A propósito de ideias fixas, obsessivas, essa
fixação e a prolongada manutenção desse estado psíquico torna-as perigosas,
pois tendem a “criar vida” na mente de quem as emulou e as energiza,
ininterruptamente. Esses seres mentais assim criados seriam as chamadas formas-pensamento,
bem definidos pelo Espiritismo e pela Teosofia, além de outras correntes do
pensamento religioso, as quais tornariam cansativa sua dissertação.
Transcrevo abaixo elucidativas e úteis
reflexões sobre o tema:
Do Espiritismo:
Na “Doutrina dos Espíritos”, cuja codificação
é devida a Allan Kardec (pseudônimo do professor Léon Hypollite Denizar Rivail,
consagrado intelectual francês – 1804-1869), em seu livro “A Gênese”, de 1868,
está registrado no Cap XIV, item 14:
Pelo pensamento os Espíritos imprimem aos fluidos espirituais tal ou qual
direção, aglomerando-os, apresentando uma aparência, uma forma.
Vemos ainda no item 18:
O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos espirituais, como o dos
desencarnados, e se transmite de Espírito a Espírito.
E no item 20:
O pensamento, portanto, produz uma espécie de efeito físico que reage
sobre o moral.
No livro “Universo e Vida”, do autor
espiritual Áureo, psicografia de Hernani T.Sant´Anna, p. 80, 5ª Ed., 1998, FEB,
Rio/RJ, encontramos:
Necessário entendamos que as formas-pensamentos(sic) nem sempre são
concentrações energéticas facilmente desagregáveis. Conforme a natureza
ídeo-emotiva de sua estrutura e a intensidade e constância dos pensamentos de
que se nutrem, podem tornar-se verdadeiros carcinomas, monstruosos “seres”
automatizados e atuantes, certamente transitórios, mas capazes, em certos casos
de subsistir até por milênios inteiros de tempo terrestre, antes de
desfazer-se.
Da Teosofia:
O cientista italiano
Ernesto Bozzano (1862-1943) realizou diversos experimentos para a detecção das
chamadas formas-pensamento (usando inclusive da fotografia) e cita em sua obra Pensamento
e vontade[1]
os pesquisadores teosofistas Annie Besant e C. W. Leadbeater (livro Thought-Forms
= “Formas de Pensamento”), apresentando o seguinte trecho explicativo com
relação ao tema:
Todo pensamento cria uma série de vibrações na
substância do corpo mental, correspondentes à natureza do mesmo pensamento, e
que se combinam em maravilhoso jogo de cores, tal como se dá com as gotículas
de água desprendidas de uma cascata, quando atravessadas pelo raio solar,
apenas com a diferença de maior vivacidade e delicadeza de tons.
O ‘corpo mental’, graças ao impulso do pensamento, exterioriza
uma fração de si mesmo, que toma forma correspondente à intensidade vibratória,
tal como o pó de licopódio que, colocado sobre um disco sonante, dispõe-se em
figuras geométricas, sempre uniformes com as notas musicais emitidas.
Ora, este estado vibratório da fração exteriorizada do
‘corpo mental’ tem a propriedade de atrair a si, no meio etéreo, substância
sublimada análoga à sua.
Assim é que se produz uma ‘forma-pensamento’, que é, de
certo modo, uma entidade animada de intensa atividade, a gravitar em torno do
pensamento gerador...”.
(Livro “Formas de
Pensamento”, A.Besant e C.W.Leadbeater, 1969, Ed.Pensamento,SP/SP)
A Teosofia considera ainda que Formas-Pensamentos
são "elementais artificiais, assim
chamadas porque são formas dadas a uma porção de essência elemental pelos
pensamentos da Humanidade e podem operar sobre o homem de maneira benéfica ou
maléfica, segundo a natureza de tais formas mentais".
Registra
também a Sociedade Teosófica[2] que as formas-pensamento são elementais
artificiais, dirigidas por uma pessoa a outra, com as seguintes propriedades:
Os pensamentos de ódio, de vingança, de despeito, formam legiões de
elementais artificiais que exercem ação deprimente sobre os homens[3].
Helena P. Blavatsky, (1831-1891), fundadora da
Sociedade Teosófica, in
The Theosophist, Vol. I No. 8, maio, 1880, pp. 207-208, tratando de um caso de
obsessão, assim se expressa:
Hindus
e budistas acreditam igualmente que pensamento e ação são coisas materiais, que
subsistem, que os maus e bons desejos de um homem o envolvem num mundo de sua
própria criação, que estes desejos e pensamentos assumem formas que se tornam
reais pare ele após a morte, e que Moksha (liberação), em um caso, e Nirvana (pelo
Budismo: ausência de dor e posse da verdade), em outro, não podem ser atingidos
até que a alma desencarnada tenha atravessado totalmente esse mundo-sombra dos
pensamentos obsessivos, e se despojado de sua última mácula terrestre.
A Física, da qual nossos conhecimentos, por
escassos e oficiosos aqui comparecem de contrabando, tem como certeza
científica de que as vibrações, se uníssonas, podem ser altamente destrutivas,
haja vista o exemplo de um batalhão que passando por uma ponte em “passo
ordinário” pode provocar seu desabamento.
Daí emerge, agora no terreno das milenares
observações populares, que “a união faz a força”, isto é, “unidos, jamais
seremos vencidos”. No caso, pedreiros podem construir uma bela ponte, o que
demora meses, contudo, em menos de um minuto um batalhão pode destruí-la,
apenas marchando.
Forças conjugadas, feliz ou infelizmente, para
o bem ou para o mal...
Tudo isso sem nos referirmos à destruição
causada por poderosíssima vibração da turbina de um avião a jato, que sai de um
mergulho ao aproximar-se em alta velocidade de construções.
Estudiosos espiritualistas diversos afirmam
que formas-pensamentos são construções mentais que, partindo de uma origem (a
mente de alguém) no mesmo instante projetam-se conduzidas por correntes
eletromagnéticas mentais em direção ao endereço sobre o qual há a emissão da ideia
fixa. Em chegando ao ponto mentalizado, que pode ser uma região, um objeto ou
mesmo a mente de outra pessoa, muitos podem ser os destinos dessas
formas-pensamentos. Um deles, e quase sempre é o que mais acontece, esses
verdadeiros “torpedos mentais” atingem em cheio o alvo, eis que encontram
receptividade, pelo desguarnecimento moral por parte da pessoa responsável pelo
objetivo buscado.
Qualquer que seja a nomenclatura para um
pensamento fixo, ou uma obsessão, compreendendo-se isso como fixação mental, a
única barreira capaz de sustar-lhes a ação é aquela do Novo Testamento, na
conduta sugerida por Jesus, quando aconselhou que estivéssemos em constante
oração e vigilância[4].
Jesus recomendou ainda (Mateus 5:27):
“Tendes ouvido o que foi dito: Não cometerás
adultério. Mas eu vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher com mau
desejo já cometeu no seu coração adultério com ela”.
O Cristo, que sabia de
todas as coisas do mundo, aconselhava enfaticamente a prudência e que o homem
orasse. E vigiasse seu pensamento.
Não objeta à razão
deduzir que o Mestre assim procedia para o bem de todo aquele que considera
que, em não fazendo algo errado ou proibido, se “só pensar” sobre esse algo,
não é pecado...
Obviamente, entre “pensar
e fazer” e só “pensar”, há gradação diferenciada diante dos Estatutos Divinos:
atenuantes, no segundo caso, mas não extinção.
— E, francamente, quem de nós consegue manter
sempre tal conduta?
Um outro fator que sobressai sobre a atividade
de uma forma-pensamento (ou “elemental artificial”) é a sua propriedade
corporativa: no caminho em direção ao alvo, a corrente eletromagnética mental,
cruzando ou encontrando com outras que tenham igual intensidade, no mesmo
instante se acopla a elas. Aí, quando chega ao destino, já não tem a força da
origem, mas sim, está muito mais potente.
Corporificando essas reflexões, não objeta
inferir que pelas propriedades do espírito, de sintonia ou barreira
(receptividade ou repulsão) às correntes mentais que circulam incessantemente
por toda a psicosfera terrena, tem-se que o resultado, invariavelmente, será
determinado pela intenção, tanto da fonte emissora, quanto do objetivo buscado.
Antes da Ciência, Psiquiatria em particular,
as tradições esotéricas, bem como as correntes espiritualistas, têm como
possibilidade que pensamentos fixos desembocam em obsessão.
E para a obsessão, várias são as vertentes
explicativas, científicas e esoteristas. Vejamos algumas:
O Esoterismo
leciona: Existe uma substância que envolve os nossos corpos astrais e mentais
que são denominadas essências elementais. Essas essências elementais são uma
matéria viva, que possuem inteligência própria e respondem muito fácil e
rapidamente à influência do sentimento e pensamento humanos. Disso pode-se
inferir que a cada pensamento/sentimento que temos, uma onda de vibração é
enviada no éter, se reveste da essência elemental, primeiramente a astral e em
seguida a mental. Assim são formados os elementais artificiais, que são uma
espécie de criatura viva de intensa atividade.
(Como se nota, não
há diferença expressiva de conceito, ante as reflexões já apresentadas, de
várias fontes).
Psiquiatria - obsessão é uma mania, um pensamento fixo recorrente, do
qual a pessoa somente consegue se libertar com ajuda profissional.
Psicologia - obsessão é decorrente de um transtorno obsessivo compulsivo. O
diagnóstico do comportamento obsessivo é alcançado à vista das perturbações
causadas pela ansiedade oriundas de pensamentos e ideias que teimam em se
repetir, indo e voltando sem parar, a ponto de causar mal-estar no indivíduo (o
paciente, no caso), quando não, torná-lo candidato a contrair doenças físicas.
O paciente percebe-se presa de uma ideia
recorrente, mas não consegue livrar-se dela, ocupando grande parte do seu tempo
com essa ideia, pelo que sofre com isso, já que suas atividades normais são
prejudicadas, ou mesmo não realizadas.
Espiritismo - É de Kardec a definição:
Obsessão: É a ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um
indivíduo[5].
A escritora espírita Suely Schubert Caldas
comenta e opina[6]:
Obsessão — do latim obsessione — Impertinência, perseguição, vexação.
Preocupação com determinada ideia, que domina doentiamente o espírito, e
resultante ou não de sentimentos recalcados; ideia fixa; mania.
Vulgarmente a palavra obsessão é usada para significar ideia
fixa em alguma coisa, gerando um estado mental doentio.
Em todas as circunstâncias citadas de
obsessão, o que resulta é que se trata de um estado psíquico mórbido.
Já formas-pensamentos podem ser boas ou más;
aquelas são benéficas, estimulantes, construtivas; estas produzem sofrimento.
Aqui foram inseridas reflexões sobre formas-pensamentos
e sobre obsessão porque o mal decorrente da inveja e da cobiça (mas não
apenas destes infelizes sentimentos, como de outros também equivocados)
caracteriza-se como obsessivo, isto é, de caráter mais ou menos longo, oculto,
de difícil diagnóstico e cura.
[1] BOZZANO, Ernesto. Pensamento e vontade. Rio de
Janeiro, Federação Espírita Brasileira, RJ/RJ.
[2]
Sociedade Teosófica: fundada sob o título de The Theosophical Society, em 17 de
novembro de 1875, em Nova York, por Helena Petrovna Blavatsky [1831-1891], em
colaboração com o Coronel Henry Stell Olcott [1832-1907], que foi seu primeiro
presidente e depois se lhe juntaram outros pensadores, com o que consolidou-se
o movimento teosófico no mundo. Atualmente tem sede em Adyar, Madras (Índia).
[3] In “O ensino dos mahatmas” (Teosofia),
de Alberto Lyra, p. 143, 1977, Ed. Ibrasa, SP/SP.
[4] Mateus,
26:41 (“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação, pois o espírito está
pronto, mas a carne é fraca”).
[5] O
Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec: Cap 28, item 81, Ed. PETIT,
SP/SP
[6]
Obsesssão/Desobsessão, Cap. 3, 9ª Ed., 1994,
Fed.Espírita Brasileira, RJ/RJ.
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