A VOZ DO MAR
(Sugestões do crepúsculo - I)
Ao pôr do sol, pela tristeza
Da meia luz crepuscular,
Tem a toada de uma reza
A voz do mar.
Aumenta, alastra e desce pelas
Rampas dos morros, pouco a pouco,
O êrmo de sombra, vago e ôco,
Do céu sem sol e sem estrelas.
Tudo amortece; a tudo invade
Uma fadiga, um desconfôrto...
Como a infeliz serenidade
Do embaciado olhar de um morto.
Domada então por um instante
Da singular melancolia
De em tôrno — apenas balbucia
A voz piedosa do gigante.
Tôda se abranda a vaga hirsuta,
Tôda se humilha, a murmurar...
Que pede ao céu que não a escuta
A voz do mar?
(Do livro "Poemas e Canções", Vicente de Carvalho, cap.Sugestões do crepúsculo, 17ªEd.1965, Edição Saraiva, SP/SP) - Transcrição na ortografia do original
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