O homem e a religião (5/6)
Neste capítulo: como o sincretismo religioso se infiltrou no Brasil.
Tão logo o Brasil foi descoberto iniciou-se sua colonização.
Tão logo o Brasil foi descoberto iniciou-se sua colonização.
No
caso, “colonizar”, significou a vinda de portugueses, mandatários. E como quem
manda precisa de quem obedeça, Portugal sequer pensou duas vezes: por três
séculos providenciou a criminosa importação
de “obedientes” criaturas, buscadas à força, na África.
Está
em “Estatísticas Históricas do Brasil”/IBGE: vieram 4.009.400 escravos, entre
1531 a 1855”. Estarrecedor!
Face o
poder da Igreja (Católica), representantes das suas várias ordens religiosas
vieram de Portugal, com a missão “oficial” de dar assistência religiosa aos
colonizadores, além de catequizar e “salvar” os índios. Mas, aventureiros
europeus, por vezes também em caráter oficial, para aqui vieram, com
interesses...
Não é
difícil depreender que no Brasil-criança
passaram a conviver criaturas de costumes e sentimentos religiosos diferentes.
E não só diferentes: conflitantes... O
caldeamento de raças foi inevitável...
Assim,
durante e por cerca dos três primeiros séculos da nossa história, conviveram
aqui no Brasil:
-
colonizadores europeus (não apenas portugueses, mas também franceses,
holandeses, espanhóis);
-
padres (de várias ordens religiosas);
-
indígenas (de várias tribos) e
-
escravos africanos (de várias partes do grande continente).
Detentores
do poder, os europeus impuseram sua religião (o catolicismo) e isso explica
porque o Brasil ainda hoje é majoritariamente um país católico.
Nota: Lendo sobre o Censo 2002 na Internet, no item
“Religiões”, deparei-me com a informação de que nos censos do Brasil-colônia,
todos os escravos africanos eram tidos como “católicos”.
Os
escravos (bantos, sudaneses, nagôs e iorubanos) que mais tempo conviveram com
seus senhores, à força assistiam e participavam dos cultos católicos, imposição
gerando obediência...
Mas,
tal obediência era pro forma, sem
crença, já que na intimidade da senzala, às ocultas, é que extravasavam sua
fé... E ali, o mediunismo[1],
entre eles, era um antigo e singelo exercício espiritual, mediúnico, aprendido
e praticado desde os tempos na terra-mãe, agora aliviando-lhes a cruel
realidade — a escravidão.
Por
acomodação parcial, a pouco e pouco os rituais, sacramentos, paramentos,
imagens, altares, etc., do catolicismo, foram sendo agregados por eles, porém
sob roupagem própria, adequada, isto é, africana. Essa, a origem do chamado Brasil-Candomblé.
Com a abolição
da escravatura (1888) e com a liberdade constitucional de credo religioso,
parte das pessoas que se identificavam com o Candomblé, no início do séc. XX,
sem deixar parte dos seus fundamentos, a ele incorporaram novas práticas.
Muitas
dessas pessoas, tomando conhecimento da obra de Allan Kardec, passaram a frequentar
Centros Espíritas, então emergentes no Brasil. Dentre esses, logo porém, houve
quem se desligasse, indo fundar uma religião, agora, genuinamente brasileira: a
Umbanda.
E em
1941, no Rio de Janeiro, realizou-se o Primeiro Congresso Umbandista, visando
estruturar uma prática religiosa já de trinta anos. Ali foram delimitados os
elementos de cujo sincretismo surgiu a Umbanda, nas suas diversas
apresentações, sendo a possibilidade do crente resolver seus
problemas em curto prazo, uma delas.
O
desligamento que citei acima, talvez tenha decorrido do desinteresse em seguir as recomendações espíritas de estudo permanente e a ausência de
quaisquer rituais, adereços, hierarquia, promessas, etc.
E também porque a prática espírita não contempla a solução de problemas materiais, mas sim, a reforma íntima, com estudo permanente e esclarecimentos ao Espírito, para
que ele se renove e, apoiado na fé em Deus, cujo amparo é permanente, encontre,
ele próprio, aquela buscada solução.
Fiel a
Kardec, a Federação Espírita Brasileira, em reunião do Conselho Federativo
Nacional de 02/05/1953 (Espiritismo
Prático, Pedro F.Barbosa, p. 13 e 14, 4ª Ed., 1995, FEB, RJ/RJ), recomenda
aos Centros Espíritas, para a prática espírita e em suas reuniões, a total
ausência de:
● paramentos, ou
quaisquer vestes especiais;
● vinho, ou
qualquer bebida alcoólica;
● incenso, mirra,
fumo, ou substâncias outras que produzam fumaça;
● altares, imagens,
andores, velas e quaisquer objetos materiais como auxiliares de atração do
público;
● hinos ou cantos
em línguas mortas ou exóticas, só os admitindo, na língua do país, exclusivamente
em reuniões festivas realizadas pela infância e pela juventude e em sessões
ditas de efeitos físicos;
● danças,
procissões e atos análogos;
● atender a
interesses materiais terra-a-terra, rasteiros ou mundanos;
● pagamento por
toda e qualquer graça conseguida para o próximo;
● talismãs,
amuletos, orações miraculosas, bentinhos, escapulários ou quaisquer objetos e
coisas semelhantes;
● administração de
sacramentos, concessão de indulgências, distribuição de títulos nobiliárquicos;
● confeccionar
horóscopos, exercer a cartomancia, a quiromancia, a astromancia e outras
“mancias”;
● rituais e
encenações extravagantes de modo a impressionar o público;
● termos exóticos
ou heteróclitos para a designação de seres e coisas;
● fazer promessas e
despachos, riscar cruzes e pontos, praticar, enfim, a longa série de atos
materiais oriundos das velhas e primitivas concepções religiosas.
Pela
aceitação de alguns dos itens acima, já poderemos perceber que o Candomblé e a
Umbanda, respeitáveis, embora espiritualistas e praticantes do mediunismo,
diferem substancialmente do Espiritismo.
E
mais: no Candomblé há sacrifício de animais.
Na
Umbanda, não: ela contempla os banhos de ervas e orações.
Por
tudo isso bem se vê que embora espiritualistas, Candomblé e Umbanda não
podem ser consideradas espíritas.
E isso
sem qualquer demérito, pois o Espiritismo — Doutrina dos Espíritos —,
enaltece o livre-arbítrio, respeita e considera a autonomia de todas as
religiões, jamais julgando-se superior a qualquer delas.
[1]
Mediunismo = Forma primitiva da mediunidade. In “Portal do Espírito”, artigo “Reciclagem
Mediúnica: Diferença entre mediunidade e mediunismo” – Internet.
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