
Vulgarmente a palavra obsessão é usada para significar ideia fixa em alguma coisa, gerando um estado mental doentio.

Em todas as circunstâncias citadas de obsessão, o que resulta é que se trata de um estado psíquico mórbido.
Já formas-pensamentos podem ser boas ou más; aquelas são benéficas, estimulantes, construtivas; estas produzem sofrimento.
Aqui foram inseridas reflexões sobre formas-pensamentos e sobre obsessão porque o mal decorrente da inveja e da cobiça (mas não apenas destes infelizes sentimentos, como de outros também equivocados) caracteriza-se como obsessivo, isto é, de caráter mais ou menos longo, oculto, de difícil diagnóstico e cura.





[1] BOZZANO, Ernesto. Pensamento e vontade. Rio de Janeiro, Federação Espírita Brasileira, RJ/RJ.
[2] Sociedade Teosófica: fundada sob o título de The Theosophical Society, em 17 de novembro de 1875, em Nova York, por Helena Petrovna Blavatsky [1831-1891], em colaboração com o Coronel Henry Stell Olcott [1832-1907], que foi seu primeiro presidente e depois se lhe juntaram outros pensadores, com o que consolidou-se o movimento teosófico no mundo. Atualmente tem sede em Adyar, Madras (Índia).
[3] In “O ensino dos mahatmas” (Teosofia), de Alberto Lyra, p. 143, 1977, Ed. Ibrasa, SP/SP.
[4] Mateus, 26:41 (“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca”).
[5] O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec: Cap 28, item 81, Ed. PETIT, SP/SP
[6] Obsesssão/Desobsessão, Cap. 3, 9ª Ed., 1994,  Fed.Espírita Brasileira, RJ/RJ.

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