segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Artigo - Alimentação "vegan"

Alimentação: vegetariana ou carnívora?

Talvez nenhum outro tema, como este, seja tão candente e se preste tanto a opiniões paradoxais (contrárias) quanto a sofismas (argumento sedutor, aparentemente correto, mas, na realidade, falso).
Apresentando-o, minha intenção não é gerar polêmica, e sim, apresentar reflexões a respeito.
Obviamente, não pretendo terçar filosofia, nem com vegetarianos, nem com “carnívoros”. Mesmo assim, não deixarei de comentar o tema, sob o enfoque espírita, apenas por ele ser indigesto (perdoem-me o trocadilho).

Vejamos, em particular e detalhadamente, duas questões de “O Livro dos Espíritos”:
723 - A alimentação animal é, com relação ao homem, contrária à lei da Natureza?
R: Dada a vossa constituição física, a carne alimenta a carne, do contrário o homem perece. A lei de conservação lhe prescreve, como um dever, que mantenha suas forças e sua saúde, para cumprir a lei do trabalho. Ele, pois, tem que se alimentar conforme o reclame a sua organização. (Grifei)
734 - Em seu estado atual, tem o homem direito ilimitado de destruição sobre os animais?
R: Tal direito se acha regulado pela necessidade, que ele tem, de prover ao seu sustento e à sua segurança. O abuso jamais constituiu direito. (Grifei)

       Essas respostas não se prestam a quaisquer interpretações diferentes daquelas que enunciam a necessidade humana (pelo menos para a grande maioria dos homens) de ainda se alimentar de carne.
Muitos anos após a Codificação do Espiritismo, iremos encontrar, aqui no Brasil, duas severas recomendações espirituais contra a ingestão de carne:
● no cap. III – O Sistema de Capela, de “A Caminho da Luz” (1939/FEB);
● na questão 129 de “O Consolador” (1940/FEB) — ambas as obras do mesmo Autor Espiritual (Emmanuel), psicografadas  pelo médium F.C.Xavier.
Depois disso, bem, novas recomendações similares se multiplicaram, na literatura espírita, de encarnados e desencarnados, no entanto, até hoje, grande maioria dos espíritas não são vegetarianos.

Com grande respeito ouço ao inolvidável Chico Xavier, sendo inquirido sobre alimentação de carne, quando assim se expressou:
Essa é uma questão antiga no mundo espiritualista. Nós temos nos apropriado da cooperação compulsória dos animais, há muitos, muitos milênios. O nosso corpo espiritual está condicionado, em grande maioria de nós outros, à absorção das proteínas do reino animal. Então, se nós estamos ainda subordinados à necessidade de valores proteicos que recebemos da carne, nós não devemos entrar em regimes vegetarianos de um dia para outro, e sim, educar o nosso organismo para realizarmos essa adaptação.
(Fonte: Livro “Dos hippies aos problemas do mundo”, item 12 - A carne -, pg. 31, 1972, Editora FEESP, SP/SP).

Por mais que se diga que há outras fontes proteicas, além da carne, na verdade não se pode esquecer de que o planeta Terra alimenta todos os seres vivos, com seus componentes.
E isso não é sofisma, é a dura realidade.
Assim, um boi, ao ser abatido estará com peso dez vezes superior ao do seu nascimento; daí, sendo ele vegetariano a vida toda, o acréscimo de nove décimos só pode ser também “vegetarianista” (eis aqui um sofisma... ou não?).
  
Ao argumento da destruição (morte) do animal, há quem, ironicamente, questione idêntico procedimento quando se consome um vegetal, que é igualmente um ser vivo, que nasce, cresce, reproduz-se, tem sensibilidade e morre (outro sofisma...).
  
Ao argumento de que nossos dentes não se prestam a ingerir carne, questiona-se que igualmente nossa pele não resiste ao frio, entretanto... pela inteligência, o homem fabrica facas e garfos, da mesma forma que vestuário e abrigos... além do mais, praticamente, no mundo todo, a carne não é consumida “in natura”, mas sim, "amaciada e temperada", após preparo pelo fogo, e com adição de condimentos diversos.

Nota-janeiro.2019Há uns 30 anos tentei suprimir alimentação de carne, mas meu organismo não permitiu; o que consegui foi sensível diminuição da ingestão carnívora; há ano e meio, "estou" parcialmente vegetariano, pois, quanto a carnes, só me alimento com peixe, raramente com ave — qualquer outra carne, ou derivados: não. Sem problema, por enquanto...

Assim, faço “mea culpa” e reflito:
● Quer me parecer que, seja do que seja que nos alimentemos, estaremos sempre consumindo algo terreno, com ou sem transformação química, natural ou provocada. O que há é que a humanidade ainda se debate em atraso — não há como ignorá-lo;
● A aquisição de carne é feita em açougues ou em supermercados, sob embalagens atraentes e quase sempre em clima de ar refrigerado... Se em refeição pronta, em restaurantes confortáveis, os condimentos acionam as glândulas salivares...
● Bem ao contrário é o cenário de um matadouro: insuportável para a sensibilidade de qualquer ser normal, e devastador, dali em diante, para a vida dessa testemunha, pois tal lembrança não se apagará jamais da memória...
● A nenhum cristão pode escapar a recomendação de amar ao próximo e, por consequência, jamais tirar a vida de um filho de Deus.
● Mesmo que seja sem ação pessoal de abate do animal, aquele que ingere carne liga-se indireta e indelevelmente àquela morte... por si só tal co-responsabilidade já é uma boa vertente para entendermos porque este mundo é de provas e expiações. Ainda...

Sou de opinião, taxativa — baseando-me na Lei Divina do Progresso, o que implica inexorável evolução material e moral — de que a alimentação animal desaparecerá do cenário terreno.
Mas ninguém tem credenciais para dizer quando isso acontecerá.
Na atualidade, não vejo isso no horizonte, pois a alimentação carnívora é um hábito incorporado ao organismo humano, milênios sobre milênios.
Não obstante, o simples fato do tema ser tão discutido sinaliza, evidentemente, que tardará para que esse hábito venha a ser coletivamente eliminado do cenário terreno, mas a partir de decisão homem a homem...
Praza aos Céus que eu esteja enganado, e que a não tão longo tempo isso acontecerá, coletivamente.
Só na regeneração planetária?...
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(Na Internet, no site www.ceismael.com.br/filosofia/analise-filosofica-do-espiritismo.htm/ Livro Espírita/Victor Leonardo da Silva Chaves, cap. XX, há detalhado artigo versando sobre “Espiritismo e Vegetarianismo”, do qual extraí alguns dos enfoques acima).

4 comentários:

  1. Muito bem, Amigo. Já passei anos sem comer carne. Toda a vez que volto a ser "carnívora" os motivos são mais culturais do que necessidade.

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  2. Minha opinião também caminha de mãos dadas com a sua Sr. Eurípedes - O hábito é próprio do grau de evolução da humanidade. Eu conheço três pessoas cujos organismos não toleram proteína animal, mas precisam de ovos para suprir suas necessidades de proteína. Eu também já tentei parar de consumir carnes, percebi que diminuindo aos poucos é menos impactante para o meu organismo.

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  3. Ainda como seres em evolução necessitamos da carne como alimento, existe vitaminas que somente na carne são encontradas. O que deveríamos fazer e diminuir a quantidade consumida, com este gesto já estaríamos contribuindo demais com a natureza e com nós mesmos.

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  4. Muito bem explicado e muito bem esclarecido. Aos poucos, vou tentando me educar. Um grande abraço fraterno, amigo Eurípedes!

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