sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Conto - Generosidade


GENEROSIDADE

Conheceram-se. Amaram-se. Casaram-se.
Generosamente, Deus povoou-lhes o lar com quatro filhos.
De início, uma filha: inteligente, ativa, saudável. Trouxe alegrias incontáveis à casa.
O segundo filho, ao empós de três anos da primogenitura, chegou trazendo pesadelo, eis que deficiente cerebral, organismo desuniforme, palavra tolhida. Sons inarticulados, presença difícil, perspectivas de vida para curta duração — se tanto, cinco anos.
Identificada a síndrome, instalada a tempestade.
Mágoa, inconformismo, imprecações, desespero...
Um vendaval de reações emocionais desencontradas, duramente fustigadas pela testemunhal presença de algo superior, decidindo por tão incompreendido quanto insuportável teste.
Retraimento social.
Mergulho para o interior de abismos íntimos...
O tempo — supremo dom que só Deus poderia ter criado e distribuído, para tudo e para todos —, com sua placidez de equilíbrio, acomodou aquelas almas em desalinho.
Que o Tempo traz solução para todos os problemas!
Anos depois, dois novos filhos-companheiros chegaram ao lar, gêmeos bonitos de se ver!
Pensou-se que a Natureza, talvez em termos de compensação, estivesse reparando parte do provável equívoco...
Os pais, que inúmeras vezes haviam optado pela internação do segundo filho em uma instituição especializada, sem contudo encontrar disposição para efetivar tal transferência, amoldaram-se à situação.
Ninguém pensou no sofrimento daquele pequenino ser, continente desajustado para conteúdo missionário, já que por doação, houvera suplicado, quando ainda no Plano Espiritual, tal embate terreno, para constituir-se em elo de ligação de cinco companheiros seus, de muitas épocas trás, aos quais desunira, através meios que lhes danificara corpo e Espírito.
Seu olhar, meigo, dócil, sereno, luminoso e permanentemente calmo, contrastando com o demais do equipamento orgânico danificado, produziu o milagre de reforçar respeito, tolerância, de parte a parte, de cônjuge a cônjuge, de pais a filhos, de irmãos a irmãos.
As crianças, devedoras menores do processo, ao se fazerem adultas, ao embalo da saudade dele, não passavam um único dia sem pronunciar algo sobre o irmãozinho que Deus “poupara ao sofrimento”, três anos e meio após o nascimento...
Esse nascimento foi aquilo que se pode chamar de generosidade.
Maria, Puríssimo Espírito, volva para nós e para o mundo, como para aquela família, Seu olhar generoso de Mãe Celestial.


(Mensagem do Espírito Dulcinéia, psicografia do médium Eurípedes Kühl, do livro Âncoras de Luz, 2003, Editora LEB, Bagé/RS – Edição esgotada)


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