Alimentação:
vegetariana ou carnívora?
Talvez nenhum outro tema, como este,
seja tão candente e se preste tanto a opiniões paradoxais (contrárias) quanto a sofismas (argumento sedutor, aparentemente
correto, mas, na realidade, falso).
Apresentando-o, minha intenção não é
gerar polêmica, e sim, apresentar reflexões a respeito.
Obviamente, não pretendo terçar
filosofia, nem com vegetarianos, nem com “carnívoros”. Mesmo assim, não
deixarei de comentar o tema, sob o enfoque espírita, apenas por ele ser
indigesto (perdoem-me o trocadilho).
Vejamos, em particular e
detalhadamente, duas questões de “O Livro dos Espíritos”:
723 - A alimentação animal é, com
relação ao homem, contrária à lei da Natureza?
R: Dada a vossa constituição
física, a carne alimenta a carne, do contrário o homem perece. A
lei de conservação lhe prescreve, como um dever, que mantenha suas forças e sua
saúde, para cumprir a lei do trabalho. Ele, pois, tem que se alimentar conforme
o reclame a sua organização. (Grifei)
734 - Em seu estado atual, tem o homem
direito ilimitado de destruição sobre os animais?
R: Tal
direito se acha regulado pela necessidade, que ele tem, de prover ao
seu sustento e à sua segurança. O abuso jamais constituiu direito.
(Grifei)
Essas respostas não se prestam a quaisquer interpretações diferentes daquelas que enunciam a necessidade humana (pelo menos para a grande maioria dos homens) de ainda se alimentar de carne.
Muitos anos após a Codificação do
Espiritismo, iremos encontrar, aqui no Brasil, duas severas recomendações
espirituais contra a ingestão de carne:
● no cap. III – O Sistema de Capela, de
“A Caminho da Luz” (1939/FEB);
● na questão 129 de “O Consolador”
(1940/FEB) — ambas as obras do mesmo Autor Espiritual (Emmanuel),
psicografadas pelo médium F.C.Xavier.
Depois disso, bem, novas recomendações
similares se multiplicaram, na literatura espírita, de encarnados e desencarnados, no entanto, até hoje, grande
maioria dos espíritas não são vegetarianos.
Com grande respeito ouço ao inolvidável
Chico Xavier, sendo inquirido sobre alimentação de carne, quando assim se expressou:
Essa é uma questão antiga no mundo espiritualista. Nós temos nos
apropriado da cooperação compulsória dos animais, há muitos, muitos milênios. O
nosso corpo espiritual está condicionado, em grande maioria de nós outros, à
absorção das proteínas do reino animal. Então, se nós estamos ainda
subordinados à necessidade de valores proteicos que recebemos da carne, nós não
devemos entrar em regimes vegetarianos de um dia para outro, e sim, educar o
nosso organismo para realizarmos essa adaptação.
(Fonte: Livro
“Dos hippies aos problemas do mundo”, item 12 - A carne -, pg. 31, 1972,
Editora FEESP, SP/SP).
Por mais que se diga que há outras
fontes proteicas, além da carne, na verdade não se pode esquecer de que o
planeta Terra alimenta todos os seres vivos, com seus componentes.
E isso não é sofisma, é a dura
realidade.
Assim, um boi, ao ser abatido estará
com peso dez vezes superior ao do seu nascimento; daí, sendo ele vegetariano a
vida toda, o acréscimo de nove décimos só pode ser também “vegetarianista” (eis
aqui um sofisma... ou não?).
Ao argumento da destruição (morte) do
animal, há quem, ironicamente, questione idêntico procedimento quando se
consome um vegetal, que é igualmente um ser vivo, que nasce, cresce,
reproduz-se, tem sensibilidade e morre (outro sofisma...).
Ao argumento de que nossos dentes não
se prestam a ingerir carne, questiona-se que igualmente nossa pele não resiste
ao frio, entretanto... pela inteligência, o homem fabrica facas e garfos, da
mesma forma que vestuário e abrigos... além do mais, praticamente, no mundo
todo, a carne não é consumida “in natura”, mas sim, "amaciada e temperada", após preparo pelo fogo, e
com adição de condimentos diversos.
Nota-janeiro.2019: Há uns 30 anos tentei suprimir alimentação de carne, mas meu
organismo não permitiu; o que consegui foi sensível diminuição da ingestão
carnívora; há ano e meio, "estou" parcialmente vegetariano, pois,
quanto a carnes, só me alimento com peixe, raramente com ave — qualquer outra
carne, ou derivados: não. Sem problema, por enquanto...
Assim, faço “mea culpa” e reflito:
● Quer me parecer que, seja do que seja
que nos alimentemos, estaremos sempre consumindo algo terreno, com ou sem
transformação química, natural ou provocada. O que há é que a humanidade ainda
se debate em atraso — não há como ignorá-lo;
● A aquisição de carne é feita em
açougues ou em supermercados, sob embalagens atraentes e quase sempre em clima
de ar refrigerado... Se em refeição pronta, em restaurantes confortáveis,
os condimentos acionam as glândulas salivares...
● Bem ao contrário é o cenário de um matadouro:
insuportável para a sensibilidade de qualquer ser normal, e devastador, dali em
diante, para a vida dessa testemunha, pois tal lembrança não se apagará jamais
da memória...
● A nenhum cristão pode escapar a
recomendação de amar ao próximo e, por consequência, jamais tirar a vida de um
filho de Deus.
● Mesmo que seja sem ação pessoal de
abate do animal, aquele que ingere carne liga-se indireta e indelevelmente
àquela morte... por si só tal co-responsabilidade já é uma boa vertente para
entendermos porque este mundo é de provas e expiações. Ainda...
Sou de opinião, taxativa — baseando-me
na Lei Divina do Progresso, o que implica inexorável evolução material e moral — de que a
alimentação animal desaparecerá do cenário terreno.
Mas ninguém tem credenciais para dizer quando isso acontecerá.
Na atualidade, não vejo isso no
horizonte, pois a alimentação carnívora é um hábito incorporado ao organismo
humano, milênios sobre milênios.
Não obstante, o simples fato do tema
ser tão discutido sinaliza, evidentemente, que tardará para que esse hábito
venha a ser coletivamente eliminado do cenário terreno, mas a partir de decisão
homem a homem...
Praza aos Céus que eu esteja enganado,
e que a não tão longo tempo isso acontecerá, coletivamente.
Só na regeneração planetária?...
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(Na Internet,
no site www.ceismael.com.br/filosofia/analise-filosofica-do-espiritismo.htm/ Livro Espírita/Victor Leonardo da Silva
Chaves, cap. XX, há detalhado artigo versando sobre “Espiritismo e
Vegetarianismo”, do qual extraí alguns dos enfoques acima).
Muito bem, Amigo. Já passei anos sem comer carne. Toda a vez que volto a ser "carnívora" os motivos são mais culturais do que necessidade.
ResponderExcluirMinha opinião também caminha de mãos dadas com a sua Sr. Eurípedes - O hábito é próprio do grau de evolução da humanidade. Eu conheço três pessoas cujos organismos não toleram proteína animal, mas precisam de ovos para suprir suas necessidades de proteína. Eu também já tentei parar de consumir carnes, percebi que diminuindo aos poucos é menos impactante para o meu organismo.
ResponderExcluirAinda como seres em evolução necessitamos da carne como alimento, existe vitaminas que somente na carne são encontradas. O que deveríamos fazer e diminuir a quantidade consumida, com este gesto já estaríamos contribuindo demais com a natureza e com nós mesmos.
ResponderExcluirMuito bem explicado e muito bem esclarecido. Aos poucos, vou tentando me educar. Um grande abraço fraterno, amigo Eurípedes!
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