segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Estudo - O Segundo Advento do Cristo


O SEGUNDO ADVENTO DO CRISTO

A propósito do segundo advento do Cristo, Allan Kardec, em “A Gênese”[1], destaca inicialmente dois trechos do Evangelho:
1º - Em Mateus, cap. XVI, vv. 24 a 28:
 Disse então Jesus a seus discípulos: Se algum quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me; - porquanto, aquele que quiser salvar a vida a perderá e aquele que perder a vida por amor de mim a encontrará de novo. (...) – Pois o Filho do homem deve vir na glória de seu Pai, com seus anjos, e então dará a cada um segundo suas obras. Digo-vos, em verdade, que alguns daqueles que aqui se encontram não sofrerão a morte, sem que tenham visto vir o Filho do homem no seu reino.
2º - Em Marcos, cap. XIV, vv. 61 e 62:
 (...) O sumo sacerdote ainda o interrompeu e lhe disse: Sois vós o Cristo, o filho de Deus abençoado para sempre?
Jesus lhe respondeu: Eu sou, e vereis um dia o Filho do homem sentado à direita da majestade de Deus, vindo sobre as nuvens do céu.
Desses dois trechos Kardec considera:
Jesus anuncia o seu segundo advento, mas não diz que voltará à Terra com corpo carnal, nem que personificará o Consolador. Apresenta-se como tendo de vir em Espírito, na glória de seu Pai, a julgar o mérito e o demérito e dar a cada um segundo as suas obras, quando os tempos forem chegados.

Considerando que nos alvores do terceiro milênio muitos são os cristãos que estabelecem interpretação equivocada de alguns trechos evangélicos, e em particular dos acima transcritos, com humildade e prudência apresento reflexões encontradas no Espiritismo, que talvez venham a dissipar quaisquer névoas sobre o seu entendimento.
Os trechos citados formam um grande painel, cuja síntese espírita, sempre concorde com Kardec, pode ser a seguinte:
a. A vida imortal é a do Espírito — a física, efêmera. Convém, pois que cuidemos da primeira, com desprendimento da segunda (a material);
b. Jesus vir com anjos para dar reconhecimento (méritos) subentende a aplicação, pelo Plano Espiritual, da Lei Divina de Justiça, que terá repercussão na Terra, onde atualmente vivem os bons junto com os maus; tal aplicação terá por objetivo separá-los, de forma que:
        - os bons (por seus créditos de virtudes) receberão passaporte para permanecerem na Terra, então regenerada (planeta de regeneração é aquele onde o bem supera ao mal);
        - os maus terão emigrado compulsoriamente para mundos mais atrasados do que este, onde levarão progresso, ao tempo que se redimirão;
c. Uma segunda vinda de Jesus nos remete inicialmente a três reflexões:
1ª - um segundo advento do Cristo pode perfeitamente ocorrer. Ele o afirmou categoricamente. Assim, o que impediria tal ocorrência?
        2ª - Mas, para os não cristãos, Jesus não seria o “Cristo” (Ungido de Deus, o Messias) o qual, nem sequer teria vindo uma primeira vez. Assim, no atual patamar religioso terreno, uma eventual volta de Jesus, como da primeira vez, pelo menos para muitos, provavelmente não o fará ser considerado o Messias. Como vemos, aqui há um embate de credos...
        3ª - Para a maioria dos cristãos (espíritas, em particular), Jesus não retornará porque... jamais nos deixou, ou deixaria. Apoiam-se na afirmação do próprio Cristo: “Eis que estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo” (Mateus 28:20).
De minha parte, excluindo a 2ª reflexão, as 1ª e 3ª conciliam-se e tanto uma quanto a outra são viáveis. Ademais, essa questão da “volta de Jesus” deve ser encarada com muita prudência. Para começar, três dias após a crucificação Ele esteve com os Apóstolos, a partir da Estrada de Emaús (Lucas, cap. 24).

Além das considerações de Kardec, que sintetizei acima, colhi as de outros quatro espíritas, todas bem econômicas, demonstrando que o tema não se presta a grandes dissertações...
Ei-las:
        1ª - Em “Sessões Práticas e Doutrinárias do Espiritismo”, de Aurélio A.Valente, cap. IX, p. 204 e 205, Ed. 1937, FEB, RJ/RJ:
“Jesus descerá em toda a sua glória, dirigindo a falange dos Espíritos eleitos do Senhor. De acordo com as escrituras, Ele veio entre os hebreus restabelecer o reino de Deus, mas não foi reconhecido porque eles esperavam o reinado dos homens”;
        2ª - Em “Allan Kardec”, de Z.Wantuil e F.Thiesen, Vol. III, p. 85, 2ª Ed., 1982, FEB, RJ/RJ:
“(...) a vinda de Jesus, anunciada no Evangelho, processar-se-á, no porvir, quando necessária, no tempo certo, que não sabemos avaliar”;
3ª - Em “Jesus – nem Deus, nem homem”, de Guillon Ribeiro, p. 14, 3ª Ed., 1990, FEB, RJ/RJ:
“Esse segundo advento (de Jesus) se dará quando o mesmo Jesus, como Espírito da Verdade, vier em todo o seu fulgor espírita ao planeta terreno purificado e transformado, na qualidade de seu soberano, visível para as criaturas também purificadas e transformadas, mostrar a verdade sem véu”;
        4ª - Em “Quando voltar a primavera”, de Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo P.Franco, p. 13, 6ª Ed., 1997, LEAL, Salvador/BA:
“Jesus prossegue sendo a eterna Primavera por que todos anelamos. Esperar a Sua volta é a ambição que devemos, no momento, acalentar, preparando a Terra desde então para esse momento de vida, beleza e abundância...”.

Dentro do tema, Kardec, ainda em “A Gênese”, registra[2]:
Ora, quando o Filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, assentar-se-á no trono de sua glória; e, reunidas à sua frente todas as nações, ele separará uns dos outros, como um pastor separa dos bodes as ovelhas, e colocará à sua direita as ovelhas e à sua esquerda os bodes. (Mateus, cap. XXV, vers. de 31 a 33).
Inúmeras são as reflexões de incontáveis autores espíritas sobre o Juízo Final, máxime sobre essa afirmação evangélica que preconiza a separação de bodes para um lado e ovelhas para outro: em análise objetiva, tais palavras expressam o reconhecimento dos méritos de cada Espírito terreno, encarnado ou desencarnado — aos bons, a Terra regenerada, e aos maus, expurgo daqui, com passaporte e emigração compulsória para mundos primitivos ou mesmo de “provas e expiações”, que os há aos milhões, no Universo.
Destarte, para mim e creio que para os demais espíritas, o “Juízo Final” simboliza a regeneração planetária, pelo que nem “Final”, nem coletivo, mas sim, individual, nem tal julgamento acontecerá num exato momento para todos: na opinião de vários Espíritos, Kardec inclusive[3], ele (Juízo Final) já começou há tempos e nisso, aliás, como desde sempre, quem define com infalível acerto as coisas é a consciência de cada um, ditando-lhe seu destino. Àqueles que tenham anestesiada a consciência, a infalibilidade das Leis Divinas, em particular a de Justiça, aplica-se automaticamente, no dizer magnânimo de Jesus, que repito: a cada um, segundo suas obras.

Mas, ainda refletindo sobre eventual volta de Jesus há uma penosa realidade (pelo menos nos tempos de hoje) para os cristãos: Ele não é nem nunca foi unanimidade terrena.
Senão, vejamos:
- à época de Jesus na Terra, a população mundial, segundo estimativa de alguns demógrafos, oscilava de 170 a 250 milhões de habitantes; fico na média;
- somente uma minoria, durante séculos adiante, aceitaram-nO como o Mestre dos mestres;
- até hoje, não aceitar o Cristo como o Messias, de forma alguma exclui alguém de proceder fraternalmente, de “ser do bem”. Não! Ser bom jamais foi apanágio apenas dos seguidores de qualquer credo ou religião, ou mesmo de eventuais ateus. Obviamente que seguir os ensinamentos de Jesus é a melhor de todas as maneiras possíveis para o Espírito evoluir;
- no livro “Roteiro”, cap. 9 “O grande educandário”, Ed. de 1952, da FEB, RJ/RJ, pela psicografia de F.C.Xavier, o Espírito Emmanuel informava que para os dois bilhões de Espíritos então encarnados havia vinte bilhões desencarnados (2:20);
- no “Anuário Espírita de 1964”, Ed. do I.D.E., Araras/SP, em entrevista e pela psicografia de F.C.Xavier, o Espírito André Luiz informava que para os três bilhões de Espíritos encarnados havia “para mais de vinte bilhões desencarnados” (3:21);
- assim, na primeira citação (de Emmanuel), tem-se que para um encarnado havia dez desencarnados (1:10), e na segunda (de André Luiz), a proporção era de um para sete (1:7).

Atualmente (2015), mais de sete bilhões de pessoas habitam a Terra[4].
O expressivo aumento de habitantes da Terra, do tempo de Jesus entre nós ao século XX, parece sinalizar que o planeta Terra é destino de grande número de Espíritos alienígenas — essa é apenas uma conjetura, que como tal, não passa de opinião pessoal...
— Quantos desencarnados ao tempo de Jesus e atualmente?
Imaginar qual o número de desencarnados ao tempo de Jesus (± 210 milhões de encarnados) é número que fica difícil de ajuizar, para não dizer impossível. Atualmente, da minha parte não tenho notícia de que tenha havido informação “atualizando” as de Emmanuel e André Luiz, já citadas.
— E, dos desencarnados, hoje, quantos seriam cristãos?
Resposta igualmente difícil, absolutamente inviável.
Opino que saber o número de desencarnados cristãos, nestas reflexões, seria um dado complementar, apenas para estimar se alguns Espíritos não tiveram ainda algum contato com Jesus, desde que o Mestre esteve entre nós, há cerca de dois mil anos. Com essa resposta, poderia aventar para quantos um eventual retorno de Jesus seria repetição para uns e primeira vez, para outros.
        Reflito também na pungente realidade atual: segundo o “Almanaque ABRIL-Sociedade” de 2015, Editora Abril, SP/SP, p. 142, em 2014 havia cerca de dois bilhões e quatrocentos milhões de cristãos no mundo. Ora, dedutivamente, quatro bilhões e seiscentos milhões de encarnados não O têm como referencial de Messias, Cristo ou “Salvador” (7 – 2,4 = 4,6).
        Triste Humanidade...
Imagino que só quando houver merecimento terreno ocorrerá um novo estágio de Jesus entre nós.
Então, esse eventual quanto abençoado advento, com os fantásticos meios de divulgação já existentes, com certeza catalisará a atenção mundial, incentivando sublime e expressiva melhoria moral da Humanidade, com isso arrimando a regeneração deste planeta!

Ribeirão Preto/SP
Eurípedes Kühl




[1] “A Gênese”, de Allan Kardec, Cap XVII,  nº 43 e 44, p. 389 da 35ª Ed., 1992, FEB, Rio/RJ
[2] “A Gênese”, de Allan Kardec, cap. XVII, “Juízo final”, nº 62, p. 397 da 35ª Ed., 1992, FEB, Rio/RJ
[3] “A Gênese”, de Allan Kardec, cap. XVIII, “São chegados os tempos”, 35ªEd., 1992, FEB, Rio/RJ.
[4] Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), publicadas em 2014 na mídia internacional, a população mundial atingiu a marca de 7 bilhões de pessoas em Outubro/2011.

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