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quinta-feira, 23 de abril de 2020

Estudo - Psicometria


Psicometria
Histórico[1]
Em 1842, o médico e professor de fisiologia norte-americano Joseph Rhodes Buchanan (1814-1899), atendeu o General Polk, também dos EUA, contando-lhe que ao tocar em bronze sentia um estremecimento no sistema nervoso, e um gosto estranho então o afligia.
Buchanan, por alguns anos, realizou experimentos, colocando metais de variada espécie em mãos de pacientes diversos, os quais, sem meios de reconhecer esses metais, os nomeavam com acerto, na maioria das experimentações; tais pacientes, colocados ante pessoas doentes, definiam a doença e a localizavam; ao colocar na fronte de pessoas “sonâmbulas” (médiuns) um objeto qualquer, do presente ou do passado remoto, observou os efeitos do fluido magnético mesmeriano (fluido vital, transformado do fluido cósmico universal) nesses pacientes, os quais então descreviam cenas relativas às épocas da pessoa a quem pertencia o objeto psicometrado.
Em 1849, o médico e professor criou o termo “Psicometria” (do grego psykhe, alma + metron, medida, pelo francês psychométrie)[2] e em 1886 sua obra, tratando do assunto, foi publicada.
A palavra psicometria vigorou por muitos anos entre os parapsicólogos, até que muitos deles, discordando desse termo para tal faculdade, opinaram seria mais apropriado designá-la de “Percepção Extra-Sensorial” (“PES”), segundo classificação formulada por Joseph Banks Rhine (1895-1980), adepto da Parapsicologia[3], que em 1934   publicou obra com esse nome (“PES”), renomeando assim a Psicometria.

O Espiritismo e a Psicometria
Segundo vários estudiosos espíritas, Psicometria é a faculdade mediúnica pela qual o médium, em contato com objetos, pessoas ou lugares relacionados com acontecimentos passados, sintoniza-se de tal maneira com eles, descrevendo-os com precisão.
Alguns autores espíritas, inclusive, incluem não apenas o passado, mas também o presente e o futuro, na abrangência de informações precisas sobre particularidades e fenômenos ligados a objetos, lugares e pessoas, próximas ou distantes, encarnadas ou desencarnadas.
Já nos tempos de Kardec havia notícias de fatos ligados à Psicometria, conforme o texto abaixo faz prova:
“A. C. Styles, médium lúcido, garante diagnóstico exato da doença da pessoa presente, sob perda dos honorários. Regras estritamente observadas: Para um exame lúcido e prescrições, com a pessoa presente, 2 dólares; para descrições psicométricas dos caracteres, 3 dólares. Não esquecer que as consultas são pagas adiantadamente”.
(In: Revista Espírita – “Exploração do Espiritismo”, Julho/1861, p. 314).

Várias obras literárias espíritas trazem alusões à Psicometria.
Citarei apenas algumas.
● Em minha opinião sobre Psicometria, a obra espírita que mais reflexões e pensamentos oferta é de autoria de Ernesto Bozzano (1862-1943), pesquisador espírita, italiano, professor de filosofia da ciência: Enigmas da Psicometria (1926), 3ªEd. 1991, FEB, Brasília/DF.
O autor inicia sua talentosa obra afirmando que a Psicometria não passa de uma das modalidades da clarividência, e a ela (Psicometria) pertencem seus enigmas... Incontáveis enigmas... Cita que, pela hipótese psicométrica, o possuidor de um objeto impregna neste uma “influência” real, a qual tem a propriedade de receber e reter toda espécie de vibrações e emanações físicas, psíquicas e vitais.
Não obstante, para Bozzano, tais poderes psicométricos de uma pessoa viva, em grande parte são imaginários e que tal “influência” apenas persiste no objeto psicometrado, possibilitando a ação pela faculdade clarividente e telepática do sensitivo (aqui, clarividência e telepatia são consideradas “satélites” da Psicometria...).
Comentando isso, o professor Bozzano declara que sua opinião não invalida a hipótese de outros pensadores, que acreditavam que o objeto, ele próprio, revelaria sua história. Deduz ainda sobre a existência de um “fluido pessoal humano” (penso que seria o mesmo “fluido magnético mesmeriano”, de Buchanan), ligando-se aos objetos. E arremata: “a penetração dos segredos biográficos da matéria inanimada, permanece bem mais misteriosa”. (Mais enigmas, como registrou em seu livro...).
Há, na obra de Bozzano, incontáveis outras reflexões, como também inúmeras narrações de casos psicométricos — não cabem aqui, um simples artigo, bem elementar. Sugiro compulsar o instigante livro.
Bozzano comenta, extraordinariamente, que há sensitivos que, às vezes, conseguem entrar em contato com os reinos vegetal e animal, a tal ponto identificando com a influência contida no objeto psicometrado, que se diria apropriarem-se das sensações, dos entendimentos, das vibrações e sensações rudimentares dos organismos ou substância estudados. O autor repete várias vezes esses comentários na sua obra.
Obs.:  A palavra “influência” há pouco citada, é largamente utilizada por Bozzano no seu livro. Na maioria das vezes, referindo-se à influência humana; mas, também, outras tantas vezes são citadas como “influência” de caráter psicométrico a “influência animal” e a “influência vegetal”. E também... “influência mineral”. No livro há dezenas e dezenas de casos psicometrados, com todas essas “influências”.
● No livro “Nos Domínios da Mediunidade” (1954), do Espírito André Luiz e psicografia do inesquecível Chico Xavier, na 8ª edição, cap. 26 (Psicometria), p. 245, Ed. FEB, 1976, Brasília/DF, o Instrutor Áulus leciona: “Psicometria significa registro, apreciação de atividade intelectual. Entretanto, nos trabalhos mediúnicos, esta palavra designa a faculdade de ler impressões e recordações ao contato com objetos comuns”.
Prosseguindo, Áulus relata que: “o pensamento espalha suas próprias emanações em toda parte a que se projeta, deixando vestígios espirituais onde são arremessados os raios da mente. Como o animal, que deixa no próprio rastro o odor que lhe é característico, tornando-se, por esse motivo, facilmente abordável pela sensibilidade olfativa do cão”.
Aquele Instrutor, no mesmo capítulo pronuncia frase lapidar: “As almas e as coisas, cada qual na posição em que se situam, algo conservam do tempo e do espaço, que são eternos na memória da vida” (até aqui a Psicometria se fixou apenas no passado...).
Um pouco mais adiante nessa obra, à p. 249, no mesmo tema, Áulus esclarece sobre a possibilidade de eventos psicométricos, ligados a pessoas do presente. Encerrando o capítulo informa que os eventos psicométricos são mediúnicos, embora experimentadores do mundo científico os enquadrem na “criptestesia pragmática”, na “metagnomia tátil”, na “telestesia”; reduzindo os termos, essas palavras significam praticamente o mesmo (ação psicométrica), com pequenas variações.
Obs.: Cito apenas essas três denominações parapsicológicas da Psicometria, mas existem muitas outras (vide no Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo, já citado).
● No livro “Chico Xavier – Mandato de Amor”, da UEM (União Espírita Mineira), Ed. 1992, BH/MG, há inumeráveis testemunhos de pessoas que conviveram com o saudoso médium. Por seus comentários fica-se sabendo a apurada mediunidade psicométrica do Chico, como, por exemplo, “ler”, sem abrir, o conteúdo das incontáveis cartas que recebia de pessoas que escreviam para ele. Tantos são os relatos, e tão interessantes, além de instrutivos, que sugiro a leitura do livro.
● No livro “Devassando o Invisível” (1963), de Yvonne A.Pereira, 9ªEd., 1994, p. 188, FEB, Brasília/DF, dentre outros comentários sobre a Psicometria, a autora registra: (...) Essa faculdade, estranha e bela, ainda pouco estudada, vai ao extremo de permitir ao médium sentir e descrever as impressões de pequenos animais, de vegetais e até da matéria inanimada”.
Yvonne (médium de abençoadas mediunidades, psicometria inclusive), ainda na mesma obra, relata uma visita que fez a uma família amiga, ali se hospedando por alguns dias. Insone, ali assistia cenas típicas da escravatura. Em outra residência, moderna, o mesmo fenômeno: sem dormir, assistia cenas dramáticas de duelos, lutas, assaltos, fugas a cavalo (ambiente do século XVIII).
Única explicação dela: psicometria de ambiente[4].

 Conclusão
Encerrando, registro abaixo como justamente no passado distante encontra-se exemplo de que a Psicometria (como, aliás, todas as demais mediunidades) já era faculdade mediúnica atuante, e no exemplo, ação psicométrica de acontecimento no futuro(!):
Em “Atos dos Apóstolos”, 21 a 25, há a narração de que o profeta (médium) Ágabo, fiel seguidor de Jesus, chegou da Judeia e, estando com os seguidores do Cristo tomou da cinta que pertencia a Paulo de Tarso, ligando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito: assim ligarão os judeus em Jerusalém o varão de quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios. A partir dessa profecia, os amigos de Paulo insistiram com ele que não fosse a Jerusalém, pois temiam por sua vida. Ele, apesar disso, subiu a Jerusalém e ali o tribuno Claudio Lísias o aprisionou na Fortaleza, a fim de salvá-lo da turba agitada.
Tendo-se notícias de um plano para assassinar o Apóstolo, Lísias o transferiu para Cesareia, escoltado por quatrocentos soldados, arqueiros e cavalarianos, entregando-o ao Governador Felix.
Cumpria-se a profecia de Ágabo: Paulo foi interrogado e atado com correias pelos gentios.

Pelo que deduzi ao formular este artigo, imagino que a Sabedoria da Providência dota da capacidade piscométrica alguns médiuns, com tarefas elevadas de auxílio ao próximo. Exercitando mediunicamente a psicometria, neles fica alicerçada a fé na caridade de Jesus e a confiança nos Protetores invisíveis que os amparam, resultando despertar nos atendidos mudanças comportamentais, para não repetirem descaminhos morais, atávicos.
No futuro, por exemplo, reflito que a Medicina terrena empregará a psicometria em larga escala, diagnosticando no presente, as causas de patologias inauguradas no passado...


[1] Notas extraídas do “Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo”, de João Teixeira de Paula (1911-1985),  volume 3, p. 89 e 90, Ed. 1970, Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais S.A., SP/SP.
[2] Grande Enciclopédia Larousse Cultural, volume 8, p. 2673, Ed. Universo Ltda, 1990, SP/SP.
[3] O termo parapsicologia foi criado em 1889 por Max Dessoir (1867-1937), filósofo alemão, e adotado na década de 1930 por Joseph Banks Rhine, para substituir os termos Metapsíquica e "Pesquisa Psíquica"  -  notas extraídas da Wikipédia, a enciclopédia livre da internet.

[4] “Psicometria de ambiente” é aquela que, à revelia do sensitivo, permite-lhe rever, em um ambiente qualquer, as ocorrências ali verificadas muito antes, às vezes mesmo há séculos (!).


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Artigo - Romance espírita é literatura?


Na seção de Cartas da edição 423 (19.Jul.15) da revista semanal “O Consolador”, do dedicado grupo espírita de Londrina/PR, foi publicada a mensagem abaixo, enviada por Silvio Fonseca, de Ilhéus (BA):
         O maior site literário brasileiro lançou uma pergunta:
         — Romance espírita é literatura?
         Creio que seria interessante lerem e, se  necessário, comentar.
         (http://literatortura.com – Silvio)
- - -
A indagação faz parte de certos devaneios de alguns pensadores que entendem que romance só pode ser assim classificado se for obra ficcional.
Ora, se estivermos diante de uma história bem contada e redigida com elegância, que importa o rótulo? Literatura não se faz somente com ficção.
No tocante à literatura brasileira, quem poderia negar a imponência e a elegância de obras como Os Sertões, de Euclides da Cunha, e o não menos notável Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos? “Não se trata de romance” – alguém argumentará. Diremos, então: - Que importa?
Sobre o assunto, recebemos do escritor e médium Eurípedes Kühl, que é também colaborador de nossa revista, o texto abaixo transcrito: 

Curioso ante a sugestão para que os colaboradores da revista O Consolador e os editores espíritas comentassem a proposição do e-mail de Silvio Fonseca (Ilhéus/BA) contida no nº 423 da referida revista, datada de 19.Jul.15, abalanço-me a meter o bedelho na discutida questão, mesmo entre espíritas, se o romance espírita é ou não literatura.
Como faço parte da turma que como médium psicógrafo escreve livros espíritas e também romances, deixo aqui minha opinião sobre a instigante pergunta: Romance espírita é literatura?
Li as reflexões contidas no link http://literatortura.com, citado pelo leitor. Encontrei no referido link análise de Luiz Antônio Ribeiro sobre o romance espírita:
A literatura espírita não depende apenas do romance e da sua linguagem para a fruição: ela necessita, a priori, de fé. Caso você não acredite no dogma por trás dela, aquela história não fará sentido. Ela, obviamente, não é um inutensílio. Ela parte de pressupostos básicos: existe vida após a morte, existe reencarnação, existe carma e os mortos voltam para se comunicar com os vivos, inclusive através de médiuns. Assim, ela tem um objetivo claro que é, por trás da história, propagar e adaptar um conjunto de crenças religiosas e metafísicas dentro de uma narrativa ficcional. Os romances espíritas são, em geral, psicografados, relatados e contatos por um espírito para uma pessoa. Eis o maior ponto de fé e o que mais me coloca em confronto com o romance espírita. Afinal de contas, qual o interesse de um espírito em contar histórias ficcionais ou novelescas?
Quanto às reflexões exaradas no link, para um não espírita, são corretas. Porém, na minha opinião, incompletas: primeiro, porque demonstra desconhecimento do que leva o autor espiritual a repassar o texto; segundo, porque quem não milita na atividade literária espírita desconhece a(s) resultante(s) da leitura de um romance espírita.
De início, para responder sobre o ‘interesse de um espírito em contar histórias ficcionais ou novelescas’, passo a palavra para a inolvidável médium psicógrafa Yvonne do Amaral Pereira (1900-1984), dissertando no VI capítulo (Romances Mediúnicos) do seu livro “Devassando o Invisível”, 9ª Ed., 1994, FEB, Brasília/DF, e que ora sintetizo: 
(...) O móvel dos romances espíritas é a propaganda da Doutrina por meio suave e convidativo, tributando os Instrutores Espirituais grande apreço a essas obras, por julgá-las imensamente úteis em virtude dos exemplos vivos oferecidos aos leitores. Conquanto os Espíritos-Guias deem preferência à parte doutrinária, à moral elevada que vemos presidindo a tudo quanto a Revelação Espírita tem concedido generosamente aos homens, também observamos que jamais se descuram eles de embelezá-las com os traços vigorosos de uma Arte pura, elevada e, por assim dizer, celeste. 
E, para complementar a resposta, acrescento, de minha parte, o que observei nos meus longos anos de convivência com leitores, espíritas ou não, de livros espíritas em geral, e em particular, de romances:
- se adeptos ao Espiritismo, neles confirmam seu pensamento referente às vertentes expostas, geralmente com foco na evolução espiritual, através da pacificação alcançada nas multiplicadas existências terrenas (reencarnações), cujo objetivo principal é a evolução espiritual, e em paralelo, aparar arestas junto àqueles a quem tenham prejudicado em vidas passadas;
- quanto aos que eventualmente leem um ou mais livros ou romances espíritas, psicografados ou não, e nada sabem do Espiritismo, ou sabem pouco, ou ainda até mesmo os rechaçam, captando a lógica da argumentação sobre a Justiça Divina, transubstanciada na Lei de Ação e Reação, ou ‘choque de retorno’, passam a ter nova e instigante hipótese de trabalho mental, ao verem expostas nuances até então desconhecidas, justificando com irretorquível lógica a infalibilidade da Bondade de Deus;
- a razão passa a ser convidada a refletir e entender o porquê de tantas dificuldades da vida, dores, dramas, tragédias (pessoais ou coletivas), angústias, próprias ou de outrem, além de fatos do dia a dia considerados ‘injustiça divina’...
- dessa reflexão surge a resignação, como abençoado bálsamo para quaisquer dores, físicas ou morais, fruto da comparação da sua própria situação com a de um ou mais personagens da narrativa; é quando até mesmo nos leitores mais radicais eclipsa-se-lhes na razão, eventual niilismo nietzscheriano, então substituído no coração por amor e gratidão à Providência Divina.
Finalizando, declaro que sim: o romance espírita tem assento cativo na literatura!

                                              Eurípedes Kühl