VAQUEJADA
(*) Inserções em azul,
face decisão do STF em 06.Outubro.2016
A
vaquejada é considerada atividade recreativa-competitiva com
características de esporte do Nordeste brasileiro1, no
qual dois vaqueiros a cavalo têm de alinhar o animal (boi) até
emparelhá-lo entre os cavalos e conduzi-lo ao objetivo (duas últimas
faixas de cal do parque de vaquejada), onde o animal deve ser
derrubado. Muito popular na segunda metade do século XX, passou a ser
questionada a partir da década de 2010 por ativistas
dos direitos dos animais em virtude dos maus tratos aos bois, que
muitas vezes têm o rabo arrancado ou sofrem fraturas na queda2.
1 –
Feitosa 1988, P. 81
2
- Gama, Aliny (janeiro 2015). Paraíba reconhece vaquejada como
esporte e é alvo de críticas.
(Notas da Wikipédia, a enciclopédia
livre da internet)
Detalhes:
-
o boi, antes enclausurado, dispara pela pista;
-
sob gritos da plateia, os dois vaqueiros a cavalo emparelham o animal (o boi);
-
a seguir os vaqueiros agarram o boi pela cauda e o puxam com força;
-
o objetivo é derrubar o animal, dentro dos limites de uma demarcação a cal,
puxando-o pelo rabo;
-
vence a dupla que realizar a proeza em menor tempo.
A
vaquejada também pode ser praticada apenas por um vaqueiro, geralmente derrubando
um novilho e laçando suas patas traseiras. Nesse caso os pontos são obtidos em
função do tempo gasto desde a perseguição até a laçada final.
Motivação
Vaquejadas
viram mega eventos e atraem jovens competidores com prêmios de até R$ 100 mil.
As
vaquejadas modernas se tornaram um negócio.
Em
2013, movimentaram cerca de 50 milhões de reais por ano, entre premiações,
espetáculos e publicidade e envolviam 1.500 empregados diretos e 5 mil
indiretos.
Cada
evento de vaquejada tem um investimento médio de 800 mil reais e um vaqueiro
iniciante investe cerca de 10 mil reais para começar no ramo3.
3
- Notas da Wikipédia/internet livre.
Apenas
no Nordeste são cerca de 4.000 (quatro mil) provas por ano, segundo a ABVAQ
(Associação Brasileira de Vaquejadas).
Só
Pernambuco e Ceará têm mais de 700 (setecentas) provas cada um, com prêmios de
até R$300.000,00 (trezentos mil reais).
(Jornal Folha
de S.Paulo, 05.Fev.16, “Cotidiano”, B6)
(*) A vaquejada é uma tradição em muitos estados do Nordeste e
chega a reunir 60 mil pessoas por dia de prova.
Defensores dos
animais
Para
as entidades defensoras dos animais eles são agredidos antes das provas,
atirados de forma brusca no chão e podem sofrer estresse, hemorragia, fratura e
até serem sacrificados.
A
ninguém escapa a realidade: o boi não corre à toa... Corre ante a perseguição,
com medo da queda brutal.
Após
ser levado à força a participar da vaquejada, nunca mais o animal será o mesmo,
tornando-se desconfiado e eventualmente, como defesa natural, arredio e
até mesmo agressivo. Até porque, não é difícil deduzir que quando um boi é
levado à vaquejada, com público assistente, essa não terá sido a primeira vez.
Sem treinamento, como os peões conseguiriam realizar as suas “proezas”?...
(*) Eles (os bois) levam choque elétrico para poder ir para a frente.
Eles têm os chifres cortados para poder não furar os cavalos. Não se pode
chamar isso de cultura nem de esporte, porque é uma crueldade, disse Geuza
Leitão, da União Internacional Protetora dos Animais.
Ações na Justiça
Realizadas
em todo o país as vaquejadas viraram alvo de ações por todo o país, como por
exemplo no Ceará, que foram parar no Supremo Tribunal Federal (STF), após o
procurador-geral da República entrar com ação de inconstitucionalidade contra
lei estadual de 2013 que trata a modalidade como prática cultural e esportiva.
O procurador registra que a vaquejada é explorada financeiramente como esporte
e que laudos atestam danos aos animais.
O
STF terá que decidir entre a preservação de direitos culturais e a proteção ao
meio ambiente (artigos 215 e 225, da Constituição, respectivamente). O
procurador-geral sustenta que o conflito das normas constitucionais se resolve
em favor do meio ambiente. Para o Ministro relator da ação, que concorda com o
procurador-geral, há crueldade nas provas.
(Jornal Folha
de S.Paulo, já citado)
Além
do Ceará, ações na Justiça foram impetradas em outras regiões, principalmente a
partir de 2015, resultando em provas vetadas, acordos de proteção foram
selados, fundo de defesa dos bichos foi instituído, além de fiscalização
sanitária das provas.
Pesquisador
de culturas populares do Instituto de Artes da UNESP disse que é preciso
reflexão para evitar maus-tratos: “Enfrentar um animal para mostrar bravura é
um acirramento da selvageria típica do homem. Indígenas também matam animais,
mas só para sobrevivência”.
(Jornal Folha
de S.Paulo, já citado)
(*) Decisão
do Supremo Tribunal Federal (STF) – 06.Out.2016
(*) O Supremo Tribunal Federal (STF)
decidiu em sessão plenária nesta quinta-feira (6), que a lei cearense que
regulamenta a realização de vaquejadas é inconstitucional. A lei 15.299/2013,
que regulamenta a vaquejada como “prática desportiva e cultural no estado”, foi
alvo de Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin). O relator, ministro Marco
Aurélio Mello, considerou haver “crueldade intrínseca” contra os animais
utilizados nesse tipo de evento.
Ele citou laudos técnicos que apontam
consequências danosas sofridas pelos animais como fraturas nas patas e rabo,
ruptura de ligamentos e vasos sanguíneos, eventual arrancamento do rabo e
comprometimento da medula óssea. Os cavalos usados pelos vaqueiros também
sofrem lesões.
Com a decisão do
Supremo Tribunal Federal, a vaquejada passa a ser ilegal no Ceará. A decisão
abre caminho para que a atividade também chegue ao fim no restante do país.
O principal argumento
dos ministros do STF é que a vaquejada é uma prática cruel para os animais.
Para o Ministério
Público Federal no Ceará, que deu início à ação, o desafio agora é impedir que
as vaquejadas aconteçam de forma clandestina.
A partir de agora, qualquer vaquejada é crime ambiental, e o
aparato policial deve reprimir essa conduta, inclusive com prisões em flagrante, explicou o
procurador da República Alessander Sales.
O principal argumento dos ministros do STF é que a vaquejada é uma prática cruel para os animais. (Grifei)
(*) A inconstitucionalidade da
vaquejada contou com o voto decisivo da presidente do STF, Cármen Lúcia, que
declarou:
Sempre haverá os que defendem que (a prática) vem de longo tempo, se
encravou na cultura do nosso povo. Mas cultura se muda e muitas foram levadas
nessa condição até que se houvesse outro modo de ver a vida, não somente ao ser
humano.
(Jornal O Estado de S.Paulo,
06.Out.16)
Defesa dos
organizadores
A
ABVAQ, por seu vice, rebate as críticas informando que as provas já são
monitoradas por juízes de bem-estar, normalmente veterinários, que
vistoriam currais e animais do evento. (Grifei)
Obs:
“juízes de bem-estar”... (bem-estar de quem?...)
Danos causados
Segundo
a APIPA (Associação Piauiense de Proteção e Amor aos Animais), ONG protetora
dos animais sediada em Teresina – Piauí, há casos de boi espetado antes da
prova e perder a cauda no puxão do vaqueiro.
(Repetindo trecho logo do início deste texto: “em virtude dos maus tratos aos
bois, que muitas vezes têm o rabo arrancado ou sofrem fraturas na queda”).
Acontece que o rabo do boi é prolongamento da coluna cervical e é fundamental
para sua vida: proporciona equilíbrio, estabilidade quando se desloca mais
rápido, ou em manobras de velocidade, em escaladas e para espantar “hóspedes”
(moscas e outros) indesejados e até como auxílio para nadar.
-
Em Ago.2011, na Festa do Peão de Boiadeiro, em Barretos/SP, foi necessário
sacrificar um novilho gravemente machucado após ter sido golpeado brutalmente
por um peão, na prova denominada “bulldog”, que seria uma variante (importada
dos EUA) da vaquejada. Nessa modalidade o peão tem que derrubar e imobilizar
o indefeso animal, que tem o pescoço torcido, apenas com a força dos braços do
peão.
Muitos
animais não aguentam o sofrimento e acabam morrendo. Foi o que aconteceu
no caso citado acima: o novilho teve uma lesão cervical.
Nota:
Os organizadores da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos comunicaram a
suspensão da modalidade bulldog para o rodeio do ano seguinte (2012).
- Em
Alagoas, um vaqueiro morreu em abril/2015, ao cair do cavalo.
-
Um empresário morreu após o animal em que ele estava ter caído por cima dele
durante uma disputa de vaquejada realizada no Parque Padre Cícero em Delmiro
Gouveia. De acordo com testemunhas, o vaqueiro estaria com o seu irmão como
parceiro de disputa para derrubar o boi, quando de forma
desconhecida teria caído junto com animal na pista. Com o impacto a
cela bateu em sua cabeça e a égua ficou por cima dele.
-
Na zona rural da Paraíba, em Jul.2015, uma dupla de vaqueiros estava
correndo em uma pista de vaquejada, quando um dos cavaleiros segurou no arame
da cerca energizada que fica na lateral da pista. Na ocasião o animal e o homem
receberam uma forte descarga elétrica. Algumas pessoas que estavam assistindo a
corrida retiraram o homem que estava pregado na cerca e após alguns minutos se
debatendo no chão, o mesmo foi levado para uma unidade hospitalar e sobreviveu.
Já o cavalo não teve a mesma sorte, acabou morrendo minutos depois do choque
elétrico.
(Notas
da Wikipédia/internet e do jornal Folha de S.Paulo, já citado)
Conclusão
Não
padece qualquer dúvida de que a vaquejada pode ser muito alegre e festiva para
os assistentes; rentável para os organizadores; premiadora para os
competidores.
Contudo,
registro apenas duas perguntas que não querem calar:
—
Submeter um animal dócil por natureza a tamanho estresse, absolutamente
incompatível com seu modo de vida, é admissível num povo que se diga
civilizado?
— Essa é a gratidão
dos que praticam tal barbaridade para com a espécie animal que acompanha o
homem desde os primórdios de vida na Terra, sempre se doando por inteiro, do
nascimento à morte?...
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