Fraternos
companheiros:
Androlau Tadeu
era um homem bom.
Desde criança
aprendeu a humilde profissão de apanhar árvores e aparelhar toras, para serem
usadas em toscas embarcações de pesca que seu pai fabricava, com ajuda de um
seu vizinho, assim como ele, carpinteiro também.
Androlau
aprendeu bem essa profissão.
Quando cresceu
sucedeu a seu pai e ficou famoso, sendo paciente e bondoso ao ensinar a jovens
de sua cidade aquela mesma profissão.
Nunca havia
compreendido bem de que maneira aquela família sua vizinha viera ter à
cidade. Só sabia que o chefe da família,
com vários filhos, era amigo do seu pai.
Assim, os
filhos do vizinho eram bem tratados em sua casa, principalmente um jovem que
desde muito cedo, conquanto ajudasse o pai na carpintaria, demonstrava nos
atos, palavras e exemplos, inigualável
superioridade moral.
Androlau,
surpreso, viu esse jovem crescer e tornar-se, segundo sua ótica, desagregador
dos costumes religiosos. Isso despertava a fúria das autoridades governamentais
romanas, que determinaram aos seus militares que castigassem pública e
exemplarmente os então considerados arruaceiros, seguidores daquele jovem de
olhar incrivelmente brilhante e sereno.
Androlau, que
protegera muitos daqueles seguidores, os quais haviam crescido sob suas vistas,
arrumou suas coisas, reuniu a família e mudou-se para outra cidade, não muito
distante. Lá, na busca de milagres,
procurou desenvolver junto com outros estudiosos, condições anormais de
práticas espirituais, não ligadas a fórmulas, rituais e processos ocultos. Julgava-se a caminho da salvação eterna. Vez por outra ouvia dizer dos antigos
concidadãos, que segundo a voz popular, cada vez mais irritavam o governo, já
que promoviam curas e milagres...
Para ele, os
milagres não chegaram...
Alcançado por
inesperada crise, de homem abastado, bem posto profissionalmente, aos poucos
Androlau foi perdendo tudo: dinheiro, clientes, ânimo, família, a própria
crença. Só se reanimou quando recebeu
encomenda do poder oficial para construir algumas dezenas de cruzes, em madeira
forte. Construiu-as. Foram elas levadas para sua cidade natal.
Com as
finanças momentaneamente equilibradas, decidiu, mais a título de curiosidade do
que na verdade rever parentes, ir até as festividades da Páscoa, em Jerusalém.
Chegou alguns
dias antes e, perplexo, viu muitos dos seus conhecidos submetidos a julgamentos
severos, sendo que o líder, outro não era senão o jovem de olhar firme e
luminoso. Aquele ex-vizinho, após
processo público, fora condenado ao suplício da crucificação.
As cruzes que
Androlau fabricara serviram ao propósito da justiça romana...
Androlau,
atordoado, no passar dos anos, só se acalmou intimamente quando certa noite, na
véspera da sua desencarnação, teve um sonho maravilhoso: um anjo do Senhor lhe
disse, com efeito, que ele procurara distante a bênção que a Vida pusera ao seu
lado — o jovem vizinho —, cuja missão era ofertar exemplos de milagres que só o
Amor produz; mas que não desanimasse, já
que graças à imortalidade, provavelmente depois de mais de vinte séculos voltaria a ver, face a
face, aquele olhar, que nem todos os milênios do infinito conseguiriam apagar
da lembrança de quem os houvesse um dia visto...
(Texto do Espírito Nazaré, psicografia de E.Kühl, no seu livro "Âncoras de Luz", 2003, Editora LEB, Bagé/RS - edição esgotada, mas em e-book grátis, no seu blog).
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