domingo, 30 de junho de 2019

O homem e a religião (5.6)


O homem e a religião (5/6)

Neste capítulo: como o sincretismo religioso se infiltrou no Brasil.
Tão logo o Brasil foi descoberto iniciou-se sua colonização.
No caso, “colonizar”, significou a vinda de portugueses, mandatários. E como quem manda precisa de quem obedeça, Portugal sequer pensou duas vezes: por três séculos providenciou a criminosa importação de “obedientes” criaturas, buscadas à força, na África.
Está em “Estatísticas Históricas do Brasil”/IBGE: vieram 4.009.400 escravos, entre 1531 a 1855”.  Estarrecedor!
Face o poder da Igreja (Católica), representantes das suas várias ordens religiosas vieram de Portugal, com a missão “oficial” de dar assistência religiosa aos colonizadores, além de catequizar e “salvar” os índios. Mas, aventureiros europeus, por vezes também em caráter oficial, para aqui vieram, com interesses...
Não é difícil depreender que no Brasil-criança passaram a conviver criaturas de costumes e sentimentos religiosos diferentes. E não só diferentes: conflitantes...  O caldeamento de raças foi inevitável...
Assim, durante e por cerca dos três primeiros séculos da nossa história, conviveram aqui no Brasil:
- colonizadores europeus (não apenas portugueses, mas também franceses, holandeses, espanhóis);
- padres (de várias ordens religiosas);
- indígenas (de várias tribos) e
- escravos africanos (de várias partes do grande continente).
Detentores do poder, os europeus impuseram sua religião (o catolicismo) e isso explica porque o Brasil ainda hoje é majoritariamente um país católico.
  Nota: Lendo sobre o Censo 2002 na Internet, no item “Religiões”, deparei-me com a informação de que nos censos do Brasil-colônia, todos os escravos africanos eram tidos como “católicos”.
Os escravos (bantos, sudaneses, nagôs e iorubanos) que mais tempo conviveram com seus senhores, à força assistiam e participavam dos cultos católicos, imposição gerando obediência...
Mas, tal obediência era pro forma, sem crença, já que na intimidade da senzala, às ocultas, é que extravasavam sua fé... E ali, o mediunismo[1], entre eles, era um antigo e singelo exercício espiritual, mediúnico, aprendido e praticado desde os tempos na terra-mãe, agora aliviando-lhes a cruel realidade — a escravidão.
Por acomodação parcial, a pouco e pouco os rituais, sacramentos, paramentos, imagens, altares, etc., do catolicismo, foram sendo agregados por eles, porém sob roupagem própria, adequada, isto é, africana. Essa, a origem do chamado Brasil-Candomblé.
Com a abolição da escravatura (1888) e com a liberdade constitucional de credo religioso, parte das pessoas que se identificavam com o Candomblé, no início do séc. XX, sem deixar parte dos seus fundamentos, a ele incorporaram novas práticas.
Muitas dessas pessoas, tomando conhecimento da obra de Allan Kardec, passaram a frequentar Centros Espíritas, então emergentes no Brasil. Dentre esses, logo porém, houve quem se desligasse, indo fundar uma religião, agora, genuinamente brasileira: a Umbanda.
E em 1941, no Rio de Janeiro, realizou-se o Primeiro Congresso Umbandista, visando estruturar uma prática religiosa já de trinta anos. Ali foram delimitados os elementos de cujo sincretismo surgiu a Umbanda, nas suas diversas apresentações, sendo a possibilidade do crente resolver seus problemas em curto prazo, uma delas.
O desligamento que citei acima, talvez tenha decorrido do desinteresse em seguir as recomendações espíritas de estudo permanente  e a ausência de quaisquer rituais, adereços, hierarquia, promessas, etc.
E também porque a prática espírita não contempla a solução de problemas materiais, mas sim, a reforma íntima, com  estudo permanente e esclarecimentos ao Espírito,  para que ele se renove e, apoiado na fé em Deus, cujo amparo é permanente, encontre, ele próprio, aquela buscada solução.
Fiel a Kardec, a Federação Espírita Brasileira, em reunião do Conselho Federativo Nacional de 02/05/1953 (Espiritismo Prático, Pedro F.Barbosa, p. 13 e 14, 4ª Ed., 1995, FEB, RJ/RJ), recomenda aos Centros Espíritas, para a prática espírita e em suas reuniões, a total ausência de:
● paramentos, ou quaisquer vestes especiais;
● vinho, ou qualquer bebida alcoólica;
● incenso, mirra, fumo, ou substâncias outras que produzam fumaça;
● altares, imagens, andores, velas e quaisquer objetos materiais como auxiliares de atração do público;
● hinos ou cantos em línguas mortas ou exóticas, só os admitindo, na língua do país, exclusivamente em reuniões festivas realizadas pela infância e pela juventude e em sessões ditas de efeitos físicos;
● danças, procissões e atos análogos;
● atender a interesses materiais terra-a-terra, rasteiros ou mundanos;
● pagamento por toda e qualquer graça conseguida para o próximo;
● talismãs, amuletos, orações miraculosas, bentinhos, escapulários ou quaisquer objetos e coisas semelhantes;
● administração de sacramentos, concessão de indulgências, distribuição de títulos nobiliárquicos;
● confeccionar horóscopos, exercer a cartomancia, a quiromancia, a astromancia e outras “mancias”;
● rituais e encenações extravagantes de modo a impressionar o público;
● termos exóticos ou heteróclitos para a designação de seres e coisas;
● fazer promessas e despachos, riscar cruzes e pontos, praticar, enfim, a longa série de atos materiais oriundos das velhas e primitivas concepções religiosas.
Pela aceitação de alguns dos itens acima, já poderemos perceber que o Candomblé e a Umbanda, respeitáveis, embora espiritualistas e praticantes do mediunismo, diferem substancialmente do Espiritismo.
E mais: no Candomblé há sacrifício de animais.
Na Umbanda, não: ela contempla os banhos de ervas e orações.
Por tudo isso bem se vê que embora espiritualistas, Candomblé e Umbanda não podem ser consideradas espíritas.
E isso sem qualquer demérito, pois o Espiritismo — Doutrina dos Espíritos —, enaltece o livre-arbítrio, respeita e considera a autonomia de todas as religiões, jamais julgando-se superior a qualquer delas.





[1] Mediunismo = Forma primitiva da mediunidade. In “Portal do Espírito”, artigo “Reciclagem Mediúnica: Diferença entre mediunidade e mediunismo”  – Internet.


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