REFORMA ÍNTIMA (Entrevista)
Respostas às questões formuladas por Camilla
(Mythos - Editora)
1. O que é a “reforma íntima”?
— A reforma íntima
pode ser definida como o esforço constante que o Espírito realiza para evoluir
moralmente. No plano terreno, onde certamente o mal predomina sobre o bem, esse
esforço compreende um inexorável comportamento, posto que todos os seres têm
destinação divina à felicidade, só alcançável com a ausência total de
imperfeições.
Allan Kardec definiu bem esse esforço,
em várias oportunidades. Vejamos duas, sendo que a primeira pode ser
considerada como a “lei áurea” da reforma íntima:
1ª - Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua
transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações
más.
(O Evangelho Segundo o
Espiritismo, Cap XVII, n° 4).
2ª - Esforçar-se por ser bom, por se tornar
melhor se já é bom, por purificar-se de suas imperfeições, por, numa palavra,
elevar-se moralmente o mais possível.
(Obras Póstumas, 1ª Parte, Item
VII, n° 58).
2. Por que e para que fazer essa transformação?
— Deus contemplou o
Espírito que ingressa no reino da razão com três ferramentas que o acompanharão
para a eternidade: a inteligência (contínua), a consciência e o livre-arbítrio.
De início “simples e ignorante”, o Espírito terá à sua disposição todos os
meios para evoluir. Ao que parece, a maioria logo se deixa contaminar pelas enganosas
atrações do menor esforço e dos prazeres imediatos. Quando os descaminhos se
acumulam, na interminável fieira de reencarnações, diz-nos Emmanuel[1]
que nossos milenares caminhos se tornam
empedrados. Aí, só os processos
educativos da vida poderão dar um jeito.
Vale lembrar que em
termos pedagógicos, a dor é sempre a melhor mestra...
Como a consciência
não se cala, o Espírito só encontrará a paz quando aplainar todas as arestas
acumuladas. Decorre disso que a autotransformação redunda em alijamento de
angústias ou dor, ao tempo que a paz interior irá se firmando.
3. Quando e onde começar a fazê-la?
— A reforma íntima
pode despertar voluntariamente ou sob o guante da dor. Em ambos os casos, o
Espírito não aceita mais continuar fazendo as mesmas coisas. Reconhece que deve
ou precisa mudar de atitudes. Então, a inteligência, de forma
consciente, faz a vontade entrar em
ação, com mudança comportamental nos seguintes ambientes:
a. de início, preponderantemente, no
lar, junto à família;
b. na profissão, perante chefes,
colegas, subordinados;
c. enfim, no seu meio social – com
vizinhos, amigos, conhecidos.
4. Passa-se por etapas para se fazer a reforma íntima?
— Ditado milenar
chinês lembra que “A caminhada de cem milhas inicia com um passo”. Acima, já
ouvimos Emmanuel nos dizer (e nós acreditamos como verdadeiro) que na longa
fieira das nossas reencarnações sedimentamos milenares desvios de conduta. Isto
posto, uma forma de realizar a auto-reforma, dentre inúmeras possíveis, poderá
ser, por exemplo:
a – Identificar o que é e o que não é desvio
b – Reconhecer que os pratica
c – Identificar situações em que isso
ocorre.
d – Eleger uma virtude, de cada
vez, para ser dinamizada, em contrafação ao desvio que maior número de vezes
estamos acostumados a trilhar
e – Trabalhar essa “eleição” e só
realizar outra quando a anterior prosperar.
— Como?
— Implantando um programa mental,
pré-estabelecido, para uso e ação instantâneos, tendo por base:
- Pensar antes de agir ou falar
- Perguntar: como Jesus agiria?
E aí, agir/falar o mais próximo à resposta...
- Sobreesforço
na realização desse programa.
5. A única forma de se iniciar um trabalho de transformação
íntima e espiritual é entrando em uma Escola de Aprendizes do Evangelho? Por
quê?
— A reforma íntima
não tem hora marcada para se instalar no Espírito e não depende de “manual” ou
“curso” para acontecer. Obviamente, em todas as religiões estão registradas
premissas indicativas de como o adepto poderá alcançar a felicidade e nenhuma delas
dispensa esforço individual. Mas, cedo ou tarde, mesmo fora das religiões,
todos os Espíritos propenderão a corrigir procedimentos, mudar tendências e assim
alcançarem um viver feliz.
Nós, espíritas, não
estaremos contemplando nossas sardinhas, mas na verdade, reconhecemos que a
Doutrina dos Espíritos tende a proporcionar segura orientação para um programa
de reforma íntima, com base nas lições do Mestre Jesus.
O Espiritismo, a
nosso ver, é a única religião que descerra a cortina da nossa existência
(passado, presente e futuro): com lógica, sobretudo com base da Lei Divina de
Justiça (ação e reação) dá-nos parâmetros para entendimento do nosso hoje, como sendo resultante do nosso ontem, ao tempo que projeta o amanhã, como sendo decorrência exatamente
do hoje.
6. O preceito cristão é que “amemos a Deus sobre todas
as coisas e ao próximo como a nós mesmos”. Isso pressupõe que devamos primeiro
nos amar para, em consequência, poder amar nosso próximo?
— Jesus
recomendou-nos (e como) a amar a Deus e ao próximo (Lucas 10:27).
Raciocinemos: nossa
integridade tem nuanças que obedecem ao instinto de conservação, na parte
física, mas o amor-próprio nem sempre é um bom conselheiro, eis que, via de
regra, contempla o egoísmo.
Ademais, podemos
inferir que toda vez que, sem expectativa de retribuição estivermos
amando a Deus ou ao próximo, estaremos sim nos amando, já que isso nos colocará
na condição de co-partícipes da obra divina, integralmente voltada para a
doação de Amor.
7. Como sabermos se estamos seguindo o caminho certo da
reforma íntima?
— Ouvindo a
consciência!
“A consciência[2] é
um registro da Direção Divina, impelindo-nos a regular os batimentos do coração
pelo ritmo da verdadeira fraternidade”.
RIBEIRÃO PRETO/SP –
07.Janeiro.2004
Eurípedes Kühl
[1]
Espírito EMMANUEL, in “Fonte Viva”,
psicografia de F.C.Xavier, Cap. 30, 28ª Ed., 2002, FEB, Brasilia/DF
[2] Diversos
Autores Espirituais, in “Seareiros de Volta”,
psicografia de W.Vieira, Cap. “Equação da Felicidade”, 5ªEd.,1993, FEB,
Brasília/DF
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