Não fique triste quando seu trabalho
for visto com indiferença ou não te valorizarem. Lembre-se que todos os dias,
ao nascer, o sol dá um espetáculo maravilhoso para uma grande plateia que ainda
dorme. Lucila Azevedo [1]
Administrando as
críticas...
A maior obra moral do planeta Terra foi realizada por Jesus! No
entanto, ele foi contestado brutalmente pelos homens.
Para nós, espíritas, Jesus é o modelo a ser seguido (questão n° 625 de O Livro dos Espíritos), pelo que não deverão
o médium psicógrafo ou autor, melindrarem-se diante de eventuais críticas
ferinas a seus livros, editados ou não.
Nenhuma agressão merece revide.
Grande conselho: “Não passes recibo às violências”[2].
Mas, também, foi Jesus que, ad
infinitum, alertou aos críticos (ferinos) para só atirarem a primeira pedra
se...
Alguns comentaristas espíritas (críticos
literários ou revisores), há tempos, assinalam “erros doutrinários” e “erros de
português”, ressaltando que alguns livros apresentam: “linguagem muito pobre; palavras inadequadas; características de
composição escolar; centenas de sentenças em que faltam sinais gráficos
adequados”, etc.
Além dessas, já aconteceram outras críticas, mais
contundentes, que classificaram obras como: “Plágio”, “dramalhão de
folhetim”, etc.
Terceiro milênio, há pouco inaugurado... tal
atitude relembra-me o famigerado Index
Librorum Prohibitorum, instituído no séc. XVI, pelos papas, ansiosos por
aniquilar as doutrinas heterodoxas; continha a lista oficial dos livros cuja
publicação, leitura e venda eram interditados aos católicos; foi suprimido por
Paulo VI, em 1965.
Os críticos
espíritas
Penso que o trabalho de um crítico de obras
espíritas pode ser realizado em duas circunstâncias principais: antes do
livro ser publicado, - o que entendo como o melhor momento –, ou depois
da sua publicação – ambas, sem ônus.
Antes: o crítico oferecendo-se às Editoras.
Depois: em se tratando de obra publicada, creio que
a conduta mais ética (para não dizer caridosa) será estabelecer contato direto
com Editora e médium, ou autor, sugerindo o que julgar necessário: ortográfica,
gramatical, ou doutrinariamente.
Nesse caso, apontar falhas é favor que estará o
crítico prestando, pois na eventualidade de reedição, serão sanadas. Isso, com
certeza, porque tanto o editor, quanto o médium, ou autor, querem ver seu trabalho
com o chamado "erro zero", isto é, sem falhas. Disso não há duvidar!
Vários leitores apontaram falhas em algumas obras
com minha participação. Eu e o editor acatamos a todas! (E antes da publicação,
da minha parte, realizei três revisões...).
Por essas e outras, o ideal é que a obra seja
revisada antes de ser publicada, por pessoa(s)
capacitada(s), sob diversos aspectos: o próprio cuidado do autor ou do médium
na redação da obra; o zelo da editora quanto às revisões de conteúdo
doutrinário; a preocupação com a obediência às normas da Língua Portuguesa;
e o trabalho minucioso relativo à normalização técnica e à forma de
apresentação do livro, em consonância com o público a que se destina.
Neste caso, é conveniente que a editora, se puder,
constitua um conselho, ou disponha de uma equipe, profissional, para fins de
definição de uma política editorial e revisão das obras que pretenda publicar.
Se não puder, busque voluntários competentes e generosos, que sempre os há.
Recomendável que a própria editora submeta o livro
ao exame de pessoas que conheçam o assunto doutrinariamente, ou dependendo da
natureza da obra, a especialistas com conhecimentos técnicos, caso tais pessoas
já não sejam integrantes do referido conselho editorial.
Todavia, essa não parece ser, ainda, uma prática
comum na realidade do mercado editorial de obras espíritas. Decorrência disso é
a publicação de livros que, realmente, precisam ser melhorados em termos de
conteúdo e de forma.
Nesse contexto de obras já publicadas e que
reclamam melhorias ou correções entra, também, o trabalho dos críticos.
O primeiro papel de todo crítico é, evidentemente,
o de ler a obra que será objeto de
avaliação. Opino que, mesmo que o livro apresente imperfeições ortográficas,
gramaticais e semânticas, não deve ser condenado, nem descartado de imediato.
Convém verificar:
— Qual a mensagem principal (auxílio espiritual)
do livro?
— Há acertos doutrinários ou só foram encontrados
senões?
— Nada que se aproveite, doutrinariamente?
— Foi ouvida ou captada a reação de, ao menos,
dois ou três jovens leitores, mormente não-espíritas?
— Tem-se ideia de quantos leitores passaram a
interessar-se pelo Espiritismo após tal leitura?
A crítica deve ser construtiva e realizada com
moderação, observando-se os preceitos evangélicos apregoados pelo Espiritismo.
Autores e editores precisam estar abertos para
receber as críticas e aperfeiçoar o trabalho no que for pertinente.
Casos extremos
Na Literatura é imprudente e oscilante o valor de uma crítica
desfavorável, cruel, por vezes.
A propósito, exemplificando, a
Revista VEJA de 13.Out.99 estampou alguns exemplos de incríveis
"massacres":
1) - Crítica do filósofo e escritor francês Voltaire, sobre Hamlet,
de Shakespeare:
"Um drama bárbaro e vulgar,
que não seria tolerado pelo mais vil populacho na França ou na Itália. Pode-se
imaginar que é a obra de um selvagem bêbado".
- Realidade: Shakespeare é o mais conhecido escritor da
literatura ocidental. Hamlet é sua obra-prima.
2) - Crítica de Emile Zola, romancista francês, sobre as Flores
do Mal, coletânea do poeta Charles Baudelaire:
"Dentro de 100 anos, as
histórias da literatura francesa mencionarão esta obra apenas como uma
curiosidade".
- Realidade: A poesia francesa continua a ter no livro de
Baudelaire uma de suas referências básicas.
3) - Crítica do editor francês Marc Humblot, ao rejeitar o primeiro
volume de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust:
"Caro colega, talvez eu
esteja morto do pescoço para cima, mas por mais que dê tratos à bola não
consigo entender por que alguém precisa de trinta páginas para descrever como
se revira na cama antes de dormir".
- Realidade: Proust consagrou-se como um dos pilares da
literatura moderna.
4) - Crítica da escritora inglesa Virgínia Woolf, sobre Ulisses,
do irlandês James Joyce:
"Concluí a leitura do livro
e considero que é um fracasso. O texto é difuso. É desagradável. É pretensioso.
É inculto. Um escritor de primeira linha respeitaria mais a escrita e não
lançaria mão de tantos artifícios".
- Realidade: Ulisses é um dos romances mais inovadores do século
XX. Um clássico do modernismo.
5) - Crítica do pensador e ensaísta brasileiro Sílvio Romero, sobre
Machado de Assis:
"Esse romântico em
desmantelo, esse pequeno representante do pensamento retórico e velho no Brasil
é hoje o mais pernicioso enganador, que vai pervertendo a mocidade. Essa sereia
matreira deve ser abandonada... O autor de Brás
Cubas, bolorento pastel literário, assaz o conhecemos por suas obras, e ele
está julgado."
- Realidade: Machado, que já era admirado na época, foi
entronizado como o maior escritor brasileiro.
Há mais.
Contudo, continuar para quê?
Os exemplos acima bem já falam de como proceder
ante críticas:
a) Em primeiríssimo lugar, ajuizar se o crítico
tem razão, nem que seja mínima razão;
não importa como se manifestou: a questão é definir se, de fato, ele tem
razão...
b) Depois, o óbvio: procurar uma forma de corrigir
o que estiver mesmo precisando de correção;
c) Se em nada concordar com a crítica, será útil
apresentar a questão para uma terceira pessoa, competente o suficiente para
opinar;
d) Em qualquer caso de crítica ofensiva, não se devolva
ao crítico um pensamento negativo; isso, com certeza, é difícil, mas nunca será
demais recordar de Jesus quando recomendava-nos que "orássemos pelos que nos perseguem e caluniam".
Ante uma crítica intolerante, qual o sentimento?
Confiança do autor em sua obra e equilíbrio
intelectual.
Se exclusive a intolerância a crítica tem base,
deve ser aceita. Sem masoquismo. Com educação.
Agradecimento ao crítico o favor que ele fez, eis
que em decorrência, a obra foi otimizada.
"Será
possível?"...
É.
Pois vejam:
O jornal A Folha de S.Paulo
de 21.Abr.99 noticiou que enviou a seis editoras do país, sem identificar,
originais do romance Casa Velha,
pouco conhecido, de Machado de Assis (Joaquim Maria, 1839-1908), um dos
maiores nomes da literatura em língua portuguesa.
Resultado: três não responderam, três rejeitaram.
Com o "leite entornado", isto é, divulgada a armadilha, as
justificativas se multiplicaram. Mas, convencer-se, quem há-de?
Ao recusarem Machado de Assis, eis os argumentos que os livreiros
brasileiros haviam registrado...
Disse-lhe um:
– "O parecer de uma comissão de leitura não lhe foi
favorável".
Estimulou-o outro:
– "Desejamos sorte nos seus futuros contatos".
Outro foi mais longe:
– "Gostaríamos que você nos enviasse seu endereço".
A esse, Machado de Assis, se puder, responderá:
– "Desde 1908, no Plano Espiritual...".
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Texto extraído do livro “Raio X do Livro
Espírita”, de E.Kühl, 2003, Ed.Aliança, SP/SP – (e-book
grátis no meu blog – página “livros”)
[1] Captei
na internet essa frase, pinçada de um texto atribuído no site “Pensador” a
Lucila Azevedo, cujos dados biográficos não consegui. Agradeço se alguém me ajudar na identificação,
inclusive quanto à fonte onde foi editada,
[2] Extraído da Redação do Momento Espírita (de 16.08.2010), com base no cap. 14 do livro Para uso diário, pelo Espírito Joanes,
psicografia de J. Raul Teixeira, Ed. Fráter.
Antes de se tornarem um fenômeno mundial, os "Beatles" também foram rejeitados por diversas gravadoras e empresários...
ResponderExcluirOlá, querido cunhado e prestimoso auxiliar nas minhas páginas do face. Desculpe a demora, mas só hoje vi seu interessante comentário. Gratidão e abraços.
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