ENTREVISTA
Euripedes Kühl, nas areias do Saara
Responsável
pelo mais recente lançamento da Petit Editora, Saara, palco de
redenção, o médium Eurípedes Kühl nasceu no interior do Estado de São
Paulo, na cidade de Igarapava. É militar do Exército, hoje na reserva.
Dedica-se a estudos e pesquisas espíritas, desenvolvendo ensaios e romances,
procurando divulgar os ensinamentos de Allan Kardec, aplicados ao cotidiano de
nossa vida, sempre em busca de temas atuais e polêmicos.
Nesta
entrevista, Eurípedes fala do Espírito
Claudinei, das visões que o envolveram durante a psicografia de seu último
livro, de suas percepções mediúnicas e da alegria de servir ao próximo divulgando a Doutrina Espírita que
vivencia, desde a infância.
1 – Quando
sentiu suas primeiras manifestações mediúnicas?
— Por volta
de 1971/1972.
2 – Em que
época iniciou seus estudos espíritas?
— Já aos seis
anos comecei a freqüentar as aulas de evangelização infantil, permanecendo como
aluno até a juventude, tendo ingressado na “mocidade espírita” aos treze anos.
3 – Como era
“ser espírita” na sua juventude, vivida no interior de São Paulo? Você foi
discriminado em algum momento?
Difícil.
Cursando o então primário, durante a aula semanal de religião — leia-se: de
Catolicismo, pois ministrada por um padre —, a professora me mandava sair e eu
ia para o pátio do Grupo Escolar, onde ficava sozinho, até acabar a dita aula.
Isso porque, ao me matricular, minha família declarou “espírita” à pergunta do
formulário, sobr e o credo religioso.
Daí, fui proibido de assistir “aulas de religião” da 2ª à 4ª série... (Na 1ª
série isso não aconteceu porque a cursei na Escola Eurípedes Barsanulfo!)
4 – Espírita
desde a infância, qual foi sua motivação para ingressar na carreira militar? No
Exercito, encontrou resistência ou oposição às suas convicções?
— Aos dezoito
anos, tendo que prestar o serviço militar, optei pelo pára-quedismo militar,
sob a motivação de saltar de pára-quedas.. No Exército, fui promovido de
soldado a capitão, ao longo de trinta e um anos de efetivo serviço castrense,
durante os quais tive a felicidade de não vivenciar nenhum conflito, nacional
ou internacional. Assim, não encontrei oposição ou conflito de ordem moral. Ao
contrário, tive a feliz oportunidade de, como tenente, participar de um Núcleo da Cruzada dos Militares Espíritas,
cuja destinação fundamental era e é divulgar aos colegas de farda que o
queiram, os ensinos de Jesus, com a ótica espírita, cristã, essencialmente. Fui
muito feliz nessa atividade.
5 – Quais são
suas tarefas e funções no centro espírita?
— Coordenar o
“Curso de Médiuns”, realizar psicografia, ministrar passes e cursos. Realizo também
palestras doutrinárias em vários Centros Espíritas.
6 – As
reuniões de psicografia de suas obr as
literárias são públicas? Qual a periodicidade em que se realizam?
— São
reservadas, em pleno recolhimento, no Centro Espírita. Semanalmente, por duas
horas. Acompanha-me minha esposa.
7 – Quem é o
dirigente espiritual dessas sessões? É o seu mentor?
— Após
leitura evangélica, o autor espiritual da obr a
em curso.
8 – Quais são
suas recomendações para quem está
despertando agora para as percepções mediúnicas?
— Estudar o
“O Livro dos Médiuns”, especialmente e com muita atenção os Cap XIII, XV, XVI e
XVII, onde Kardec trata, respectivamente, com detalhes e especificidade, dos
temas “psicografia”, “médiuns escreventes”, “médiuns especiais” e “formação dos
médiuns”.
9 –
Gostaríamos de ouvi-lo sobr e a
afirmação de que “todos nós somos médiuns”. Muitos, desconhecendo o contexto da
questão levam essa afirmação ao exagero, dando margem a interpretações
distorcidas.
— Foi Kardec,
ainda em “O Livro dos Médiuns”, Cap XVI, item 159, que disse que “todo aquele
que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato,
médium. (...) Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns”.
Mediunidade é
intercâmbio espiritual/material. Ao emitir um pensamento, quase sempre o ser
liga-se a Espíritos, encarnados, e principalmente desencarnados. Por exemplo,
tanto o bom pensamento (a prece, uma lembr ança
agradável, etc), quanto o mau (desejo de vingança, idéias criminosas, etc),
necessariamente encontrarão ressonância em outros seres, do plano material e/ou
do plano espiritual, daí advindo citado intercâmbio.
O exercício
mediúnico específico (psicofonia, psicografia, psicometria, vidência, etc)
pressupõe a eclosão de sintomas próprios, indisfarçáveis e inexoráveis, que no
tempo certo surgem na vida do médium. Este, adequando tal evento (educação da
mediunidade, por estudos e prática mediúnica a benefício do próximo),
encontrará a paz — pelo menos, o possível de paz, neste planeta.
10
– Seu trabalho de pesquisa é um referencial muito importante para aqueles que
desejam conhecer em síntese determinados temas. Essa tarefa foi inspirada pelos
espíritos? Quando iniciou esses estudos?
— Geralmente,
um determinado assunto me invade a mente, de inopino, ali permanecendo constante.
Então, começo a organizar um arquivo pessoal de notas científicas sobr e esse assunto. A seguir, vou às obr as da Codificação e às várias fontes
bibliográficas espíritas, dali extraindo referenciais espiritualistas, máxime
espíritas. Não escrevo uma única palavra. Apenas leio e memorizo. Passadas mais
ou menos duas ou três semanas, todo o material coletado se transforma em um
livro, que escrevo de um só fôlego, nele expondo o pensamento dos diversos
pensadores, mas registrando meu pensamento, minhas reflexões, minhas análises.
Nesses momentos, capto sempre um grande amparo, ou “supervisão”, de algum
Espírito amigo, irradiando apoio.
11 – Seu
livro mais recente – o romance Saara, palco de redenção – é uma
investida providencial num momento em que as atenções mundiais estão voltadas
para aquela região. Certos de que o acaso não existe, é possível revelar os
objetivos dessa publicação?
— O
entrechoque cultural, religioso e financeiro da Europa com a África (o Saara,
no caso), trazendo à nossa reflexão o fato de que o planeta Terra é uma grande
e abençoada casa/escola/oficina, de incontáveis “lares, “graus escolares” e
“oportunidades de labor”, respectivamente. Em todos, ou num ou outro deles,
teremos que morar, aprender e trabalhar, sempre que necessário à nossa
evolução. As convulsões que a guerra anunciada provocar, não só naquela região,
mas em todo o planeta, põe à mostra o quanto o homem ainda tem que evoluir. Em
contrapartida, a quantidade de protestos contra essa guerra, são um indicador
seguro de que estamos melhorando. Graças a Deus!
12 – O
Espírito Claudinei – o autor de Saara, palco de redenção – envolve o
leitor, demonstrando dominar as técnicas da narrativa. Qual é o trabalho de
Claudinei na espiritualidade? Ele faz parte da fraternidade dos Beduínos do
Bem? Qual é sua aparência espiritual? Poderia descrevê-lo?
— Claudinei é
diretor de um “posto de triagem” intermediário entre a crosta e o plano
espiritual, destinado a recolher, hospedar temporariamente e logo encaminhar a
colônias espirituais adequadas, Espíritos desencarnados em condições
traumáticas. Esse “posto de triagem” localiza-se no sul da França, na região de
Marselha. Contudo, por motivos absolutamente desconhecidos para mim, Claudinei
tem sido visto por médiuns desta cidade (Ribeirão Preto). Vi-o, poucas vezes:
aparenta ter de 40 a 45 anos de idade, tem compleição robusta, altura superior
a dois metros, traja-se de avental br anco.
Sua silhueta mostra-se com contornos luminosos. Bondade e mansidão irradiam de
pronto de sua expressão. Minha empatia com esse amigo foi instantânea.
13 – Um dos
momentos mais comoventes do livro é a conversão dos espíritos sofredores diante
da ação magnética de Samir. Gostaríamos de ouvir seu comentário sobr e esse episódio.
— Sim, gosto
muito desse trecho da narração. Remete-nos ela à questão n° 1.004 de “O Livro
dos Espíritos”, quando São Luis (Luis IX, 1214 ou 1215 – 1270, rei da França,)
esclarece que quando o sofredor se melhora, os sofrimentos diminuem e mudam de
natureza. No caso em foco, a catalisação dessa melhora pela ação de um protetor
(Samir) é algo que nos induz à auto-reforma para, quando chegar nossa hora,
sermos merecedores de tamanha graça, que exprime o amor de Deus e a caridade de
Jesus, para com os réprobos do Evangelho, que afinal somos todos nós, em maior
ou menor grau.
14 – Em
entrevista anterior, o amigo referiu-se a “imagens mentais que se processam com
velocidade” durante as sessões de psicografia, exigindo suas rápidas anotações.
Os textos são ditados ou chegam até sua mente “em blocos”? É possível explicar
melhor esse processo mediúnico?
— Com olhos
abertos ou fechados (não preciso de luminosidade) vejo os fatos por visão
mental, em processo dinâmico, ininterrupto, exigindo presteza na construção
fraseológica, que é sempre minha. De nada adiantava eu indiretamente interferir
(como fazia de início...) imaginando “sugestões inconscientes” sobr e os acontecimentos seguintes, porque o processo
invariável tem sido o de que o que vou “vendo” nada tem a ver com o que, sem
querer, “roteirizo”. Hoje, com grande esforço, consegui eliminar essa intervenção.
15 – Das
imagens que vislumbr ou durante a
psicografia de Saara, palco de redenção, qual foi a que mais o
impressionou?
— A cena do
material fluídico extraído de um camelo, de inimagináveis propriedades
curativas, para aplicação específica em
pessoas feridas que vivem no deserto. Não há como não extrair a ilação de que
Deus a tudo provê, colocando todos os seres em local adequado.
16 – Poderia
descrever para o leitor o grande amor de Teqak, a jovem Claire?
— Permita-me
falar dos dois. Ele: médico, médium de expressiva capacidade
psicométrica, sempre bem aplicada; ela, professora, semblante de grande
meiguice, denotando grande auto-controle. Apaixonados e integrados na
missionária tarefa a desempenhar junto aos habitantes da região do Saara, seu
amor pode ser enquadrado nesses raros casos de feliz união de dois seres cônscios
de suas tarefas missionárias. Formam na aparência, como se diz, “um belo
casal”. (Li, alhures, mensagem do Espírito Emmanuel, opinando que das
profissões terrenas, duas das mais abençoadas são exatamente a de médico e a de
professor).
17 – Apesar
das pesquisas científicas de Ernesto Bozzano, tão conclusivas e bem expressas
em Enigmas da Psicometria, essa percepção mediúnica ainda é cercada de
muitas interrogações. Essa mediunidade faz parte de suas qualificações
pessoais?
— Por duas
vezes, estando em locais diferentes, tive a premonição de fatos gravosos que
aconteceriam ali e que vieram mesmo a acontecer. Seria essa a psicometria
ligada ao futuro, que Bozzano cita na referida obr a
(no item “Conclusões”, à p. 106 da 3ª Ed., 1991, FEB, RJ/RJ). Depois dessas
duas experiências, nenhuma outra similar.
18 – A visão
aérea do Deserto do Saara é impressionante. Qual é a sensação de observar-se
espiritualmente essa região?
— Se o Saara
impressiona pela sua vastidão desértica (pleonasmo), de muito maior impacto é a
observação de sua densidade demográfica espiritual: por ali perambulam,
transitam e permanecem Espíritos desencarnados (e são tantos...), sofrendo a
inclemência climática: calor exagerado de dia e frio intenso à noite. Isso
porque seus perispíritos, ainda grosseiros, face sua pouca evolução espiritual,
registram tais sensações, quase tanto quanto nós, encarnados.
19 – Os oásis
são guardados por espíritos benfeitores que se encarregam da sua preservação,
inspirando os encarnados a respeitá-los?
— Oásis são
autênticos e abençoados prontos-socorros, a encarnados e desencarnados. Sua
guarda, manutenção e atração (indução do seu rumo a perdidos) estão a cargo de
guardiões espirituais, designados como “beduínos do bem”.
20 – O
Espírito Claudinei não menciona o nome das nações envolvidas na trama de Saara,
palco de redenção. Essa omissão é no sentido de manter-se no anonimato um
acontecimento verídico e ainda recente?
— Exatamente.
21 – Além da
eminência do enfrentamento de algumas nações, a Terra vive um momento atípico,
onde as mudanças climáticas e o comprometimento do meio-ambiente – devastado
impiedosamente – comprometem a própria sobr evivência
da humanidade. O que os mentores espirituais dizem a esse respeito? Estamos às
portas do Apocalipse de João?
— Economizei
espaço na resposta anterior para gastar nesta, que é escaldante...
No livro
“Fragmentos da Historia – pela ótica espírita”, que escrevi e a Petit editou, comentei
o Apocalipse de João em capítulo inteiro e às p. 121/122 registrei mensagens de
mentores espirituais:
“5. Futuro do mundo – Nosso Futuro...
(...)
1. “Deus procede, neste momento, ao
censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento
é apenas aparente, a fim de que não usurpem o salário dos servidores animosos,
pois aos que não recuarem diante de suas tarefas é que Ele vai confiar os
postos mais difíceis na grande obr a
da regeneração”.
(O Espírito da Verdade, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap
XX, item 5).
2. “O século que passa efetuará a divisão
das ovelhas do grande rebanho. Uma tempestade de amarguras varrerá toda a
Terra... Depois da treva surgirá uma nova aurora. Luzes consoladoras envolverão
todo o orbe regenerado no batismo do sofrimento... Não nos esqueçamos de Jesus,
cuja misericórdia infinita, como sempre, será a claridade imortal da alvorada
futura, feita de paz, de fraternidade e de redenção”.
(Espírito Emmanuel, em A Caminho da Luz, Cap XXV, 1ª Ed., 1939,
FEB, RJ/RJ).
3. “Ele (este mundo, a Terra) há
chegado a um dos seus períodos de transformação, em que, de orbe expiatório,
mudar-se-á em planeta de regeneração, onde os homens serão ditosos, porque nele
imperará a lei de Deus”.
(Santo Agostinho, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap
III, item 19).
4. “Podemos adiantar ainda que, nos
planos espirituais mais próximos da Terra, se organizam núcleos devotados ao
bem e à verdade, sob a égide do Senhor, de maneira a preparar-se a mentalidade
evangélica esperada para o milênio futuro depois da grande ceifa em que o orbe
terá de renovar seus caracteres”.
(Espírito Emmanuel, em O Reformador, Janeiro/1940, FEB).
22 –
Gostaríamos de encerrar essa gratificante entrevista com uma mensagem do
escritor Eurípedes Kühl aos nossos leitores.
— Em primeiro
lugar, afirmo, de coração estremecido, que cada leitor é-me um Espírito a quem
devo gratidão, posto que sem ele, não teria eu a feliz oportunidade do
gratificante trabalho na literatura espírita.
E encerrando, pensando em Deus e em Jesus:
A
Terra é uma embarcação-escola há muito a navegar, no Mar da Evolução. No seu tombadilho — o Espiritismo — , está o Brasil-moral,
obediente ao Mestre, convidando e acolhendo quantos queiram ser navegantes. Com Jesus no comando e timão desse grande
barco que é o mundo, nos seus dois compartimentos — o material e o espiritual
—, conjeturamos, com grande possibilidade de acerto, que o Brasil-físico,
com o farol espírita aceso, será o porto seguro onde atracará a embarcação
"Humanidade", levando imigrantes de boa vontade e ora rumando para um
destino mais feliz, o da regeneração.
Ribeirão
Preto/SP – Verão de 2003
Eurípedes
Kühl
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