sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Entrevista - Reforma Íntima


REFORMA ÍNTIMA (Entrevista)

Respostas às questões formuladas por Camilla
(Mythos - Editora)

1. O que é a “reforma íntima”?
— A reforma íntima pode ser definida como o esforço constante que o Espírito realiza para evoluir moralmente. No plano terreno, onde certamente o mal predomina sobre o bem, esse esforço compreende um inexorável comportamento, posto que todos os seres têm destinação divina à felicidade, só alcançável com a ausência total de imperfeições.
        Allan Kardec definiu bem esse esforço, em várias oportunidades. Vejamos duas, sendo que a primeira pode ser considerada como a “lei áurea” da reforma íntima:
1ª - Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.
                 (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap XVII, n° 4).
2ª - Esforçar-se por ser bom, por se tornar melhor se já é bom, por purificar-se de suas imperfeições, por, numa palavra, elevar-se moralmente o mais possível.
                 (Obras Póstumas, 1ª Parte, Item VII, n° 58).

2. Por que e para que fazer essa transformação?
— Deus contemplou o Espírito que ingressa no reino da razão com três ferramentas que o acompanharão para a eternidade: a inteligência (contínua), a consciência e o livre-arbítrio. De início “simples e ignorante”, o Espírito terá à sua disposição todos os meios para evoluir. Ao que parece, a maioria logo se deixa contaminar pelas enganosas atrações do menor esforço e dos prazeres imediatos. Quando os descaminhos se acumulam, na interminável fieira de reencarnações, diz-nos Emmanuel[1] que nossos milenares caminhos se tornam empedrados. Aí, só os processos educativos da vida poderão dar um jeito.
Vale lembrar que em termos pedagógicos, a dor é sempre a melhor mestra...
Como a consciência não se cala, o Espírito só encontrará a paz quando aplainar todas as arestas acumuladas. Decorre disso que a autotransformação redunda em alijamento de angústias ou dor, ao tempo que a paz interior irá se firmando.

3. Quando e onde começar a fazê-la?
— A reforma íntima pode despertar voluntariamente ou sob o guante da dor. Em ambos os casos, o Espírito não aceita mais continuar fazendo as mesmas coisas. Reconhece que deve ou precisa mudar de atitudes. Então, a inteligência, de forma consciente, faz a vontade entrar em ação, com mudança comportamental nos seguintes ambientes:
        a. de início, preponderantemente, no lar, junto à família;
        b. na profissão, perante chefes, colegas, subordinados;
        c. enfim, no seu meio social – com vizinhos, amigos, conhecidos.

4. Passa-se por etapas para se fazer a reforma íntima?
— Ditado milenar chinês lembra que “A caminhada de cem milhas inicia com um passo”. Acima, já ouvimos Emmanuel nos dizer (e nós acreditamos como verdadeiro) que na longa fieira das nossas reencarnações sedimentamos milenares desvios de conduta. Isto posto, uma forma de realizar a auto-reforma, dentre inúmeras possíveis, poderá ser, por exemplo:
        a – Identificar o que é e o que não é desvio
        b – Reconhecer que os pratica
        c – Identificar situações em que isso ocorre.
        d – Eleger uma virtude, de cada vez, para ser dinamizada, em contrafação ao desvio que maior número de vezes estamos acostumados a trilhar
        e – Trabalhar essa “eleição” e só realizar outra quando a anterior prosperar.  
        — Como?
        — Implantando um programa mental, pré-estabelecido, para uso e ação instantâneos, tendo por base:
                 - Pensar antes de agir ou falar
                 - Perguntar: como Jesus agiria? E aí, agir/falar o mais próximo à resposta...
                 - Sobreesforço na realização desse programa.

5. A única forma de se iniciar um trabalho de transformação íntima e espiritual é entrando em uma Escola de Aprendizes do Evangelho? Por quê?
— A reforma íntima não tem hora marcada para se instalar no Espírito e não depende de “manual” ou “curso” para acontecer. Obviamente, em todas as religiões estão registradas premissas indicativas de como o adepto poderá alcançar a felicidade e nenhuma delas dispensa esforço individual. Mas, cedo ou tarde, mesmo fora das religiões, todos os Espíritos propenderão a corrigir procedimentos, mudar tendências e assim alcançarem um viver feliz.
Nós, espíritas, não estaremos contemplando nossas sardinhas, mas na verdade, reconhecemos que a Doutrina dos Espíritos tende a proporcionar segura orientação para um programa de reforma íntima, com base nas lições do Mestre Jesus.
O Espiritismo, a nosso ver, é a única religião que descerra a cortina da nossa existência (passado, presente e futuro): com lógica, sobretudo com base da Lei Divina de Justiça (ação e reação) dá-nos parâmetros para entendimento do nosso hoje, como sendo resultante do nosso ontem, ao tempo que projeta o amanhã, como sendo decorrência exatamente do hoje.

6. O preceito cristão é que “amemos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”. Isso pressupõe que devamos primeiro nos amar para, em consequência, poder amar nosso próximo?
— Jesus recomendou-nos (e como) a amar a Deus e ao próximo (Lucas 10:27).
Raciocinemos: nossa integridade tem nuanças que obedecem ao instinto de conservação, na parte física, mas o amor-próprio nem sempre é um bom conselheiro, eis que, via de regra, contempla o egoísmo.
Ademais, podemos inferir que toda vez que, sem expectativa de retribuição estivermos amando a Deus ou ao próximo, estaremos sim nos amando, já que isso nos colocará na condição de co-partícipes da obra divina, integralmente voltada para a doação de Amor.

7. Como sabermos se estamos seguindo o caminho certo da reforma íntima?
— Ouvindo a consciência!
“A consciência[2] é um registro da Direção Divina, impelindo-nos a regular os batimentos do coração pelo ritmo da verdadeira fraternidade”.

                         RIBEIRÃO PRETO/SP – 07.Janeiro.2004
                                  Eurípedes Kühl





[1] Espírito EMMANUEL, in “Fonte Viva”, psicografia de F.C.Xavier, Cap. 30, 28ª Ed., 2002, FEB, Brasilia/DF

[2] Diversos Autores Espirituais, in “Seareiros de Volta”, psicografia de W.Vieira, Cap. “Equação da Felicidade”, 5ªEd.,1993, FEB, Brasília/DF

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